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Países debatem crise ambiental

OESP, Vida, p. A29
05 de Nov de 2006

Países debatem crise ambiental
Principal conferência do mundo sobre mudança climática começa amanhã; Brasil leva proposta

Cristina Amorim

Começa amanhã a principal conferência ambiental do mundo, a COP-12, em Nairóbi, no Quênia, ou 12ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Ela reúne quase todos os países do mundo em torno de um problema comum.

O aquecimento global, provocado pelo efeito estufa, passou de previsão para realidade. Há consenso entre pesquisadores e boa parte dos governantes sobre a responsabilidade dos homens e sobre seus impactos no clima.

Na semana passada, em um passo histórico, o governo britânico divulgou o relatório A Economia da Mudança Climática, em que calcula perdas entre 5% e 20% do PIB mundial, por ano, causadas pelo aquecimento e suas conseqüências.

Mas o peso que a reunião ganha ano após ano não é suficiente para fazer com que a mais poderosa economia do mundo (e o principal emissor de gases que provocam o efeito estufa), os Estados Unidos, empunhe a bandeira ambiental. O presidente George W. Bush se recusa a participar do único mecanismo global existente hoje para minimizar o problema, o Protocolo de Kyoto.

ENVOLVIMENTO

No filme Uma Verdade Inconveniente, o ex-vice-presidente americano Al Gore cita a solução para o buraco na camada de ozônio como exemplo de um esforço único em prol da saúde do planeta. Se foi feito uma vez, é possível novamente, diz.

A barreira é o senso de urgência entre a sociedade. E aí uma imagem ou um fato valem mais do que mil palavras em relatórios e conferências. Apesar dos alertas e das evidências científicas, a proibição dos CFCs, que minam o ozônio, foi alimentada pelas imagens inequívocas de um buraco - gigantesco e real - na camada. Lobby da indústria e incertezas do público se apequenaram diante do impacto visual.

Ainda falta um símbolo de igual força para o problema do aquecimento global.

A devastação da cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, pelo furacão Katrina em 2005 foi um forte candidato e atinge os corações americanos. Mas não foi suficiente para sensibilizar o mundo e calar os céticos de plantão.

Acontece que talvez não haja nunca um símbolo forte para mobilizar o mundo em torno da questão até que seja tarde. Os gases-estufa são invisíveis e as mudanças climáticas, progressivas. A humanidade se acostuma com a graduação e demora a reagir.

No Brasil, por exemplo, discute-se pouco sobre adaptação. Projeções sobre os impactos não são inseridas em programas de governo, da construção de hidrelétricas a planos de conservação. Ainda assim, estudos nacionais indicam quedas na produção agrícola e transformação de boa parte da Amazônia em cerrado. Poucas pessoas leigas sabem que a maior contribuição do Brasil para a piora do efeito estufa é a derrubada da floresta amazônica, o que coloca o País entre os maiores emissores do mundo.

EFEITO DO CORTE

Neste sentido, para evitar novas cobranças da comunidade internacional, a delegação brasileira leva para Nairóbi a proposta da criação de um mecanismo que premie os países tropicais que preservarem suas florestas.

A idéia é que os países pobres que guardam os estoques vegetais - e o Brasil é o maior deles - reduzam a derrubada e ganhem por isso, em dinheiro ou algum outro tipo de incentivo. Pagariam os países desenvolvidos.

Tudo seria feito de forma voluntária, já que o Brasil tem alergia a assumir metas fixas de redução da emissão de gases do efeito estufa - dentro do escopo de "responsabilidade comum, porém diferenciada" que rege a convenção, país pobre sofre menos sanções do que o rico. "Se o Brasil, por esforço próprio, dá uma contribuição para reduzir o problema, ela tem de ser reconhecida e apoiada", diz o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.

Para Mauro Armelin, da ONG WWF-Brasil, a proposta vai se tornar interessante a partir do momento em que metas claras de combate ao desmatamento sejam estabelecidas. "Se não no âmbito internacional, pelo menos nacionalmente."

Os pontos quentes da COP-12
África será um dos focos do encontro ambiental

Cristina Amorim

Alguns temas prometem esquentar os ânimos dos participantes da 12ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU, seja em reuniões diplomáticas, eventos paralelos ou nos corredores.

FRACOS E FORTES

A localização da reunião influencia as conferências. Os problemas que países vulneráveis, como os africanos e as pequenas ilhas, enfrentarão devido à mudança climática - e como os países ricos podem e devem ajudar - entrarão na pauta.

GIGANTE VERMELHO

A China promete divulgar uma proposta para resolver sua principal fonte de emissão de gases do efeito estufa: a monumental produção de energia baseada no carvão. Como é de praxe no que se refere ao país, nenhum detalhe vazou até agora.

PRIMEIRO TEMPO

A primeira fase do Protocolo de Kyoto, quando os países ricos devem diminuir em média 5,2% suas emissões de gases do efeito estufa em relação ao índice de 1990, começa em 2008. Uma avaliação das Nações Unidas mostra que a emissão cresceu entre 2000 e 2004, indicativo do árduo trabalho a ser feito.

SEGUNDO TEMPO

Ações mais restritivas para conter as emissões devem ser tomadas na segunda fase do protocolo, que começa em 2013. Os debates ainda são informais, porém enérgicos. Além disso, alguns países e, em especial, a União Européia, querem que as nações em desenvolvimento, como Brasil e China, assumam metas para redução de suas emissões. Hoje a carga de responsabilidade sobre elas é mais leve.

CRIAÇÃO VERDE-E-AMARELA

A proposta de um mecanismo de compensação por redução de desmatamento, que será apresentado pelo Brasil, pode gerar interesse.

EXPOSIÇÃO

O sucesso do documentário Uma Verdade Inconveniente, do americano Al Gore, e a repercussão global do relatório britânico sobre impactos econômicos do aquecimento global põe a questão no centro das atenções.

OESP, 05/11/2006, Vida, p. A29

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