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Para gerador, estoque de energia encolheu

FSP, Mercado, p. B5
17 de Out de 2010

Para gerador, estoque de energia encolheu
Associação de geradoras diz que, devido à demanda, água armazenada é suficiente para apenas quatro meses
Acordo entre setores elétrico e ambiental reduziu reservatórios e aumentou dependência por termelétricas

A principal vantagem dos grandes reservatórios de água é permitir que o sistema elétrico nacional seja abastecido de energia mesmo em períodos de escassez de chuvas. Mas a capacidade tem diminuído em relação à demanda.
Há dez anos, a água armazenada nos reservatórios existentes era suficiente para atender a dez meses de geração de energia (se apenas usinas hidrelétricas funcionassem).
"Atualmente, com o atual nível de demanda, essa capacidade garante suprimento para apenas quatro meses. Isso mostra a degradação do estoque de energia", diz Flávio Neiva, presidente da Abrage (Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica).
Mário Veiga, presidente da Consultoria PSR, diz que os lagos formados pelos reservatórios funcionam como uma "caderneta de poupança". Para ele, o debate sobre os grandes reservatórios perdeu a racionalidade, já que eles viraram tabu.
Da forma como ficou, a reserva brasileira deixou de ser a água e passou a ser as térmicas a gás, de custo elevado e com grandes emissões de CO22.
De acordo com Veiga, em 15 anos a participação das termelétricas passará de 25% para 35%.
Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), diz que as variáveis ambientais vieram para ficar, apesar de reconhecer que o país está perdendo capacidade instalada com o atual acordo que vigora entre o setor elétrico e o ambiental.
"Não adianta a gente ficar reclamando. Temos de achar mecanismos de convivência com essa situação."

Usinas gigantes são passado, afirma ambientalista

As grandes hidrelétricas fazem parte do passado na história da infraestrutura no Brasil. Para Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF Brasil, a redução do tamanho dos projetos hidrelétricos ainda é uma concessão modesta para minimizar os impactos de hidrelétricas na Amazônia.
"Quando se fala de hidrelétricas na região amazônica, seria bom saber se o plano é barrar todos os rios amazônicos. Hoje, o que se discute é o projeto de Belo Monte, de Jirau, não se discute a Amazônia como um todo."
Rittl afirma que não faz sentido o país retomar a discussão das grandes hidrelétricas, mas sim se debruçar sobre como aproveitar melhor as fontes de energia disponíveis, com programas mais efetivos de eficiência energética, e aproveitar o potencial de energias alternativas, como a eólica.
"A discussão das grandes usinas atende ao interesse de grandes grupos construtores, que poderão gerar muitos recursos."
"O importante para o país é investir em eficiência energética e avançar com a geração eólica, cujo aproveitamento ainda não alcança sequer 1% do potencial", afirma Rittl.
Segundo ele, o país detém potencial eólico de 140 mil MW. Isso é maior do que todo o parque de geração instalado hoje no país, da ordem de 107 mil MW.
Esse tema foi ignorado na campanha eleitoral, embora a candidata do PV, Marina Silva, tenha, em alguns momentos, feito críticas ao modelo atual de expansão do setor elétrico brasileiro, principalmente em relação a projetos como Belo Monte.

FSP, 17/10/2010, Mercado, p. B5

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1710201003.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1710201004.htm

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