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Para IPCC, planeta nunca esteve pior

OESP, Metrópole, p. A16
27 de Set de 2013

Para IPCC, planeta nunca esteve pior
Painel do Clima apresenta relatório hoje em que indica avanço cada vez maior de gases de efeito estufa; temperatura pode subir até 6"C

Andrei Netto,
Enviado Especial a ESTOCOLMO - O Estado de S.Paulo

Depois de seis anos de trabalhos, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, a maior autoridade em aquecimento global do mundo, lança hoje seu novo relatório-síntese sobre o estado do planeta. As constatações são drásticas: a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, gás oriundo da queima de combustíveis fósseis e o mais nocivo ao ambiente, cresceu 40% desde 1750 e continua a se acumular.

Com isso, a temperatura na Terra já subiu 0,89oC entre 1901 e 2012 e vai se elevar entre 1,5oC, no melhor cenário, e 6oC no pior até o fim do século. E isso é só o começo.

Embora cientistas e delegados governamentais tenham invadido a madrugada de ontem em discussões sobre a terminologia do documento - até as 18 horas, apenas 70% do texto havia sido aprovado, após quatro dias do trabalho -, dados do relatório do IPCC já são conhecidos por fazerem parte dos mais importantes estudos científicos dos últimos seis anos. Por isso, o novo relatório, que será anunciado às 10h de hoje em Estocolmo (5h de Brasília), é visto como o melhor inventário sobre o estado do planeta já realizado pelo homem.

Pelos cálculos do IPCC, a concentração de CO2 na atmosfera vem se intensificando - subiu 20% entre 1750 e 1958 e chegou a 40% agora. O resultado imediato é o agravamento do efeito estufa, que provoca o aquecimento da Terra. "Cada uma das últimas três décadas foi mais quente que todas as décadas precedentes desde 1850, e a primeira década do século 21 foi a mais quente", advertirá o relatório. Entre 2016 e 2035, o planeta deve aquecer entre 0,3oC e 0,7oC.

Antropogênica. A conclusão mais importante de todas as trazidas pelo relatório não é nova, mas é cada vez mais certa. Com 95% de certeza, os cientistas indicam a ação do homem - "antropogênica" - como a maior causa do aquecimento global. Há seis anos, essa certeza era de 90%, e em 2001, de 66%.

Por apresentar uma síntese de dados tão densa e consensual, o IPCC - prêmio Nobel da Paz de 2007 - virou referência mundial. O sumário de hoje, de 31 páginas, escrito por 209 autores-líderes e 50 editores de 39 países, toma por base outro relatório, de 2 mil páginas, a ser publicado na segunda-feira.

Mesmo tendo sido alvo de ondas de críticas a partir de 2009, por erros pontuais em estudos, o relatório é considerado pelos próprios delegados governamentais como "extremamente influente", devendo nortear as negociações diplomáticas entre a Conferência do Clima de Varsóvia (COP 19), em novembro, e a de Paris (COP 21), em 2015, quando líderes políticos tentarão fechar um novo acordo. "Eu espero que as descobertas do IPCC sejam um novo toque de clarim para a ação", reiterou ontem Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção do Clima da ONU.

A mesma expectativa também é manifestada pela sociedade civil e por organizações não governamentais. Para Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas da WWF Brasil, a publicação do relatório abre um novo ciclo de pressões políticas. "O IPCC é formado por governos. Portanto, eles têm a responsabilidade de tomar as decisões."

Proteger cidades litorâneas deve custar US$ 1 trilhão
Estudo da revista Nature indica que pelo menos 136 metrópoles costeiras correm risco de inundações

Com temperaturas mais elevadas, o derretimento de geleiras nunca foi tão intenso. Entre 1979 e 2012, o Ártico perdeu entre 3,5% e 4,1% de sua área a cada década. Na Antártida, no entanto, ocorreu um aumento de 1,2% a 1,8% por década no mesmo período. As projeções indicam que em 2100, entre 15% e 85% das geleiras e extensões de neve da Terra terão desaparecido, considerados o melhor e o pior cenários.

Se o planeta aquece e parte das geleiras desaparece, maior se torna o nível dos oceanos. Entre 1901 e 2010 eles já subiram 19 centímetros e a previsão é de que aumentem pelo menos mais 26 centímetros até 2100.

O relatório do IPCC não diz isso - os impactos do aquecimento global serão discutidos em abril de 2014, no Japão -, mas um estudo científico recente publicado na revista Nature Climate Change indica que pelo menos 136 metrópoles costeiras com mais de 1 milhão de habitantes, como o Rio, correm risco de inundações. O custo para protegê-las, diz a pesquisa, é estimado em US$ 1 trilhão.

OESP, 27/09/2013, Metrópole, p. A16

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