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País tem o maior programa de energia limpa

OESP, Vida, p. A26
11 de Nov de 2008

País tem o maior programa de energia limpa
Cadeia produtiva do etanol tem potencial para virar sorvedouro de carbono, diz especialista da indústria

A tecnologia Flex Fuel, que permite usar álcool ou gasolina no mesmo motor, foi lançada no mercado automotivo brasileiro em março de 2003. Rapidamente, a tecnologia ganhou a preferência dos consumidores e da indústria, de modo que, hoje, 25% da frota circulante e 70% dos veículos que saem das montadoras no País são do tipo flex, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
A produção de álcool combustível (etanol) avançou no vácuo dos motores, pulando de 14,8 bilhões de litros na safra de cana 2004 para 22,4 bilhões de litros, na safra 2008, segundo estatísticas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Na próxima colheita, a expectativa é produzir 27 bilhões de litros de etanol, o que proporcionaria uma economia de 53 milhões de toneladas de CO, em emissões evitadas, comparado ao que seria emitido com o uso de gasolina. É mais ou menos o que a Suécia emite em um ano, segundo dados oficiais das Nações Unidas.
A conta inclui tanto o álcool anidro (puro) quanto o hidratado, que é misturado à gasolina - diferentemente- da conta de 42,5 milhões detone-' ladas, que inclui só o combustível usado em motores flex.
`Não há um programa de energia renovável como o nosso'
"Nenhum país do mundo tem um programa de energia renovável da dimensão do nosso", diz o consultor de emissões e tecnologia da Unica, Alfred Szware, responsável pelo "carbonômetro", uma ferramenta do site www. etanolverde.com.br que mostra quanto CO, está sendo economizado como uso da tecnologia Flex Fuel. "Os Estados Unidos consomem mais álcool do que o Brasil, mas isso não passa de 3% da matriz energética americana", diz.
No Brasil, a cana-de-açúcar já supre 16% das necessidades energéticas do País, segundo Szware. "Estamos descarbonizando o nosso setor de transportes."
O etanol é um combustível chamado "renovável" porque o CO, que ele emite é reabsorvido pelas lavouras de cana que estão crescendo no campo (veja gráfico na página ao lado). Apenas uma pequena parte - cerca de 3% - fica na atmosfera. Segundo Sware, a cadeia do álcool só não é 100% renovável por causa do CO, emitido pelo diesel que é usado para movimentar as máquinas agrícolas e os canuínhões que transportam o etanol para distribuição.
Com a substituição desse diesel por biodiesel ou outras formas de transporte menos poluentes, é possível que o setor se torne até um sorvedor de carbono. "Em cinco anos, acho que esse porcentual que fica na atmosfera já deixará de existir", diz Swarc. "Vamos ter um sistema que absorve mais CO, do que emite."
Szwarc lembra ainda que o etanol tem outras vantagens ambientais. A fumaça produzida pela combustão do álcool é bem menos tóxica do que a dos derivados de petróleo. Por exemplo, contém pouquíssimo enxofre e nenhum benzeno. Herton Escobar

Acordo não compensa atraso
Medidas paliativas estabelecidas em TAC que adiou redução do enxofre no combustível terão impacto reduzido

Lígia Formenti
Brasília

O adiamento do uso de diesel mais limpo pela frota brasileira impedirá a redução da emissão de pelo menos 25.990 toneladas de material particulado na atmosfera do País entre 2009 e 2040.0 levantamento, feito pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente, comparou o impacto esperado com o cronograma inicial com a estratégia que de fato será cumprida, definida semana passada num acordo entre governo paulista, federal, Petrobrás, montadoras e Ministério Público.
Esses são os números mais otimistas. Num outro estudo, o instituto chegou a um resultado ainda pior: a atmosfera do País pode receber 35.853 toneladas de material a mais até 2040.
A Resolução 315 do Conama, editada em 2002, havia estabelecido que a partir de 2009 veículos brasileiros deveriam usar motores de nova geração, o que permitiria o uso de diesel 550, com 50 partes de enxofre por milhão de partículas (50 ppm). Hoje, o diesel usado pela frota brasileira é de 500 ppm nas áreas urbanas e 2.000 ppm no interior. Montadoras e Petrobrás, no entanto, afirmaram que não poderiam se adaptar até 2009.
0 acordo firmado adia o uso do S50 em todo o País, exceto algumas regiões metropolitanas. "As medidas compensatórias terão impacto reduzido, principalmente nas regiões metropolitanas", afirmou o diretor do Instituto de Energia e Meio Ambiente, André Luís Ferreira.
0 instituto havia realizado estudo sobre os efeitos da resolução do Conama há alguns meses, comparando com uma proposta do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para antecipar a vigência de outra etapa do Programa de Controle de Poluição do Ar para Veículos Automotores. Com a mudança, um motor ainda menos poluente, o S10, passaria a ser usado a partir de 2012. A idéia, que depois foi convertida em outra resolução, era uma tentativa de amenizar o impacto do atraso da implementação do novo motor para 2009. A conclusão do trabalho é que com a antecipação poderia haver uma mudança, mas no médio prazo.
Diante do resultado do primeiro trabalho, o Ministério Público Federal pediu ao instituto a realização de outro estudo, dessa vez para avaliara diferença entre o cumprimento da Resolução 315 e as medidas compensatórias, propostas pela indústria e Petrobrás. No cálculo, técnicos consideraram que o uso do S10 cumprirá o cronograma proposto pelo MMA.
"Antes mesmo da celebração do acordo, todos já sabiam do resultado pouco expressivo das medidas de compensação", conta. O documento serviu como base de discussão durante as negociações do acordo. Como havia divergências sobre o método usado para fazer o cálculo, o instituto resolveu fazer duas projeções. Uma delas mais conservadora; a outra, desenvolvida pelo instituto.
Como o impacto ambiental, seria muito limitado, outras medidas foram acertadas, como a construção, financiada por montadoras e Petrobrás, de um laboratório para teste de motores, avaliado em R$ 12 milhões. Terão ainda de destinar R$ 500 mil para financiar pesquisa sobre emissões de poluentes e outros R$ 200 mil para fiscalizar a emissão da fumaça preta por ônibus e caminhões em São Paulo. Além disso, a Petrobrás ficará obrigada a reservar R$ 1 milhão para o sistema de fiscalização da emissão da fumaça.

Números
818 toneladas por ano de material particulado deixariam de ser emitidas com S50 em 2009
685 toneladas/ano de material particulado deixarão de ser emitidas no interior em 2009 com as compensações
47 tonelladas/ano de material particulado deixarão de ser emitidas nas regiões metropolitanas do País em 2009 com as medidas compensatórias
2,8 t/ano serão evitados em 2014 graças à mudança do diesel ferroviário

OESP, 09/11/2008, Vida, p. A26

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