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Os problemas dos povos da floresta

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Romerito Aquino
24 de Mar de 2005

Reunião em Brasília destaca que no Acre há invasão de áreas indígenas por madeireiras peruanas e faltam planos de sustentação

Brasília - Apesar de estar na dianteira do desenvolvimento sustentável, servindo até de modelo para os outros estados da Amazônia, o Acre vive problemas de invasão de madeireiras peruanas em terras indígenas (principalmente nos Ashaninka do rio Amônia) e falta ainda planos de produção sustentáveis para a sua população tradicional.

Essa foi o problema básico levantado no estado pelas lideranças de 412 instituições representantes de povos das florestas que estiveram reunidas em Brasília para mapearem os graves conflitos sócio-ambientais presentes hoje nos estados da Amazônia Legal.

Liderados pelo Grupo de trabalho Amazônico (GTA), os militantes das instituições que atuam na região desenharam numa parede de mais de cinco metros de extensão, da sede da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), os enfrentamentos ocorridos no Maranhão, Mato Grosso e em outros sete estados do Norte. Ali, os pequenos agricultores, ribeirinhos, quebradores de coco, índios, extrativistas, assentados, quilombolas e autoridades municipais enumeram 187 problemas vividos pelas comunidades próximas às malhas hidrográficas e rodoviárias da região.

O cenário de problemas enumerado e desenhado pelos povos tradicionais da Amazônia é uma mistura de abandono do Estado e ausência de justiça. As conseqüências, segundo eles, vão desde os embates rurais, invasão e grilagem de terra, falta de infra-estrutura e saúde; de assistência financeira e técnica; até o desmatamento e a biopirataria.

Os representantes das organizações ambientais dos povos da floresta querem evitar a devastação do que resta da floresta Amazônica e tentam atenuar os efeitos da expansão comercial sobre a atividade de sustentabilidade das populações locais. Nas discussões foi apontada a necessidade de maior atenção dos órgãos federais com os movimentos sociais que ajudam na cobrança das atribuições dos estados.

Segundo afirmou, em entrevista, Sebastião Miguel Cruz, diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) do Pará, "os coronéis de hoje estão perdendo para o povo, pois as comunidades estão aprendendo a se mobilizar". "O governo não pode perder esse aliado", completou.

O mapeamento das pequenas entidades foi organizado pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) durante o Encontro dos Povos da Floresta. O GTA pretendia encaminhar ao governo federal, ainda esta semana, o resumo dos conflitos denunciados pelos participantes da reunião. Veja, a seguir, os principais problemas dos povos da floresta por estado da região.

Principais problemas por estado

Acre: Invasão de madeireiros do Peru em terras indígenas. Falta de planos de sustentação.

Rondônia: Desmatamento, invasões de áreas protegidas, com exploração de madeira e minério.

Pará: Grilagem, corrupção, impunidade e crimes relacionados à pesca.

Amazonas: Tensões nas fronteiras do estado provocadas por invasões e biopirataria.

Amapá: Excesso de monocultura, invasões e expulsão de nativos.

Tocantins: Posse irregular, impacto de barragens na bacia do rio Tocantins, assentamentos irregulares, destruição de matas ciliares.

Mato Grosso: Invasão de áreas de proteção e indígena, destruição de nascentes e rios, impacto ambiental provocado por construção de estradas.

Maranhão: Contaminação de água por agrotóxico, destruição de floresta e avanço do pólo siderúrgico.

Roraima: Assentamentos em áreas de preservação, expansão desenfreada de monocultura, privatização irregular de rios para turismo e lazer.

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