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Ortopedista da SBOT lidera expedição para atendimento gratuito dos povos mais isolados, na Amazônia

Segs- http://www.segs.com.br
22 de Mar de 2017

A população nativa da Cabeça-do-Cachorro, da Cachoeira do Iauaretê, nas margens dos rios Uapés e Papuri, num dos mais afastados rincões do Brasil, na selva da fronteira com a Colômbia e Venezuela, recebeu em março mais uma missão dos 'Expedicionários da Saúde'. Dessa vez a equipe contou com 32 médicos, 15 enfermeiros, 5 dentistas e pessoal de apoio, além de 17 toneladas de equipamento.

O grupo liderado pelo ortopedista Ricardo Affonso Ferreira, especialista em quadril e joelho, de Campinas, e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - SBOT, levou inclusive um completo hospital de campanha transportado por aviões da FAB.

"O custo dessa expedição chega a um milhão de dólares", explica Ricardo, que não recebe recursos do governo, mas sim da iniciativa privada e que, desde 2002, faz mutirões de cirurgia e de atendimento médico entre os índios e caboclos da Amazônia.

Entre as 38 expedições que já promoveu, o ortopedista chegou a levar sua equipe até ao exterior. É que quando da catástrofe que atingiu o Haiti, os 'Expedicionários da Saúde' foram para o país caribenho atender às vítimas do terremoto com o que chamaram de 'Kit Catástrofe'. "A situação era tão grave, que chegamos a usar pedras como peso de tração para os membros operados", mas no final fizemos 359 cirurgias e 1.500 atendimentos ambulatoriais.

Briga de faca foi o começo

Ricardo, que é de uma família de médicos - seu pai também é ortopedista e no Instituto - conta que em 2002 reuniu alguns amigos, cinco ortopedistas, um deles da Nova Zelândia e um anestesista para uma caminhada até o Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil.

"Tivemos que atravessar aldeias Yanomami", e numa delas dois índios tinham se pegado a faca, numa briga por causa de pilha de lanterna. "Médico nunca está completamente de folga e com o apoio da caixa de Pronto Socorro fizemos as suturas necessárias, que consumiram todo nosso estoque de fio de sutura".

O entusiasmo dos índios ao verem os médicos operarem e a carência de atendimento na região levou Ricardo a montar uma segunda expedição, dessa vez com o foco voltado para a Saúde.

O indiozinho que queria se matar

Um ano depois, Ricardo constatou o nível de carência desses brasileiros da mata ao conhecer um indiozinho da etnia Sateré Mawé que, por ter perdido uma perna devido a picada de cobra e prometia se matar se não pudesse voltar a pescar, caçar e... casar.

O índio tinha sido picado pela surucucu-pico-de-jaca, a maior serpente venenosa das Américas, de até 4,5 metros e cuja picada, geralmente nos membros inferiores, leva à amputação da perna, se não for tratada de imediato. "E da aldeia até Manaus são 15 dias de viagem, pela mata, pelos rios de 'teque-teque', 'voadeira' e depois de 'gaiola', até um hospital e o índio teve sorte de perder apenas a perna, e não a vida.

Com apoio da FAB e da iniciativa privada o índio foi levado ao Centro Marian Weiss, em São Paulo, recebeu uma prótese e voltou a andar. "Esse foi apenas uma parte de um caso", afirma Ricardo Affonso Ferreira pois, em idade de crescimento, o índio teve que voltar à cidade grande - ele que nunca saíra da mata -, para trocar a prótese à medida que seu corpo se desenvolvia. E até hoje os índios que os 'Expedicionários' enviam a Campinas para serem operados, são atendidos por ortopedistas voluntários, gratuitamente.

Outra luta complicada foi travada pelos expedicionários contra o tracoma, uma infecção causada pelas moscas 'lambe-olhos' que, se não tratada, leva a uma violenta conjuntivite, à dobra dos cílios para dentro e eventualmente à cegueira irreversível. "O problema é que o governo não reconhecia a presença da doença no Brasil", diz Ricardo, e assim não havia combate ao mal, que é muito contagioso, nem tratamento, situação que felizmente mudou.

Convênio com FUNAI e Ministérios

Com o tempo e os resultados obtidos, o trabalho da equipe do ortopedista foi se tornando reconhecido e foi montada uma parceria com o Ministério da Saúde, da Defesa e da Justiça, a FUNAI, o Exército e a FAB passaram a dar apoio. "Começamos a operar nas salas de aula das escolas das aldeias e cidadezinhas", explica ele, e recebemos material oferecido pela indústria de material cirúrgico e grande apoio da indústria, inclusive automotiva.

Hoje, cada expedição é aguardada com ansiedade na região, conta o especialista, há índios e caboclos que viajavam vários dias para serem atendidos onde montamos nossa base e operamos principalmente catarata, hérnia inguinal e escrotal, mas também túnel de carpo e fazemos até artroplastia total de quadril no meio da mata.

"Não é nem preciso dizer que o trabalho é extremamente gratificante, cada participante trabalha com a maior satisfação e olha que não é fácil", acrescenta. "Temos que preparar os médicos que precisam de instrução até mesmo sobre a maneira de se relacionar com os índios, uma cultura inteiramente diferente", mas tudo acaba dando certo. Até hoje, os 'Expedicionários da Saúde' atenderam a uma região do tamanho da França, e não pretendem parar, tanto que a responsável pela logística do grupo, Márcia Abdala, já está preparando nova expedição, para novembro.

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