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Países emergentes empatam com ricos em emissão de gás-estufa

OESP, Vida, p. A12
02 de Jul de 2007

Países emergentes empatam com ricos em emissão de gás-estufa
ONU conclui que, em 15 anos, ricos passaram a emitir 30% mais; nações em desenvolvimento dobraram volume

Jamil Chade, Genebra

Os países emergentes dobraram as emissões de CO2, o gás carbônico, principal causador do efeito estufa,em 15 anos. Em números absolutos, já poluem o mesmo tanto que os países ricos. A constatação é da Organização das Nações Unidas (ONU), que, em relatório divulgado ontem, alerta que o mundo terá sérias dificuldades para reverter os problemas ambientais até 2015, como foi proposto em suas oito Metas do Milênio, estipuladas em 2000.

As emissões do gás, um dos responsáveis pelo aquecimento do planeta, continuam a aumentar e "efeitos catastróficos já começam a ser sentidos", diz a ONU. Elas dobraram nos países emergentes: foram de 6,9 bilhões de toneladas, em 1990, para 12,4 bilhões de toneladas, em 2004. Nos países ricos também houve incremento considerável: de 9,7 bilhões de toneladas para 12,5 bilhões no mesmo período.

Neste mês, chega-se à metade do caminho até o prazo estipulado para que os países atinjam as metas, ou seja, reduzam a pobreza e a fome, aumentem o acesso à escola e a serviços de saúde e lutem contra a degradação do ambiente. Apesar de alguns poucos progressos, está claro que a maioria dos objetivos não será atingida, em parte pela falta de apoio financeiro dos países ricos.

No caso da América Latina, mesmo com o crescimento econômico nos últimos anos, a região registrou um aumento na disparidade social e não conseguirá reduzir à metade o número de pobres até 2015, nem reverter a perda de florestas (leia ao lado).

PRESSÃO POR METAS

O capítulo ambiental é um dos mais preocupantes para a ONU. Em algumas regiões, como o Leste da Ásia, as emissões dobraram: de 2,9 bilhões de toneladas de CO2 em 1990, passaram para 5,6 bilhões de toneladas. No caso da América Latina, o aumento foi de 1,1 bilhão para 1,4 bilhão.

Em termos per capita, os países em desenvolvimento ainda emitem bem menos do que os ricos. Na África, por exemplo, uma pessoa é responsável por menos de 10% de CO2 do que um cidadão de país rico.

Mesmo assim, Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, alerta que todos terão de contribuir para colocar um freio nas emissões. "O centro da responsabilidade recai sobre os países ricos, já que foram os principais emissores nas últimas décadas. Mas os grandes países emergentes não podem ficar apenas observando."

Na última reunião do G-8 (grupo de países industrializados mais a Rússia), há duas semanas, as economias emergentes foram convidadas, mas recusaram qualquer plano que estabeleça um teto para as emissões. O governo brasileiro afirmou que restrições obrigatórias significariam obstáculos para o crescimento econômico. Para os indianos, a comunidade internacional não pode falar apenas de emissões sem contar as "responsabilidades históricas". Já a China insistiu que as emissões per capita de seu país ainda são baixas - apesar de hoje os chineses disputarem a posição de maior emissor do mundo com os Estados Unidos.

Para Annan, porém, os grandes países emergentes terão de mudar de posição. "Os países não podem olhar para a questão como um empecilho ao crescimento de suas economias. Brasil, China, Índia e África do Sul precisam evitar os erros da industrialização que ocorreram nos países ricos. Isso poderá ser feito com novas tecnologias."

O levantamento, porém, alerta que as emissões, que vêm principalmente da queima de combustíveis fósseis, estão aumentando em um ritmo maior que a introdução de novas fontes de energia. Nos últimos 15 anos, o consumo aumentou em 20%.

DESMATAMENTO

Outro problema é o desmatamento, que é uma fonte de emissão (a principal do Brasil) e reduz a biodiversidade. Na América Latina, a perda de florestas continua e a ONU, ainda que cite esforços positivos do País nos últimos anos, aponta que a meta de reverter a perda de cobertura vegetal não deverá ser atingida.

Em 1990, a área florestada na região era de 50%. Hoje, é de 46%, em grande parte por causa da expansão do setor agropecuário. Mundialmente, a cobertura passou de 31% para 30%. Nos países ricos, a área coberta por florestas subiu de 30% para 31%.

Metas do Milênio não serão cumpridas, diz ONU
Se as metas ambientais não devem ser atingidas, as sociais também enfrentarão graves obstáculos. No geral, o objetivo de reduzir à metade o número de pessoas que ganham menos de US$ 1 por dia no mundo deverá ser atingida. Passaram de 1,25 bilhão em 2000 para 980 milhões em 2004 - de 32% para 19% da população global.

Praticamente toda a redução deve ser creditada ao crescimento econômico de China e Índia. O desempenho nas demais regiões não seguiu esse padrão. Na América Latina (AL), o número de pobres caiu de 10,3% para 8,7%. Para a ONU, se esse ritmo continuar, a meta não será atingida até 2015. No Oeste da Ásia, a pobreza dobrou desde 2000. Na África, caiu de 46,8% para 41,1%.

Apesar de muitos terem saído da linha de pobreza, o crescimento econômico nos últimos anos teve resultados desequilibrados. A parte mais pobre da população reduziu sua participação no consumo. A AL continua a mais desigual: em 1990, os mais pobres tinham só 2,8% da renda. Em 2004, a proporção era de 2,7%. Metade da população dos países emergentes ainda não tem esgoto encanado. Uma em cada três pessoas vive em condições equivalentes às de uma favela.

A mortalidade no parto também preocupa: 500 mil ainda morrem por conta de complicações na gravidez. Abortos feitos de forma ilegal ainda respondem por 12% das mortes maternas. Outra meta que não deve ser atingida é a de reduzir a má nutrição, que atinge 27% das crianças no mundo, contra 33% em 2000.

A contenção da aids também não será cumprida. As mortes aumentaram de 2,2 milhões em 2001 para 2,9 milhões. No total, 39,5 milhões de pessoas estão infectadas. A AL se destaca por ter a maior distribuição de remédios, atingindo 72% dos soropositivos, contra uma média de 28% nos demais países emergentes.

Para concluir, a mortalidade infantil ainda está longe de atingir a meta de sofrer redução de dois terços até 2015. A queda foi de 106 mortes para 83 a cada mil nascimentos. Ainda assim, 10,3 milhões de crianças não chegam a seu quinto aniversário.

OESP, 02/07/2007, Vida, p. A12

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