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Pacientes da Casai recebem atendimento inédito

A Crítica - www.acritica.com
10 de Ago de 2010

Câncer de colo do útero, de mama, de próstata e de reto são as doenças predominantes entre os indígenas alojados na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), localizada no quilômetro 25, da AM-010 (Manaus - Itacoatiara), de acordo com a enfermeira-chefe da Fundação e Hospital Adriano Jorge, Janaína Souza.

Muitos dos portadores destas doenças não têm previsão de alta e estão abrigados em uma área separada das demais, chamada Casa Nova, onde também ficam os doentes renais e portadores de cirrose hepática.

Os dados foram levantados durante atendimento inédito realizado ontem (09), por médicos do Adriano Jorge na própria Casai. Dezessete médicos especialistas e residentes fizeram o atendimento de 158 pacientes e acompanhantes destes.

O objetivo da ida dos profissionais da Fundação e Hospital Adriano Jorge é abreviar a estada dos pacientes portadores de doenças menos complexas em Manaus e acelerar seu retorno às suas aldeias.

"Com exceção dos 62 doentes crônicos, fizemos atendimento ambulatorial em 96 pacientes com as mais variadas doenças: malária, tuberculose, cardiopatia, hipertensão, doença de pele etc. Pedimos exame para a maioria deles, inclusive os que precisarão passar por cirurgia. Os pacientes que já recebem acompanhamento da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas (FCecon) foram atendidos porque muitos deles estavam se queixando de outras dores", explicou Janaína.

O coordenador regional daFunasa, Worney Amoedo, contou que a ideia de solicitar atendimento na Casai ocorreu devido à morosidade em se conseguir agendamento para os indígenas no SUS por meio do Sistema de Regulação e de Identificação do Usuário (Sisreg).

"Precisamos de um trabalho imediato. Os atrasos no agendamento levam até 15 dias. A demora pode ser maior ainda, dependendo da complexidade da doença", contou o coordenador.

O diretor de ensino e pesquisa da Fundação e Hospital Adriano Jorge, Fernando Fonseca, esclareceu que muitos pacientes não poderão retornar de imediato para suas aldeias devido à complexidade da doença.

Mas casos de hérnia, doenças na vesícula e ortopédicas e tumores, já poderão ter alta a partir da próxima semana.

"Queremos dar mais agilidade ao atendimento. Dar um tratamento diferenciado. São pessoas que ficam deslocadas de suas aldeias. Tem também o impacto cultural e isso penaliza muito o indígena", observou.

Muitos dos pacientes indígenas estão na Casai há mais de três meses, aguardando atendimento pelo Sistema Único de Saúde (Sus). Já os doentes de câncer acabam ficando no local durante muitos anos.

Alguns chegam até mesmo a abandonar o tratamento, segundo informou o enfermeiro-chefe da Casai, Nilton Thiago Batista.

"Eles dizem que, se vão morrer, que preferem ir embora e ficar com a família", disse Batista.

Peregrinação
Hospedada há quase dois meses na Casai aguardando atendimento para sua filha doente, Maria Auxiliadora Herculano, 23, da etnia cocama, está ansiosa para voltar para casa e rever os outros cinco filhos que ficaram na comunidade São Gabriel, no município de Santo Antônio do Içá - a 888 quilômetro de Manaus.

"Não esperava ficar tanto tempo. Estou preocupada, principalmente, com uma outra filha especial, que não tem perna nem braço e que ficou com minha mãe", disse Maria Auxiliadora, que é viúva.

om uma ferida no dedo médio direito, a filha de quatro anos diz sentir "dor" constante e já passou por diferentes hospitais de Manaus.

Nadi Kanamari, 42, veio de Atalaia do Norte - a 1.136,12 quilômetro de Manaus - com anemia e ainda aguarda atendimento. Com dificuldade para falar em português Nadi diz, por intermédio do marido, José Kanamari, "que não veio para morar em Manaus e que está tendo de ficar na Casai".

O professor Raimundo Francisco, 43, da etnia ticuna, teve que pedir licença para acompanhar a esposa, Gracinha Afonso, 44, transferida de Santo Antônio do Içá para Manaus devido a uma doença no pescoço.

"Estamos aqui há 45 dias. Fomos atendidos apenas uma vez. Fizeram exame, mas depois não nos disseram mais nada", contou.

Acordo
"Trouxemos vários especialistas em cirurgia, clínica médica, ortopedia, dermatologia, pediatria, cardiologia. O que puder ser medicado e tratado será feito. O que tiver que ser agendado, o paciente será encaminhado ao Hospital Adriano Jorge. Se tiver que fazer cirurgia, vamos pedir o exame e programar o procedimento num tempo curto para que eles não fiquem muito tempo aqui", declara o coordenador do Pólo de Telemedicina da Amazônia, da UEA, Cleinaldo Costa.

De acordo com ele, muitos indígenas estão morando na Casai e há casos de pessoas que não precisam mais estar no local.

"Falta articulação para resolver essas necessidades. Nossa proposta é fazer um acordo de cooperação técnica entre a Funasa, a UEA e a Fundação para dar atendimento mensal e abrir um agendamento para que haja um fluxo regular no hospital dos pacientes indígenas", destaca.

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