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Outras Atafonas e o Quilombo de Periperi

Jornal Terceira Via - https://www.jornalterceiravia.com.br/
Autor: Ocinei Trindade
06 de Mar de 2022

Carolina de Cássia decidiu filmar pessoas que contam histórias de diversas comunidades nas regiões Norte Fluminense e Nordeste em 15 obras

Em 2020, a campista Carolina de Cássia decidiu colocar uma câmera na mão e transformar muitas idéias em filmes documentários. Ela é servidora pública e assistente social há 32 anos, além de mestre em políticas sociais. Em plena pandemia, acrescentou nova ocupação ao currículo, tornando-se dublê de cineasta documentarista. Desde então, entre curtas e médias-metragens, produziu e dirigiu 15 filmes, todos disponibilizados na plataforma YouTube. Os dois últimos são "Outras Atafonas", lançado no fim de fevereiro; e "Enterre meu umbigo no Quilombo de Periperi", disponibilizado no início de março na rede social gratuita.

Carolina conta que seu método de filmagem é inspirado, primeiramente, na curiosidade que sente por pessoas e comunidades isoladas. Sem patrocínio ou apoio financeiro, produz os filmes e terceiriza a edição. Vai a campo e registra a realidade espontaneamente. O roteiro surge diante do improviso. "Faço tudo. Filmo, dirijo, entrevisto. Apenas a finalização ou parte técnica é feita por Alexandre Ferreira e Júlio Coelho. Monto a história a partir do que experimento junto aos contadores de histórias. São centenas de horas gravadas que acabam ficando de fora na hora de montar e editar. Levo em torno de 30 dias para montar e finalizar um documentário. O material bruto está guardado. Coloco à disposição das universidades para doar. O IFF e a Uenf, por exemplo, podem usar em pesquisas futuras", sugere.

Carolina de Cássia diz que filma pensando nas pessoas pobres e trabalhadoras para que tenham voz e representação. "Penso nos familiares dessas pessoas, para que a memória seja resgatada e preservada. São pessoas muito sábias, cheias de conhecimento. Outro público a quem servem os filmes documentários são os profissionais que trabalham com linguagem, literatura, arqueologia, antropologia, entre outros. O poder público também pode se valer dessas obras para que possa produzir políticas públicas e preservar a questão cultural dessas pessoas e comunidades retratadas".

O documentário "Outras Atafonas" (2022) segue o processo básico de Carolina de Cássia ao entrevistar antigos moradores de diversas localidades. A ideia de fazer o filme nasceu em 2021, quando produziu o documentário: "Manguezais do Norte Fluminense: um registro histórico".
"Certo dia convidei Aristides Sofiatti para fazermos um filme sobre os manguezais. Ele prontamente respondeu que, em 1998, participou de uma parceria UFF/IFF percorrendo os manguezais de São Francisco de Itabapoana até Macaé, fazendo um registro audiovisual e que supostamente os arquivos estavam guardados no IFF. Fui à busca dos vídeos e encontrei. Recebi a autorização necessária para produzir o documentário com material de arquivo, seguindo o roteiro de Aristides, guardado décadas. Em fotos de crianças que fiz há 30 anos em Atafona, saí em busca delas para saber como estariam hoje. Durante a procura dessa meninada foram surgindo histórias inusitadas dos antigos moradores do Pontal, das ilhas da Convivência e do Peçanha.", conta.

Quilombo e Nordeste
Durante um mês, Carolina de Cássia percorreu alguns estados do Nordeste. Diz que conseguiu produzir material suficiente para cinco filmes. Um deles está pronto e disponível: "Enterre meu umbigo no quilombo de Periperi" (2022), feito no Piauí. Na cidade histórica de Amarante, ela ficou por dez dias no Quilombo de Periperi.
"Trata-se de uma cultura muito importante. Descobri, por exemplo, o pagode, ritmo ancestral, antigo e negro, comparado ao fado negro que temos em São Francisco de Itabapoana e Quissamã. Nesse documentário, destaco as comunidades camponesas de origens negra e indígena. Eles estão em processo de construção da identidade quilombola. Cito, entre outros, a história do senhor Raimundo, um homem que tem 51 anos de ativismo social. Começou pela Pastoral da Terra e passou por associações e movimentos sindicais", resume Carolina.

Títulos disponíveis no YouTube
Entre os documentários feitos por Carolina de Cássia estão: "Tia Zezé, presente"; "No meio do caminho tem Quilombo"; "Fraturas expostas da escravidão"; a série sobre Lagoa de Cima "Raízes", "Extravagâncias e cigarras", "Entre prosas e versos-doce amargo" e "Pantanal Goytacá-redes em pane"; além de "Sem tarjas: depoimentos sobre uso terapêutico da cannabis"; "Lembra-te"; "Nhanderú"; "Manguezais do Norte Fluminense: um registro histórico"; "Terra Gira"; "Quero ser tambor".
"Meus filmes trazem um olhar anticolonialista, a sabedoria popular, a criticidade e a resistência cotidiana que nos animam a continuar reconstruindo para além das ruínas, assoviando o hino do carnaval de Atafona e saboreando o por do sol no Pontal com gosto de pitanga", conclui.

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