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Pajé tukano Gabriel Gentil (Amazonas) recebe título de pesquisador honorário no campo do saber tradicional, inédito no

SBPC- Sociedade Brasileira de Pesquisa Científica
03 de Jun de 2005

Brasil

Concedido pela Fiocruz, é a primeira vez que os conhecimentos indígenas são reconhecidos com essa titulação

Há mais de 30 anos, o pajé tukano Gabriel Gentil estuda a história de seu povo. Nesse período ele coletou narrativas, mitos, ritos de celebração e encantamentos que estavam sendo esquecidos.

Ele diz que quando morriam os pajés e cantadores tukano, estava morrendo uma parte fundamental da história da nação. O material foi publicado em dois livros, o último lançado na semana passada, na Academia Amazonense de Letras.

O trabalho sobre a nação tukano foi reconhecido, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) quando a instituição concedeu o título de pesquisador honorário no campo do saber tradicional para o pajé.

A entrega foi feita na sede da Fiocruz em Manaus pelo presidente da Fundação Paulo Buss. Segundo ele, o título é inédito no Brasil e representa não só uma premiação individual para Gentil, mas é uma conquista para o povo tukano.

Os tukano vivem no alto Rio Negro (Amazonas), entre os rios Tiquié e Uaupés. A nação já modificou o nome cinco vezes, mudou a língua, o mito e trocou mais de 20 vezes de lugares sagrados, por isso as pesquisas do pajé são tão importantes para o resgate da tradição tukano.

Ele diz que não pensava em escrever, que guardava os segredos para não ser morto pelos espíritos do velhos pajés. Segundo Gentil, a ordem de Jurupari, um dos deuses indígenas, era que quem falasse os segredos tinha que ser morto.

Quando percebeu que os velhos sábios morriam sem que os mais jovens fossem iniciados nos segredos míticos, o pajé decidiu escrever sobre o povo tukano.

De acordo com a professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Valéria Weigel, na apresentação do livro "Povo Tukano - Cultura, História e Valores, de autoria de Gentil, ele escreveu esta obra para que as novas gerações tivessem acesso e domínio sobre conhecimentos fundamentais da alma tukano e que assim, estariam assegurados a continuidade da construção de sua identidade étnica.

O pajé começou a escrever, desenhar e coletar mitos da tradição de seu povo em 1969, em São Gabriel da Cachoeira, a partir de um pedido do padre salesiano Casimiro Béksta.

Sem sucesso, o religioso já havia tentado levantar o histórico do povo Tukano, e chegara à conclusão que tal trabalho só poderia ser feito pelos próprios indígenas. As pesquisas com o padre Béksta duraram até 1999.

A tradição de repasse de conhecimentos pelos grandes narradores indígenas estava perdendo força, por segundo Gentil, os mais antigos não queriam falar sobre as histórias, os mitos e cerimônias.

Após anos de catequese e repressão da Igreja Católica, eles acreditavam que suas crenças eram coisas diabólicas. Ele conta que a influência do catolicismo contribuiu para que o número de curandeiros no Rio Negro fosse diminuindo a cada ano.

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