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País possui papel de liderança na área ambiental, afirma Ki-moon

FSP, Brasil, p. A23
Autor: KI-MOON, Ban
13 de Nov de 2007

País possui papel de liderança na área ambiental, afirma Ki-moon
Secretário diz que Brasil conseguiu aliviar a pobreza e avançar na área energética

Do enviado a Nova York

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, diz que a comunidade científica precisa pensar criativamente em como reduzir a dependência de combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, combater a pobreza. "Eu fico feliz de ver que seu presidente tem mostrado progresso em ambos os campos. O Brasil tem feito progresso em aliviar a pobreza e, ao mesmo tempo, tem sido muito criativo na questão de energia", disse. O sul-coreano diz ainda que o país adotou "um papel de liderança ao lidar com suas desigualdades sociais" e que "todas as estatísticas mostram progresso importante na área". (SD)

Folha - O propósito de sua visita é discutir aquecimento global e biocombustíveis. O sr. diz que o Brasil é líder em ambos os setores. Ao mesmo tempo, o relator especial da ONU para a fome, Jean Ziegler, critica o programa brasileiro e chegou a pedir uma moratória de cinco anos na produção de etanol. Como o sr. concilia as duas questões?

Ban Ki-Moon - Sim, o Brasil tem mesmo um papel de liderança na luta pela proteção de recursos naturais. A política do etanol brasileiro é um exemplo que os outros deveriam seguir. Ao mesmo tempo, há muita discussão sobre o impacto global que o aumento da produção de etanol causaria. Não só no Brasil, mas em muitos outros lugares. Vou visitar seu país para saber mais sobre essa situação. Vou visitar uma usina de etanol, mas também a Amazônia, para ver como o governo tem preservado a região, que é tão importante fonte de recursos naturais para a comunidade internacional.
Alguns -como você disse, o dr. Ziegler- têm expressado alguma preocupação quanto à segurança alimentar, especialmente quando a cana-de-açúcar é usada para a produção de etanol. Mas esses relatores especiais são independentes, andam com suas próprias pernas, não refletem necessariamente as posições da ONU. De qualquer maneira, é um problema sério, em que o diálogo será necessário. O crescimento do uso de biocombustíveis precisa ser comandado pelos interesses da sociedade de uma maneira sólida e sustentável. Tem de se levar em conta produção alimentar, preços e evitar o desflorestamento.
A comunidade científica tem de pensar criativamente em como reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, temos de pensar que a luta contra a pobreza é também muito importante e vital. Eu fico feliz de ver que seu presidente tem mostrado progresso em ambos os campos, o Brasil tem feito progresso em aliviar a pobreza, ao mesmo tempo tem sido muito criativo na questão de energia.

Folha - O sr. mencionou a redução de pobreza. Acontece que o Brasil continua ao mesmo tempo na lista das dez maiores economias mundiais e na das dez piores em distribuição de renda. O sr. vê a contradição? E uma solução?

Ki-Moon - É muito difícil e importante reconciliar essas duas questões, que caminham lado a lado. Sei que há desigualdades econômico-sociais no Brasil. O Brasil adotou de novo um papel de liderança ao lidar com suas desigualdades sociais. Tem projetos ambiciosos em andamento para combater a exclusão social. Todas as estatísticas mostram progresso importante na área.

Folha - O sr. assumiu o comando duma instituição em crise. Enquanto conversamos, há um protesto na porta da ONU contra a situação dos curdos, um dos vários que ocorrem todo dia. Quando o sr. acorda de manhã, pensa: "Estou começando mais um dia perdido"? Ou pensa: "Hoje, ajudarei a mudar o mundo"?

Ki-Moon - Estou totalmente comprometido em mudar essa organização. Quando assumi esse trabalho, em janeiro passado, essa organização como um todo era criticada por ser ineficaz, ineficiente, sem transparência e de não prestar conta de suas ações. Essas são as áreas exatamente que eu tenho tentado mudar. Em dez meses, já tivemos muita mudança na nossa cultura.
O multilateralismo virou um fenômeno muito importante na comunidade internacional hoje. Isso me anima muito, e a ONU está no centro disso. Quanto ao meu dia, todo dia é um dia novo para mim, começo sempre com esse sentimento. Assim, estou totalmente comprometido em mudar essa organização para virar o centro do multilateralismo mundial.

Folha - E os Estados Unidos o estão ajudando nesse caminho rumo ao multilateralismo?

Ki-Moon - Os Estados Unidos têm sido muito cooperativos e tem ajudado na reforma da ONU! Estou feliz de estar muito próximo deles neste momento. Têm um embaixador muito bom, Zalmay Khalizad, respeitado por todos os membros. Essa parceria é essencial e importante. Estou otimista em relação a uma cooperação e a um apoio maior dos EUA.

FSP, 11/11/2007, Brasil, p. A23

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