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Pankararé escreve carta a ministro

A Tarde-Salvador-BA
Autor: Clementino Heitor
23 de Out de 2003

Pede inclusão no Fome Zero e se queixa da exclusão dos índios nos programas de governos anteriores e no de Lula

- "Oitenta e cinco por cento da população indígena do Nordeste convivem, regularmente, com a fome e a carência alimentar". Esta realidade foi mostrada no Mapa da Fome, elaborado entre os povos indígenas do Brasil. Esta informação inicia uma carta que os pankararés encaminharam, no dia 12 de setembro último, ao ministro da Segurança Alimentar José Graziano, lamentando que "o tão sonhado Programa Fome Zero ainda não chegou às nossas casas".

A referência à carta foi feita numa manifestação dos pankararés, na audiência pública promovida pela Gerência Executiva Estadual e Escritório Regional do Ibama, no dia 21 último, em Paulo Afonso, no auditório Edson Teixeira, para debate sobre o Raso da Catarina. Os representantes pankararés se queixam da exclusão das populações indígenas de todos os programas sociais, de ontem (referido-se aos governos anteriores) e de hoje (governo Lula).

A carta-denúncia enviada - lida pelo tuxá Romildo, para os participantes da audiência - foi assinada pelo cacique pankararé Afonso Enéas Feitoza, pajé Ramos Enéas Feitoza, cacique Arlindo Silva Nascimento e vice-cacique Josefa Pereira da Silva Xavier. E nela os índios declaram saber apenas "que será implantado um programa específico para atender às populações (indígenas) mas, até o momento, é só; isso não mata a nossa fome".

O documento ressalta que, "nesse cenário desolador, a população indígena pankararé tem posição de destaque, pois fica localizada no nordeste do Estado da Bahia, no Raso da Catarina, região com baixa pluviosidade - cerca de 400 milímetros anuais -, o que impossibilita a produção agrícola, atividade fundamental para a existência do nosso povo".

Os pankararés esclarecem que "não existe em nosso território nenhum tipo de irrigação, as alternativas de sobrevivência são as mínimas possíveis". E informam que "a fome castiga praticamente toda a população". Também ressaltam que "o descaso tem provocado aflição, inquietação e revolta em nossos índios ao saberem que os vizinhos, não indígenas, foram cadastrados pelo comitê gestor do município de Glória e já passaram a receber os benefícios divulgados pelo programa".
Os índios que assinam a carta manifestam, ainda, no documento, "a esperança de que um dia esta nossa realidade irá mudar e, na certeza de que neste novo governo teremos nossos direitos garantidos é que solicitamos o emprenho de Vossa Excelência no sentido de estender o tão esperado Programa Fome Zero e os demais programas sociais que venham a ser implantados não somente à população indígena pankararé, mas a todas as populações indígenas do País".

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