CB, Mundo, p. 20
07 de Dez de 2004
Países debatem cláusulas do Protocolo de Kyoto
Enviados de 194 nações negociam implementação de acordo contra aquecimento global. Brasil divulgará relatório sobre redução de gases
Da Redação
A recusa dos países em desenvolvimento a renegociar as cláusulas do Protocolo de Kyoto para além de 2012 marcou ontem a abertura ontem da 10ª sessão da Conferência das Partes da Convenção Marco da ONU sobre a Mudança Climática (COP 10), em Buenos Aires. Em discurso inflamado, o atual presidente do G-77 (que reúne os países em desenvolvimento), o catariano Mohammed Al-Maslamani, disse que o grupo não aceitará novas medidas de controle de emissão de gases causadores do efeito estufa.
''Não haverá novos compromissos. Não aceitaremos outro processo de negociação para abordar a questão do engajamento dos grandes países em desenvolvimento'', disse Al-Maslamani. Um artigo do Protocolo de Kyoto prevê a abertura de negociações formais em 2005, tendo em vista os contratos que venham a ser feitos após 2012.
Até o próximo dia 17, passarão pela capital argentina representantes oficiais de 194 países, entre eles 70 ministros de Meio Ambiente, e cerca de seis mil representantes de organismos internacionais e ONGs ligadas ao setor. A implementação de Kyoto a partir de fevereiro próximo centra a agenda dos debates, assim como a transferência de tecnologias limpas e a adaptação dos países às mudanças do clima.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, estará na conferência representando o Brasil. Vai apresentar, ao lado da delegação chinesa, o inventário das emissões de gases poluentes do país. Os dados não são novos, mas devem dar um panorama da situação ambiental brasileira, como explica o ministro-conselheiro Everton Vieira Vargas, diretor do Departamento do Meio Ambiente e Temas Especiais do Ministério das Relações Exteriores.
''Trata-se de um levantamento minucioso sobre as emissões de 1990 a 1994 e as políticas adotadas desde então até 2000'', explica. Segundo o diplomata, o documento será apresentando primeiro no Brasil, provavelmente na quarta ou quinta-feira. Vargas ressalta que deve ficar de fora da agenda oficial - mas não de encontros paralelos - a discussão sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), batizado de ''moeda verde''. Segundo estimativa do Banco Mundial, os projetos nessa área vão movimentar um mercado de US$ 2 bilhões por ano.
O Protocolo de Kyoto dá aos países que se comprometam a reduzir emissões de gases estufa a alternativa de financiar projetos de geração e consumo de energia nos países em desenvolvimento - desde que os projetos não liberem poluentes e sejam certificados pela ONU. Representantes de São Paulo, Betim, Goiânia, Porto Alegre, Palmas, Rio de Janeiro e Volta Redonda apresentarão propostas para a redução das emissões de gases poluentes.
Protestos
O movimento ecológico Greenpeace montou uma grande Arca de Noé ao lado do Obelisco, no centro da capital argentina, e batizou-o de ''monumento à catástrofe que pode se abater sobre a humanidade''. Moradores fizeram fila para visitar a réplica. ''A mudança climática já está aqui e afeta com maior rigor as nações mais pobres, onde as pessoas estão mais vulneráveis'', disse Juan Carlos Villalonga, diretor de Campanhas do Greenpeace Argentina, durante o protesto.
Apesar dos protestos, Austrália e Estados Unidos - responsáveis por 25% das emissões de gases do planeta - rejeitaram antecipadamente qualquer discussão sobre o ''pós-Kyoto'' na conferência sobre mudança climática de Buenos Aires, onde os europeus desejam debater maiores compromissos de redução das emissões de gases estufa após 2012, quando expira o prazo inicial do protocolo.
''É muito cedo para falar nisso'', declarou o negociador americano Harlan Watson, alto funcionário do Departamento de Estado, aos jornalistas europeus, antes mesmo da abertura da convenção. Ele lembrou que o governo de George W. Bush rejeitou o protocolo de Kyoto em março de 2001, alegando que sua aplicação era demasiado cara. Segundo Watson, o uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), principal causa da emissão de gases estufa, ''continuará formando o pilar do sistema de energia mundial, pelo menos por boa parte do século 21, ainda que seu preço aumente'', avaliou.
Para saber mais
Os principais itens do acordo
O Protocolo de Kyoto é um acordo internacional que visa à redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa, responsável pelo aquecimento global. A iniciativa surgiu em 1994, inspirada nos resultados da reunião de cúpula Rio-92, no Rio de Janeiro. Embora o acordo contasse com a adesão de 125 nações - entre elas o Japão, o Brasil e toda a União Européia -, sua entrada em vigor dependia da ratificação de 55 países responsáveis por 55% das emissões de dióxido de carbono (CO2) do planeta.
A Rússia, que sozinha é responsável por 17,4% do CO2 lançado na atmosfera, resolveu ratificar o protocolo no mês passado. No entanto, os EUA - maiores poluidores do planeta, com 36,1% das emissões totais de CO2 - resistem a assiná-lo. Washington avalia que as metas impostas terão custo alto demais para o país. O documento prevê que os 38 países considerados maiores poluidores diminuam, entre 2008 e 2012, seus níveis de emissão de gás carbônico e de outros cinco gases que contribuem para o efeito estufa. Em média, a redução é de 5,2% em relação aos níveis medidos em 1990.
CB, 07/11/2004, Mundo, p. 20
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