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Pai e filho indígenas tomam banho de mar pela primeira vez

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20 de Jul de 2018

Acostumados com a água doce do Rio Papagaio, em Mato Grosso, Iamaxy, de 47 anos, e seu filho Typju, de 21, foram, no início de julho, conhecer a água salgada do mar de Santos, no litoral de São Paulo. Indígenas do povo Myky, os dois, que ali viam o mar pela primeira vez, se encantaram com as ondas e se assustaram com a poluição marítima.

A visita foi feita após a participação dos dois em um seminário na Universidade de São Paulo (USP) que debateu as várias modalidades de fala entre os indígenas. A acadêmicos e a outros indígenas, Iamaxi apresentou um tipo de fala cerimonial que os Myky usam quando se encontram com parentes de outra aldeia.

A jornada dos Mykys até o mar começou na aldeia Japuira, no Noroeste de Mato Grosso, na transição do cerrado para a Amazônia. A cerca de 600 km da aldeia, pegaram um avião na capital Cuiabá (que na língua indígena bororo significa ?lugar de caçar?). O destino foi o aeroporto de São Paulo em Guarulhos (nome que veio dos índios Guarus, que deram origem à cidade), de onde partiram para o seminário no bairro do Butantã (onde fica a USP e que em tupi significa 'terra dura'). Do Butantã, seguiram para a pequena praia do Sangava (do tupi, 'alagado').

Acostumados a lidar com barcos a motor, no sinuoso Rio Papagaio, os Mykys foram surpreendidos pelo convite de atravessar o canal do porto de Santos a bordo de uma canoa havaiana, modalidade que se popularizou no litoral brasileiro nos últimos anos.
Prestes a entrar na embarcação, de remos em punho e colete salva-vidas posto, o pai, Iamaxy, questionou se, uma vez no mar, poderiam ver baleias e tubarões. Um dos paulistas que também faria a travessia explica que há anos, as duas espécies se afastaram do movimento do maior porto da América Latina. "E aquele que pula?", insiste Imaxy. "Golfinho?". "É, não tem? Mataram ele?". Golfinhos às vezes são encontrados mortos perto dali, por causa de redes de pesca e da poluição.

Em vez de tubarões e baleias, a canoa cruzou o canal na companhia de navios cargueiros, com contêineres vindos de toda parte do mundo, além de motos aquáticas e pranchas de stand up paddle. Algumas tartarugas marinhas e garças chegaram a se aproximar da embarcação.

Após a travessia saindo de Santos, o grupo parou em uma pequena praia do Guarujá cercada pela mata, a praia do Sangava. Após hesitar bastante, Typju tomou coragem e mergulhou no mar pela primeira vez. "Achei meio diferente, eu achei muito salgado, assim, meio grudento", resumiu o jovem.

Enquanto isso, o pai, Iamaxi, observava impressionado a força das ondas. Achou o fenômeno interessante e o comparou com o movimento de um coração. "As águas vão e voltam, nunca correm só numa direção [como num rio]. Ele é como o sangue do nosso corpo, que pulsa sem parar. Por isso o mar deve ter um coração também, que nem a gente".

O povo Myky acredita que os elementos da natureza - montanhas, pedras e o próprio mar - têm um "dono espiritual". E, assim como os homens, esses "donos espirituais" podem morrer se não forem cuidados. "Tem que cuidar mais, né, senão acaba. E acaba morrendo tudo, as árvores que aí estão, os animais", disse ele.

Por isso, pai e filho se espantaram com a poluição que viram no mar de Santos. O óleo dos navios derramado na água e pedaços de plásticos boiando aumentavam a sensação de estranhamento dos dois. "Lá na minha aldeia quase não tem tanta poluição assim, de meio ambiente, com fumaça, essas coisas", disse Typju.

O convite ao passeio foi feito pelo antropólogo André Lopes, de 35 anos, que há 10 frequenta o povo Myky. Santista, André aproveitou a vinda para o seminário para levá-los à praia e para conhecer sua família. "Sempre que posso trago alguém de lá para conhecer a minha aldeia", brinca.

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