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Para CPI, intervenção evitaria chacina

FSP, Brasil, p.A8
13 de Abr de 2004

Para CPI, intervenção evitaria chacina
Pedido foi feito em ofício de dezembro ao ministro da Justiça

RUBENS VALENTE, DA REPORTAGEM LOCAL

A CPI do Garimpo, criada em 2003 pela Assembléia Legislativa de Rondônia para investigar as mortes e o garimpo clandestino na terra indígena Roosevelt, em Espigão d'Oeste (RO), pediu em dezembro último, por meio de ofício entregue nas mãos do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), uma "intervenção federal" para impedir novas mortes.A CPI queria a presença do Exército na região, mas as tropas nunca foram deslocadas. Na última quarta-feira, cerca de 30 índios da etnia cinta-larga atacaram um grupo de garimpeiros e deixou pelo menos três deles mortos. Vinte estão desaparecidos, de acordo com os garimpeiros."[...] Nos dirigimos a Vossa Excelência para requerer a intervenção federal, inclusive com a presença do Exército, para garantir a paz na região, impedindo mais mortes e a extração ilegal de diamantes", afirmou o ofício, que também antecipou: "Se o Exército não for deslocado para a região, com certeza haverá muito mais mortes, daí o nosso apelo".O presidente da CPI, Haroldo Santos (PP-RO), disse que o governo prometeu agir, mas nada foi feito. Ontem, ele voltou a pedir uma ação do Exército.No ofício de dezembro, a CPI relata o quadro grave de insegurança na região e diz que isso só seria superado se houvesse a "intervenção": "Intervenção, aliás, senhor ministro, que solicitamos a Vossa Excelência com o objetivo principal, e urgente, de salvar vidas num momento no qual o conflito naquela área toma proporções alarmantes, não se sabendo quantos foram mortos e quantos podem ainda ser eliminados".A assessoria do Ministério da Justiça disse que o pedido da CPI está sob análise desde dezembro, porque "é complexo e envolve vários órgãos e instituições".Ontem, o médico Nehil Lisboa Filho concluiu os exames nos três corpos encontrados na reserva e trazidos a Ji-Paraná em helicóptero da Polícia Federal.Dois dos corpos tinham cerca de dez lesões profundas de armas brancas (punhais, facas ou lanças) no peito e na barriga, e o terceiro recebeu um tiro no peito. Um dos garimpeiros foi castrado. Devido ao estado de decomposição do corpo, a perícia não definiu se isso ocorreu antes ou depois do assassinato. Dois dos garimpeiros tinham as mãos e os pés amarrados com cordas de náilon, o que pode significar que eles foram mortos quando já estavam rendidos. Um deles apresentava um sulco profundo no pescoço, o que pode indicar que foi enforcado.Só um dos mortos havia sido identificado até o final da tarde de ontem. Trata-se do garimpeiro Francisco das Chagas Saraiva, o "Baiano Doido", que teve a tatuagem no tornozelo direito, a figura de uma espada e um olho, reconhecida pela viúva, Maria Veras.As circunstâncias do seqüestro de Chagas, por índios cintas-largas no dia do conflito, haviam sido detalhadas na quinta-feira pelo garimpeiro Gerssi Mendes, em depoimento prestado à Polícia Civil de Espigão d'Oeste.Segundo Mendes, Saraiva corria na mata ao seu lado, logo após o início do ataque dos índios. O garimpeiro disse que o colega resolveu parar e escolheu entregar-se aos índios para dialogar. Saraiva teria dito a Mendes confiar que seria solto pelos índios logo depois. Seu corpo foi achado mais tarde pelo próprio colega.

FSP, 13/04/2004, p. A8

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