Pajés autorizam amputação de perna de criança índia doente com câncer

A família da menina indígena Tieli, de 8 anos, concordou em liberar a criança para fazer a cirurgia de amputação da perna direita. A criança está internada no Hospital Regional Rosa Pedrossian, em Campo Grande, com câncer. Segundo o intérprete, Silvio Ortiz de 44 anos, "a família compreendeu que a cirurgia é necessária e fundamental para a sobrevivência da criança". A menina mora na Aldeia Porto Lindo, em Japorã. Os líderes da tribo quiseram impedir a cirurgia, mas foram convencidos.

Conforme o médico Marcelo Souza, "a família entendeu que está cirurgia é necessária e concordaram em fazer a operação. No momento não temos uma data para fazer a cirurgia. Mas daqui a mais ou menos um mês, ela já deverá ter sido concluída", explica.

Ainda de acordo com o médico, o tratamento continua o mesmo. "Ela segue com as sessões de quimioterapia e com a medicação". A criança que veio do Hospital de Dourados deu entrada no Hospital Regional com um quadro de desnutrição e com o estado evoluído do câncer.

Esta manhã os pajés voltaram ao Hospital para darem continuidade ao tratamento espiritual. Eles agradeceram o médico e o Hospital por permitirem que entrassem e fizessem o ritual de cura na criança.

Logo abaixo veja o vídeo do ritual religioso feito no Hospital Regional. Antes, contudo, veja depoimentos de especialistas acerca da questão.

Para o médico Zelik Trajber, de 65 anos, coordenador das equipes de saúde indígena do Ministério da Saúde, "no entendimento deles a doença é um desequilíbrio no corpo que ocasionou a doença. Por isso, eles usam da fé dentro do ritual para tentar salvar a criança do câncer".

Conforme a psicóloga Lidiane Cavazzana, 25 anos, "a fé para o ser humano é um dos elementos que mais podem transmitir a sensação de conforto diante de situações que acarretam preocupação, entre estas a saúde".

Segundo ela, "os rituais deste tipo têm caráter pessoal, de acordo com a cultura deles. Mas baseando-se no sentido da crença para qualquer indivíduo, ele pode proporcionar um conforto que vai além da capacidade humana", explica.

Assim o padre Edinaldo Alves, de 35 anos, membro integrante do Comitê de Capelões da Santa Casa de Campo Grande, explica que a fé é algo que vem para acrescentar e confortar quem precisa.

"Nas horas que as palavras nos faltam, a fé vem justamente para dar o consolo a quem precisa. Tanto no paciente quanto na família e cada um segue o ritual da sua religião".

Caso semelhante

Para a adolescente Thaynara Proença, de 16 anos, que passou pelo mesmo problema que a menina indígena disse que a fé a ajudou.

"Eu sou evangélica, me batizei na Igreja e a minha em fé em Deus me ajudou muito durante este período e ainda me ajuda na minha recuperação. Sei que amanhã estarei bem melhor e o mais importante é que estou viva".

De acordo com o pai Salvador Proença, Thaynara a pedido do médico conversou com a família indígena. "Nós passamos pelo mesmo problema em que eles estão passando. Em abril a minha filha amputou a perna devido ao câncer e hoje ela está bem, sai, vai para festas. Tem uma vida normal", comenta.

Salvador diz ainda que "se a menina tem uma chance eles devem aceitar. Antes uma ficar sem uma perna do que ficar sem a vida, não sei se a conversa da Thaynara com eles fez efeito. Mas fico feliz por eles terem aceito a fazer a cirurgia".

A menina Tieli, deve passar em breve pela cirurgia de amputação da perna direita para retirar o câncer que está alojado próximo ao joelho. Os pajés em visita nesta sexta-feira (22) agradeceram a equipe médica e ao Hospital por terem deixados entrar no quarto e realizarem o ritual de cura.

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