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Os últimos povos desconhecidos da Amazônia brasileira

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: LEONÊNCIO NOSSA
24 de Nov de 2002

Expedição corta o Vale do Javari para demarcar o território de 6 grupos indígenas isolados

De volta às origens - Marebó Korubo vive às margens de Rio Ituí, longe da civilização, como no século 16

Certos de estar pisando no passado, indigenistas e mateiros entraram numa aldeia completamente desconhecida pela civilização branca. As fogueiras ainda estavam acesas. Os habitantes haviam corrido para o mato. A expedição dividia-se entre o risco de iniciar um conflito por causa da invasão acidental da aldeia e o fascínio de examinar de perto os objetos, as moradias, os instrumentos largados às pressas. Cada detalhe poderia dar pistas sobre uma etnia da qual não se sabe nada, nem a língua que fala, nem os hábitos, nem mesmo com quem se parece.

A descoberta foi um dos momentos mais tensos e perigosos de uma expedição da Fundação Nacional do Índio (Funai), com 35 brancos e índios aculturados, que, entre junho e setembro de 2002, percorreu 3.743 quilômetros de rios e florestas do extremo oeste do Amazonas, liderada pelo sertanista Sydney Possuelo. O objetivo era demarcar o território utilizado por seis grupos de índios isolados, de etnias desconhecidas, que vivem no Vale do Javari. A demarcação é fundamental para manter à distância garimpeiros e madeireiros, que começam a cobiçar aquela região ainda intocada da floresta.

Os contatos diretos com os índios isolados não estavam nos planos, mas, em 17 de julho, nove mateiros precisaram resgatar dois guias, que se desgarraram da equipe, perto de um igarapé, afluente do Rio Jutaí.

Acidentalmente, eles acabaram se deparando com malocas nunca vistas, nem mesmo nos sobrevôos de avaliação logística da expedição. Ao perceber a aproximação do grupo, os moradores gritaram e fugiram para a mata. Os indigenistas não chegaram a se encontrar com eles, mas ouviram barulho de passos apressados.

Malocas - A aldeia tinha 14 malocas de 2 metros de altura e 1,5 metro de comprimento. Deve abrigar 40 adultos e 10 crianças.

O cenário era de fartura, com potes de barro cheios de bebida de mandioca, cachos de banana, cestos com patauá e açaí e carne assada, de sete espécies de macaco diferentes, pelo menos.

A reportagem da Agência Estado acompanhou toda a expedição e registrou esses momentos. As fotos desta página são as primeiras imagens do interior de uma aldeia onde nenhum branco jamais havia posto os pés. Uma sensação comum no século 16, talvez, mas quase impensável no 21.

Com os dados coletados nesta aldeia, mais os vestígios da presença de outros cinco grupos de índios isolados, a equipe de Possuelo concluiu mais uma etapa do processo de mapeamento e fiscalização do Território Indígena do Vale do Javari. Agora, analisando as informações, os técnicos discutem a distribuição e forma de ocupação - fixa e sazonal - dos índios isolados, nas cabeceiras dos Rios Itaquaí, Jutaí e Jandiatuba. Embora a área já esteja demarcada desde 1996, este detalhamento, com a localização precisa das aldeias e áreas de uso, é importante para manter os grupos longe de conflitos e, o mais importante, para adiar ao máximo o contato com a civilização branca.

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