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Organizações de mulheres indígenas denunciam feminicídio no Brasil

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13 de Ago de 2021

Organizações de mulheres indígenas denunciam feminicídio no Brasil
Casos recentes de violência contra mulheres e crianças indígenas motivaram as entidades a pedir justiça. No Amazonas, também ocorreu um assassinato de uma jovem de 15 anos

13/08/2021 18:50
Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Organizações de mulheres indígenas e movimentos sociais de Norte a Sul do país se dedicaram, nos últimos dias, a expor publicamente os casos de violência contra mulheres e crianças indígenas.
Nessas manifestações, as entidades também estão denunciando o que chamam de "ação brutal" com que o genocídio contra os povos originários no Brasil tem recrudescido no país "em tempos de ódio e omissão", tendo como alvo as mulheres indígenas.
Nos últimos dias, casos de violência sexual contra duas meninas indígenas chamaram atenção nos noticiários.
Em 4 de agosto, foi noticiado o assassinato da jovem kaingang Daiane Griá Sales, encontrada morta em uma plantação nos arredores de sua comunidade na Reserva Indígena Guarita (RS).
Após cinco dias, na segunda-feira (9), veio à tona a morte de Raissa da Silva Cabreiara de 11 anos, criança guarani kaiowá da aldeia Bororo no Mato Grosso do Sul.
Raíssa foi atirada de uma altura de 20 metros do penhasco de uma pedreira em Dourados (MS), próxima à sua comunidade. Antes de ser assassinada, a criança teria sofrido um estupro coletivo. Cinco homens foram presos e confessaram o crime, entre eles, três adolescentes e dois adultos, um deles, tio da vítima.
Violência em São Gabriel da Cachoeira
Casos de violência principalmente contra a mulher, ocorridos em São Gabriel da Cachoeira (AM), também mobilizaram o Fórum Interinstitucional de Políticas Públicas do município.
O fato que causou comoção em São Gabriel da Cachoeira e motivou a mobilização do fórum foi o assassinato de uma adolescente de 15 anos, indígena da etnia Baré, ocorrido no final de julho deste ano. A jovem foi morta a facadas e o acusado está preso.
Na última reunião do fórum, ocorrida em julho passado, as entidades da sociedade civil de São Gabriel da Cachoeira manifestaram repúdio à situação de insegurança na cidade e encaminharam aos órgãos públicos documento exigindo providências imediatas.
Manifesto contra feminicídio
Já as organizações indígenas em âmbito nacional e regional se posicionaram sobre esses feminicídios.
A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) lançou um manifesto contra a violência, impulsionada pelo caso de Daiane Griá Sales.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), em conjunto com todas as organizações regionais de base, declaram repudiar toda e qualquer violência contra mulheres indígenas e exigem que a justiça seja feita.
Para a indígena, antropóloga e integrante da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) Joziléia Daniza Kaingang, a questão do feminicídio remete à omissão ou ausência do Estado na elaboração e implementação de políticas públicas que garantam os direitos de indígenas e, especialmente, das mulheres.
"Trabalho com mulheres indígenas e na minha interação com as parentes, no trabalho como pesquisadora, no movimento social, o que tenho observado é uma crescente violência, especialmente física, contra mulheres indígenas. E isso passa por muitos fatores, como a falta de perspectiva de vida, a inserção de outros valores externos aos nossos povos, além do pouco território para sobreviver como viviam os nossos antepassados", expressou Daniza na entrevista concedida ao jornal Sul21.
Relatório sobre violência indígena
De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a morte das jovens Daiane e Raissa, assassinadas com violência e crueldade, carrega a opressão histórica e sistemática, representando casos que, na maioria das vezes, sequer são noticiados.
Segundo o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas lançado em 2020 pelo Cimi, 113 indígenas de 21 povos diferentes foram assassinados no ano anterior.
No estado do Amazonas, onde está a maior população indígena do país, houve 36 casos de violência, sendo 16 assassinatos, 9 ameaças de morte e 4 homicídios culposos desferidos contra a população indígena.
Ainda segundo o relatório de violência de 2020, o Amazonas foi campeão em mortalidade infantil indígena (248 casos) e 59 suicídios.
A violência contra os povos indígenas, por omissão do poder público, registrou 55 casos, sendo 7 mortes por dessassitência à saúde.
Com informações do Instituto Socioambiental (ISA).
Links:
Manifesto da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga): https://apiboficial.org/2021/08/05/manifesto-das-mulheres-indigenas-do-…
Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas lançado em 2020: https://cimi.org.br/wp-content/uploads/2020/10/relatorio-violencia-cont…

https://bncamazonas.com.br/poder/organizacoes-de-mulheres-indigenas-den…

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