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11 de Out de 2024
Países do G20 respondem por 68% da perda de cobertura florestal no mundo
Com diversos focos de incêndio, Canadá e Rússia foram os países do G20 que mais perderam florestas em 2023
Maria Lúcia D'Urso
11/10/2024
Mesmo com a redução no desmatamento em países como Brasil e Colômbia, as perdas florestais continuaram em alta no mundo em 2023. Os integrantes do G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia, são os principais responsáveis por este cenário. Levantamento do Global Forest Watch (GFW) mostra que 68% de toda a perda de cobertura arbórea global no ano passado ocorreu dentro do bloco.
"Os países, em geral, estão tendo dificuldades em colocar o mundo numa trajetória de desmatamento zero", afirma Mariana Oliveira, gerente de florestas da WRI Brasil, instituto independente de pesquisa aplicada nas áreas de natureza, clima e pessoas. Segundo ela, é crucial avançar na proteção de florestas, nas metas de biodiversidade e na criação de políticas públicas para incentivar e financiar a conservação e a restauração florestal.
No âmbito do G20, o Canadá liderou a perda de cobertura florestal no ano passado, com uma porcentagem de 44,4%, conforme a pesquisa da GFW, que fornece dados e ferramentas para o monitoramento de florestas globalmente. Essas perdas foram causadas por incêndios ou desmatamento. Em segundo lugar, aparece a Rússia, com 17,4% e, na terceira posição, o Brasil, com 14,5%. Em seguida, despontam Indonésia (7,2%) e Estados Unidos (7,2%).
"Esses índices do Canadá e da Rússia têm muita relação com incêndios que, tradicionalmente, são grandes vetores de perda de cobertura arbórea nesses países", diz Oliveira. Esses incêndios, por sua vez, são causados por secas intensas e aumento das temperaturas, decorrentes das mudanças climáticas. Isso torna as florestas boreais, predominantes nesses dois países, mais suscetíveis ao fogo. "Em 2023, os incêndios florestais foram particularmente fortes no Canadá, que teve sua pior temporada já registrada. Em 2022, o mesmo aconteceu na Rússia", afirma a gerente da WRI Brasil.
Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), afirma que o desmatamento provoca um estresse climático, que ocasiona a redução de chuvas e o aumento das temperaturas. "A seca que estamos vivendo é culpa do desmatamento. Perdemos árvores demais em 2019", enfatiza. Os cinco países do bloco que mais perderam florestas no ano passado (Canadá, Rússia, Brasil, Indonésia e EUA) detêm uma parcela de 91% de toda perda de matas do grupo. Com exceção de Rússia e Canadá, os demais países do G20 contribuíram com 26% da perda global.
Além de informações sobre as perdas florestais do G20, o GFW divulgou o ranking das Perdas Florestais em Florestas Primárias, ou seja, com os países que dispõem de florestas tropicais úmidas. Nesse levantamento, o Brasil aparece em primeiro lugar, com quase 1,137 milhão de hectares desmatados. Em segundo lugar, surge a República Democrática do Congo, com 526,1 mil ha, seguido de Bolívia (490,5 mil ha), Indonésia (292,4 mil ha) e Peru (150,4 mil hectares desmatados).
No caso brasileiro, as principais causas para a perda de cobertura florestal nos últimos estão associadas ao desmatamento em biomas como a Amazônia e o Cerrado. "Esse desmatamento é geralmente provocado para abrir novas áreas para pecuária, agricultura ou para grilagem de terras", explica Oliveira. De acordo com o GFW, os principais fatores que provocam o desmatamento na bacia do Congo são o uso do fogo na agricultura e a produção de carvão, a principal fonte de energia no país africano.
Apesar de ter sido o primeiro do ranking, o Brasil perdeu 36% a menos de floresta primária em 2023 do que em 2022. Assim, atingiu o patamar mais baixo desde 2015, de acordo com Oliveira. "Entre as possíveis explicações para a queda, estão a revogação de medidas contra o meio ambiente e o reconhecimento de novos territórios indígenas", afirma a gerente da WRI Brasil.
Já a Bolívia registrou um aumento de 27% da perda da floresta primária no ano passado, sendo este o terceiro ano consecutivo de aumento. O país sul-americano teve a terceira maior perda de floresta primária, entre todos os países tropicais, apesar de dispor de menos da metade da área florestal tanto da República do Congo quanto da Indonésia.
A Indonésia teve um ligeiro aumento no desmatamento em 2023, muito relacionado ao fenômeno do El Niño e a incêndios. Porém, as taxas de perda de florestas seguem em patamares mais baixos do que a década passada, com redução consistente desde 2017.
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