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Pará: consórcio é revelado

JB, País, p. A5
09 de Abr de 2005

Pará: consórcio é revelado
Acusado de intermediar o assassinato de Irmã Dorothy acusa Bida e Taradão de serem os mandantes

Folhapress

Em duas acareações separadas, Amair Feijoli da Cunha, o Tato, apontou ontem os fazendeiros Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, como os mandantes do assassinato da missionária americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, morta em 12 de fevereiro, na cidade de Anapu (Pará).
Preso desde o dia 19 de fevereiro, acusado de ser o intermediário do crime, Tato decidiu chamar a Promotoria para revelar como foi firmado o ''consórcio'' e, pela primeira vez, admitiu ter sido o intermediário do crime, o que havia negado.
Segundo o promotor Lauro Freitas Junior, de Pacajá, Tato se sentiu sozinho, sem apoio do advogado e disse que sua mulher, Elizabeth da Cunha, estava sendo ameaçada por familiares de Bida, preso desde 27 de março.
No novo depoimento ao Ministério Público estadual e à polícia, Tato apontou a parceria entre Bida e Galvão para matar a missionária. Disse que ouvia deles que a freira ''incomodava com suas freqüentes denúncias ao Ibama e à Procuradoria da República''.
Tato também confessou ter contratado, a mando dos fazendeiros, Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, para matar a freira. Fogoió confessou ser o autor dos disparos. Ambos estão presos.
Ontem, a polícia colocou Tato e Galvão frente a frente numa acareação no presídio Americano 3, em Santa Izabel (100 km de Belém). Em seguida, Tato foi levado à sede da PF para acareação com Bida. Tanto Bida quanto Galvão negaram envolvimento no caso.
O delegado da Polícia Federal Ualame Machado considera o crime ''elucidado'':
- É difícil inventar uma versão para se auto-incriminar. O depoimento do Tato foi coerente e firme, não é uma versão.
Galvão foi preso temporariamente, anteontem, após prestar depoimento à PF. A prisão expira em 30 dias, mas o Ministério Público estadual informou que o período pode ser prorrogado por mais 30 dias.
Segundo o superintendente da PF em Belém, José Ferreira Salles, foi ''Tato que trouxe Regivaldo para a cela''.
- Ele falou que o Regivaldo ia rachar a quantia de R$ 50 mil com o Bida - disse.
Os dois supostos mandantes tinham negócios em Anapu e chegaram a ser sócios em 3 mil ha de terra do lote 55 da gleba Bacajá, área reivindicada pela freira. Em 2003, Regivaldo vendeu parte das terras a Bida por R$ 600 mil e a outra metade por mais R$ 1 milhão. Os dois foram multados em R$ 1,5 milhão por manter trabalhadores em regime de escravidão. E Tato comprou 600 ha da área de Bida.
Quarta-feira, a PF ouviu o madeireiro Luiz Ungaratti, citado num bilhete de Bida para Tato como patrocinador do crime. Ungaratti negou a acusação e disse desconhecer Bida.
O juiz Lucas do Carmo de Jesus, da comarca de Pacajá, negou o pedido de liberdade provisória em favor de Bida.

JB, 09/04/2005, País, p. A5

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