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País monitora florestas melhor que direitos de indígenas

Valor Econômico, Brasil, p. A2
17 de Dez de 2021

País monitora florestas melhor que direitos de indígenas
Monitoramento dos direitos humanos dos povos indígenas e comunidades tradicionais que vivem na floresta não tem a mesma sofisticação, aponta estudo

Por Daniela Chiaretti - De São Paulo
17/12/2021

O Brasil tem um sistema de monitoramento florestal abrangente, diverso e sofisticado. Mas o mesmo não acontece com o monitoramento dos direitos humanos dos povos indígenas e comunidades tradicionais que vivem na floresta.
Esta é uma das conclusões feitas pelos autores do estudo "O que o Observatório Florestal e de Direitos pode aprender do Brasil?", divulgado nesta semana em seminário promovido pela organização europeia Fern, que há 25 anos se dedica a proteger florestas e os direitos de quem depende delas.
O Observatório Florestal que a União Europeia vai estruturar para monitorar o desmatamento, a degradação florestal e o comércio ligado às florestas globais deve se relacionar com os sistemas de monitoramento já existentes nos países além de cooperar com ONGs locais, governos nacionais e subnacionais e pesquisadores, sugerem os autores do estudo.
Outro ponto é que a regulamentação proposta pelo bloco deveria prever que as informações alfandegárias dos produtos tivesse os códigos fiscais, para facilitar o rastreamento -- isso também para produtos processados, como carne enlatada e couro, por exemplo.
No evento, representantes da Comissão Europeia explicaram os avanços da regulamentação do bloco para impedir a entrada de produtos relacionados ao desmatamento e à degradação florestal.
A Comissão Europeia divulgou sua proposta em 17 de novembro. A iniciativa quer barrar importações de soja, carne bovina, café, cacau, madeira e óleo de palma proveniente de áreas desmatadas, além de produtos derivados como couro, chocolate e móveis. Novos itens serão incorporados gradualmente à lista.
"Entre os países com florestas, o Brasil tem o mais abrangente sistema de monitoramento de desmatamento além de várias iniciativas promissoras que permitem aos atores públicos e privados examinar a produção de carne e soja, assim como as cadeias de fornecimento, e ver se estão levando ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado", diz o estudo. Monitorar o desmatamento é uma ferramenta que, para ter impacto sobre a devastação e o abuso aos direitos humanos, tem que ser ancorada em legislação e compromissos corporativos, diz o estudo. "Os sistemas de monitoramento no Brasil são diversos e sofisticados. O problema é que não falam entre si nem com a questão comercial, que é o propósito da regulação europeia", diz o economista Peter May, um dos autores.
"O Cadastro Ambiental Rural é sempre citado como um instrumento que deve ser levado em consideração, mas está cheio de fragilidades que podem fomentar conflitos e violações de direitos", aponta Adriana Ramos, coordenadora do programa de políticas e legislação do Instituto Socioambiental (ISA), e uma das palestrantes no evento.
"O observatório deve incluir a violação aos direitos humanos e considerar diversas fontes de informação para o que está realmente ocorrendo em campo", segue Adriana Ramos. "
O observatório deve trabalhar com os dados que já existem nos países e em cooperação próxima com as ONGs locais, assim como apoiar iniciativas jurídicas para regularizar o uso da terra e reconhecer os direitos das comunidades e dos povos indígenas", disse Saskia Ozinga, coautora do estudo.

Valor Econômico, 17/12/2021, Brasil, p. A2.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/12/17/pais-monitora-florest…

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