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Para acabar com a agonia da Guarapiranga

Folha Universitária n. 328, 12-18/03/2007, Meio Ambiente, p. 15
18 de Mar de 2007

Para acabar com a agonia da Guarapiranga
ONG's apresentaram para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente propostas de recuperação do manancial. Planos devem ser exibidos em menos de 30 dias

Por Vivian Costa

Boa parte da degradação da Bacia Hidrográfica da Guarapiranga é causada pela ausência de saneamento básico, crescimento urbano desordenado e atividades econômicas. Por causa disso, mais da metade da represa, que é considerada o segundo manancial mais importante da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), está comprometida. O estudo foi feito pelo Instituto Socioambiental (ISA) publicado no estudo Guarapiranga 2005 - Diagnóstico Socioambiental Participativo e rediscutido no Seminário Guarapiranga 2006.

Para que esse quadro mude, representantes de algumas ONG's, entre elas o próprio ISA, SOS Guarapiranga, Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo apresentaram idéias, discutidas no seminário, para frear a degradação do manancial que abastece quatro milhões de pessoas na RMSP para o titular da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SMA). Entre elas, a criação de mosaico de áreas protegidas, investimento em saneamento básico, incentivo às práticas de preservação e valorização dos serviços ambientais prestados pela região.

Diante disso, Maria Therezinha Pinto Alves, diretora de Uso do Solo Metropolitano da SMA, afirmou que o novo secretário Francisco Graziano anunciará ações para a recuperação da Guarapiranga em menos de 30 dias. Dentre as ações, um dos aspectos que serão ressaltados é a educação ambiental da população, "porque sem educação não teremos êxito na recuperação".

Na opinião da diretora, a ocupação é um grande problema atual, já que é difícil tirar a população da área. "Por isso, é preciso recuperá-la com a ajuda dessa população para que as pessoas não fomentem a idéia de que ali é um bom lugar para se viver", ressaltou.

Uma das idéias da SMA é a criação de parques e campos de futebol no entorno do reservatório. "Porque tendo uma área de lazer a população não ocupa", disse ela. Um dos bons exemplos de parceria é o Parque Ecológico do Guarapiranga, que tem uma área de mobilização onde a população freqüenta. "Desta forma o parque tem desempenhado sua função, já que o povo não vai ocupar aquela região".

Fatores
Segundo a coordenadora do Programa Mananciais do ISA, Marussia Whately, a represa diminuiu, nos últimos 30 anos, em 20%. A redução se dá por fatores como o assoreamento. "Quando uma área é desmaiada deixa o solo exposto. Quando chove, essa água carrega esse solo para o fundo da represa, deixando-a mais rasa", explicou. Outro problema foi a estiagem no final da década de 90, e até hoje continuam tirando a mesma quantidade de água. Não há reposição.

Para que não falte água é preciso de novas fontes. O que não é uma tarefa muito fácil, já que requer algo muito planejamento. "Não se pode abrir mão de uma represa do porte da Guarapiranga. Um manancial desse tipo não é substituído do dia para a noite", disse a representante do ISA. Por isso, é preciso pensar onde vai ter água disponível no futuro. Atualmente, o único lugar próximo à RMSP que tem água disponível é o Vale do Ribeira que é longe e, ao mesmo tempo, é uma região que conta com 20% da Mata Atlântica. "Os municípios do Vale não estão dispostos a ter parte de sua região alagada para construção de novas represas".

Quanto às ocupações ilegais, ainda segundo a coordenadora, cerca de 17% da bacia geográfica da represa está modificada pela ocupação urbana. Mas, além dessa porcentagem, mais de 42% da bacia da represa, ou seja, toda a área está ocupada pelos rios que a compõe, está ocupada por diversas atividades econômicas que acontecem de forma irregular, como mineração - que precisa de licenciamento ambiental.

Ela disse ainda que o fato acontece porque há uma omissão do Estado e dos municípios em relação a essas irregularidades. "Num primeiro momento é preciso ter um Estado presente para anular tudo isso, com fiscalização e monitoramento. O segundo passo é fazer um pacto com quem está na região".

"Uma das fontes poluidoras da represa é a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que criou algumas redes de esgoto na década de 90 que atende metade da população que vive na região. Só que essas redes não são completas, porque deveria coletar o esgoto das casas e levá-lo para uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)", afirmou a coordenadora do ISA. Mas, segundo ela, "a Sabesp joga o esgoto coletado na represa sem tratamento, já que sua estação se encontra em Barueri, a mais de 70 quilômetros da região. A Sabesp foi procurada pela Folha Universitária, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Folha Universitária, 12-18/03/2007, Meio Ambiente, p. 15

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