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Outro encontro, mais cobrancas

CB, Brasil, p.12
28 de Set de 2005

Outro encontro, mais cobranças
David Stang, irmão da freira morta no Pará, pediu às autoridades pressa no julgamento dos acusados. Ministro da Justiça alerta para possível adiamento pelos advogados de defesa
Paloma Oliveto
Da equipe do Correio
Quase oito meses depois do assassinato da freira norte-americana Dorothy Stang, morta em fevereiro na cidade de Anapu (PA), o irmão da missionária, David Stang, encontrou-se pela segunda vez com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A primeira visita aconteceu logo após o crime. Ontem, o assunto foi o julgamento dos cinco acusados pelo homicídio, que estão presos no Pará e devem receber a sentença até o final do ano. David Stang pediu ao ministro que os réus não fiquem impunes. O medo da família é que o julgamento ocorra nas comarcas de Pacajá ou Altamira, onde seria alto o risco de comprometimento do Judiciário com grileiros e madeireiros ilegais.
O advogado Brent N. Rushforth, que acompanha o caso nos Estados Unidos, afirmou que Bastos concordou com David Stang que o melhor local para ocorrer o julgamento é Belém. A família queria que o caso ficasse nas mãos da Justiça Federal. Mas, em junho, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido de federalização do caso, apresentado pelo então procurador-geral da República por Claudio Fonteles. O Ministério Público Federal não recorreu da decisão.
Apesar da desconfiança na Justiça do Pará, expressa em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, David Stang mostrou-se confiante. O ministro Márcio Thomaz Bastos demonstrou uma atitude bastante positiva em relação ao caso”, disse. O advogado José Batista Afonso, coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse que as autoridades sabem do comprometimento de alguns juízes paraenses com o poder econômico local. A impunidade é uma das caras da Justiça do Pará”, lamentou.
Adiamento
Durante o encontro com o irmão de Dorothy, Bastos aproveitou para alertá-lo que a defesa dos acusados deverá protelar o julgamento. A estratégia dos advogados é apresentar recursos para que os pistoleiros Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista sejam julgados este ano e os três acusados de encomendar a morte de Dorothy — Regivaldo Galvão, Vitalmiro Bastos de Souza e Amair Feijoli —, somente em 2006. David Stang também pediu a Bastos que a Polícia Federal continue investigando os assassinatos de líderes comunitários na região. Segundo o irmão da missionária, há mais gente envolvida na morte de Dorothy, além dos cinco que foram presos.
Antes de se encontrar com o ministro da Justiça, David Stang teve audiência com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto. Ele cobrou o cumprimento das metas da reforma agrária, uma das bandeiras levantadas por Dorothy. Também pediu mais investimentos no Projeto de Desenvolvimento Sustentável, modelo de assentamento defendido pela missionária. Rossetto garantiu que o governo vai honrar o compromisso de assentar 115 mil famílias até o final do ano.
Campeão no ranking de assassinatos por conflitos no campo, no Pará a disputa pela terra é apontada como principal fator da violência. Segundo dados da CPT, ocorreram este ano 14 mortes, incluindo a da missionária. Afonso disse que o clima continua tenso na região. Com certeza haverá mais mortes”, advertiu. David Stang entregou a Rossetto um documento com denúncias sobre grilagem, extração ilegal de madeira e trabalho escravo no estado.
O encontro com Bastos e Rossetto faz parte de uma extensa agenda cumprida por David Stang e seus advogados no Brasil. Na terça-feira, ele se encontrou com membros da CPT, do Ibama, do Incra, do Tribunal de Justiça e do Ministério Público. Ontem, foi ouvido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, pelo presidente do STJ, Edson Vidigal, e pelo ministro Arnaldo Esteves, relator do caso no STJ.

CB, 28/09/2005, p. 12 (Brasil)

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