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Organizações criminosas avançam sobre Mata Atlântica de SP e no de lotes clandestinos dobra, aponta relatório

G1 - https://g1.globo.com/
Autor: Por Vivian Reis, G1 SP
27 de Abr de 2020

Em agosto de 2019, primeiro dossiê elaborado pela equipe do vereador Gilberto Natalini indicou que havia 20 mil lotes clandestinos no extremo sul da capital; número saltou para 48 mil em abril de 2020.

Organizações criminosas continuam avançando sobre a Mata Atlântica, na Zona Sul da cidade de São Paulo, com a derrubada de árvores para implantação de loteamentos clandestinos em áreas de proteção ambiental, de acordo com o segundo dossiê sobre o caso publicado nesta segunda-feira (27) divulgado pela "Folha de São Paulo".

m agosto de 2019, o vereador Gilberto Natalini (PV) divulgou que foram desmatadas ao menos 90 áreas de Mata Atlântica, cerca de 20 mil lotes clandestinos com aproximadamente 500 mil árvores no extremo sul do município. Agora, esse número saltou para 48 mil lotes em abril deste ano.

As áreas devastadas compõem Áreas de Proteção de Ambiental (APA) e Parques Naturais, que abrigam nascentes, cujas águas são consumidas por mais de 5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo.

Com o documento em mãos, Natalini requereu na Câmara Municipal a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), mas o pedido não foi atendido, e ele também procurou o Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo para pedir providências.

O novo dossiê, divulgado nesta segunda-feira, mostra que o número de árvores derrubadas e de lotes clandestinos dobrou nos nove meses seguintes a divulgação do primeiro levantamento e aos pedidos de providências.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que a Polícia Civil atua para combater ações criminosas em áreas de proteção ambiental, com 307 inquéritos instaurados para apurar ocorrências dessa natureza. Do total de investigações iniciadas, 17 foram relatadas ao Judiciário, com o indiciamento de 7 pessoas envolvidas com essas práticas somente neste ano.

A pasta acrescentou que nos últimos seis meses, a Polícia Militar (PM) Ambiental realizou 324 atendimentos relacionados a delitos contra o meio ambiente, entre eles invasões em áreas de proteção e recuperação de mananciais. Na manhã deste domingo (26), por exemplo, a PM Ambiental prendeu em flagrante duas pessoas que negociavam lotes na região da represa Billings.

O G1 também questionou a Prefeitura de São Paulo se a gestão Bruno Covas (PSDB) tomou conhecimento da devastação de 48 mil metros quadrados de Mata Atlântica no extremo sul da capital paulista, mas não obteve retorno.

Novos bairros à luz do dia
A maior parte das devastações foram realizadas para venda de loteamentos irregulares no extremo sul da capital, de acordo com o relatório, e uma parte menor para descarte de material usado na construção civil, no extremo leste.

Ao todo, a equipe de Natalini apurou que há 160 áreas desmatadas de Mata Atlântica, que demandaram a derrubada de mais de um milhão de árvores. Nesses locais foram construídos cerca de 48 mil lotes. Cada um possui em média 150 m² e é vendido por R$ 40 mil. O faturamento das organizações criminosas, então, gira em torno de R$ 2 bilhões.

"O documento revela que o problema do desmatamento é social, de habitação, e indica que o município precisa promover o crescimento da cidade sem comprometer os recursos naturais, o clima e o bem-estar da população", disse Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica.
"Moradias devem ser implantadas em áreas abertas, sem vegetação, especialmente pela segurança da própria população que, ao ocupar córregos e encostas, fica vulnerável à enchentes e deslizamentos", continuou.

O estudo indica ainda que o procedimento irregular apenas agrava outros problemas da cidade, como o aumento da temperatura da capital, já que as árvores vaporizam o meio ambiente, e o aumento da poluição, pois as árvores retiram os contaminantes da atmosfera e o armazenam em troncos e galhos.

Além disso, loteamentos irregulares não têm infraestrutura adequada e significam esgotos a céu aberto e águas contaminadas sendo despejadas no que resta de água limpa.

Como solução, o gabinete de Gilberto Natalini propõe o retorno e fortalecimento da Operação Defesa das Águas, projeto implementado em 2012, que o vereador considera um exemplo de combate ao desmatamento, com um esforço conjunto entre Prefeitura de São Paulo e Governo do Estado.

O bioma Mata Atlântica ocupa 15% do território brasileiro, se concentra na costa, passa por 17 estados do país, e sua extensão hoje representa 12,4% da área original. A cidade de São Paulo abriga 17% dos remanescentes florestais.

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/04/27/organizacoes-crimi…

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