VOLTAR

Os índios e os resultados das eleições

Cimi
10 de Out de 2002

Os índios e as urnas ou as urnas contra os índios?

Um fato doloroso, que chamou a atenção, foi a queda de um avião que levava dez urnas para as comunidades indígenas do Alto Rio Negro, no Amazonas. Seus cinco ocupantes morreram e as dez urnas eletrônicas foram perdidas. Ao olharmos para o quadro dos votos recebidos pelos 20 candidatos indígenas, um pouco mais de 13.000 ao todo, percebemos que eles representam apenas uma pequena percentagem dos eleitores indígenas do país, cerca de duzentos mil. Daí se poderia concluir que o "voto étnico", continua sendo mais um debate e uma aspiração do que uma realidade.
Se buscarmos identificar as causas desse desempenho globalmente pouco expressivo das
votações dos candidatos indígenas, veremos que elas se devem a vários fatores. Dentre eles,
vale destacar a relação histórica viciada da política partidária dentro das aldeias, o alto custo das campanhas, o descrédito na própria política partidária e a falta da exata compreensão do espaço de exercício do poder na sociedade não indígena.
Apesar desse quadro, é possível verificar um crescimento do interesse e da consciência do
movimento indígena com relação à importância de sua participação nestas instâncias. Em
1998, tivemos apenas 14 candidatos indígenas. Nestas eleições, houve um aumento para 20.
Esse número, embora não tenha uma grande expressão em si, revela a tendência de enfrentar o desafio das urnas, para ali levar as lutas e os direitos indígenas. O que o momento eleitoral e os resultados devem recolocar a todos os cidadãos deste país e, em especial, aos governantes, é a urgente necessidade de se rever a relação destes povos com o Estado e a sociedade nacional, possibilitando a eles uma participação com formas e canais próprios. Ou seja, como já existe em outros países, que lhes seja assegurada uma participação diferenciada no espaço legislativo.
Se, por um lado, nenhum índio foi eleito, os candidatos indígenas de partidos de esquerda
conseguiram a maioria de votos (72%) e, certamente, a maioria dos votos indígenas terá sido para candidatos contrários à continuidade da atual política.
No estado do Acre, com a reeleição da senadora Marina Silva, houve a confirmação do seu
suplente, o indígena Antônio Ferreira da Silva, do povo Apurinã.
Abaixo, o quadro dos candidatos indígenas com a respectiva votação de cada um deles (fonte: Cimi e Tribunal Superior Eleitoral).
Candidatos indígenas ao cargo de Deputado Federal
Nome UF Povo Partido N.o Votos
Amanuá Seus MT Kamayurá PMDB 1.504
Evilasio Pereira da Silva PE Fulni-ô PPS 487
José Adalberto Silva RR Macuxi PC do B 2.291
Total de votos: 4.282
Candidatos indígenas ao cargo de Deputado Estadual
Nome UF Povo Partido N.o Votos
José Osair Sales (Siã) AC Kaxinawá PV 742
Mario Karipuna AP Karipuna PSB 1.977
Francisco de Oliveira Lima DF Tabajara PSL 85
José Alírio Gomes Índio MG Aranã PMDB 396
Marta da Silva Vito MS Guarani-Kaiowá PT 1.462
Mariano Justino Marcos Terena MS Terena PST 237
Laércio Marques Pereira MS Terena PV 116
Lúcio Paiva Flores MT Terena PT 779
Tapiet Kayapó PA Kayapó PSB 309
Almir Narayamoga Suruí RO Suruí PV 577
Clóvis Ambrósio RR Wapixana PT 269
José França Miguel RR Makuxi PRTB 273
Gilberto Pedrosa Lima RR Makuxi PSD 37
Rodrigo Batista Pinto RR Makuxi PFL 341
Jonas de Souza Marcolino RR Makuxi PFL 703
Sebastião Bento da Silva RR Wapixana PFL 143
Gabriel Poti SC Guarani PPS 643

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.