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País planeja 15 novas usinas na Amazônia

OESP, Especial, p. H4
05 de Nov de 2012

País planeja 15 novas usinas na Amazônia
Estudo mostra que demanda até 2015 exige no total 30 novas hidrelétricas

CLEIDE CARVALHO, O GLOBO

A oferta de energia elétrica no País tem de crescer 42.600 megawatts (MW) nos próximos dez anos, e o Brasil vai colocar em operação entre três e quatro usinas hidrelétricas por ano para atender à demanda. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já planejou a entrada em operação de 34 novas usinas hidrelétricas até 2021, sendo 15 delas na Amazônia Legal. Para Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, ampliar a oferta de energia hidrelétrica é condição básica para o desenvolvimento econômico, e a instalação de usinas nos rios amazônicos é inevitável.
"Não podemos abrir mão de construir hidrelétricas. Preservar o meio ambiente não é uma decisão excludente. É preciso achar um meio de a hidrelétrica ajudar a preservar", diz Tolmasquim.
A EPE propõe construir hidrelétricas do tipo plataforma, que depois de prontas ficariam isoladas na floresta, acessíveis apenas por helicóptero, inspiradas na extração de petróleo no mar. Tolmasquim reconhece que durante a construção é impossível não abrir estradas, mas ressalta que estas podem ser reflorestadas. A construção de novas hidrelétricas visa a atender ao consumo cada vez maior de energia no País. E o brasileiro ainda consome três vezes menos que o americano.
"A sociedade tem de decidir se ela quer ser abastecida de energia elétrica. E a alternativa às hidrelétricas são usinas térmicas a óleo, gás natural ou carvão. É uma energia muito mais cara, que prejudica mais o meio ambiente", afirma o diretor executivo da Brasil Hydro, Flavio Miguez de Mello.
O estudo da EPE para 2021 prevê que, à exceção das hidrelétricas, que representarão 12,6% da oferta de energia total no País, a participação das fontes renováveis só crescerá de 1,4% hoje para 1,6%. Com 2.200 horas de insolação, o Brasil nem sequer incluiu energia solar no planejamento.
"É preciso quebrar o paradigma de grandes hidrelétricas", diz o professor Paulo Henrique de Mello Sant'Ana, da Universidade Federal do ABC, coordenador de um estudo recém-lançado, patrocinado pela WWF-Brasil.
Sant'Ana lembra que a Dinamarca tem 30% de sua energia gerada pelos ventos e que a Alemanha, com muito menos sol que o Brasil, só perde para China e EUA em energia solar. "No lugar de expandir a oferta, temos de aprender a gerenciar a demanda. Estamos diante de uma revolução energética, e o Brasil não está olhando para frente."
Demanda. Dados da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) mostram que 8% da energia produzida se destinam apenas ao chuveiro elétrico. Isso corresponde a 15 mil MW no horário de pico, entre 17h e 22h. Segundo a Abrava, cada metro quadrado de coletor solar instalado para aquecer água pode evitar 56 metros quadrados de área inundada por hidrelétricas.
Já no estudo O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade no Século 21, patrocinado por cinco ONGs, incluindo o Greenpeace, o consultor em planejamento energético Roberto Kishinami afirma que o País precisa urgentemente planejar o aumento de sua eficiência econômica.
Ele lembra que a eficiência energética dos motores elétricos de uso industrial passou de 39,8% em 1984 para 47,1% em 2004. Segundo ele, um programa reunindo fabricantes de motores e instituições de pesquisa poderia, a curto prazo, trocar equipamentos antigos, reduzindo o custo e a necessidade de uso de energia nas indústrias, que respondem por metade do consumo total.
Ponto frágil. Além disso, a produção de energia na Amazônia implica mais investimentos em linhas de transmissão. E os problemas nestas têm sido apontados como os principais responsáveis pelos apagões. Só em interligações e para usar a energia de Belo Monte, Teles Pires e Tapajós estão previstos, no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), investimentos de R$ 37,4 bilhões. A distância tende a agravar as perdas do sistema. Segundo a EPE, o índice dessas perdas, hoje em 16,9%, fechará 2021 em 16,1%. No Chile é de 5,6%, e na Argentina, de 9,9%.
O professor da Faculdade de Administração e Economia da USP em Ribeirão Preto Eliezer Martins Diniz lembra que as decisões sobre hidrelétricas se baseiam em critérios econômicos e desenvolvimento econômico e social não podem ser alvará para atropelar questões ambientais.

OESP, 05/11/2012, Especial, p. H4

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