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Operários demitidos ao apoiarem índios no Rio querem pedir indenização

Folha.com - http://www1.folha.uol.com.br/
Autor: Diana Brito
30 de Jan de 2013

Os dois carpinteiros demitidos da reforma do Maracanã pretendem processar a construtora Odebrecht por danos morais. Os trabalhadores foram dispensados há duas semanas após demonstrarem apoio às famílias indígenas que ocupam o antigo Museu do Índio.

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Os dois disseram à Folha que foram "humilhados" por seguranças da empresa, que lidera o consórcio formado para reformar o estádio.

No sábado (12), ao ver que policiais do Batalhão de Choque cercavam o imóvel onde estavam os índios, José Antônio dos Santos, 47 anos, e Francisco de Souza Batista, 33 anos, decidiram pular o muro de 1,7 metro de altura que separa o estádio do antigo museu para apoiá-los caso houvesse uma ocupação da polícia.

Os policiais aguardavam uma decisão judicial para desocupar o prédio, que seria demolido.

"Tiramos o uniforme de trabalho e ficamos com os índios pouco mais de uma hora", conta Santos. Ao retornarem ao estádio, eles afirmam que foram cercados por pelo menos cinco seguranças da Odebrecht, que tomaram à força seus crachás de trabalho.

"Fomos humilhados na frente dos companheiros de trabalho. Todo mundo olhando como se a gente fosse bandido. Por que não chamaram a gente num canto para conversar?", lamentou Batista.

Os dois integravam o grupo de operários encarregados da construção da arquibancada, estrutura e acabamento do estádio. Contam que eram empregados da Concrejato, contratada pelo consórcio para trabalhos de concretagem.

Os carpinteiros perderam o emprego, mas ganharam a admiração dos índios. Na última semana, ao visitar o local, eles foram recebidos com sorrisos, abraços e apertos de mão.

Eles dizem que defendem a cultura indígena e a conservação do palacete como patrimônio histórico. "Já que estão reformando o Maracanã, por que não fazem o mesmo no Museu do Índio?" questiona Santos.

"Mesmo sem trabalho, a gente não se arrepende de passar para o lado dos índios. Agora, só entramos no Maracanã para ver futebol", diz Batista.

DEMOLIÇÃO

O antigo prédio do Museu do Índio, alvo de uma disputa judicial entre o governo do Estado e 23 famílias indígenas que ocupam o local desde 2006, não será mais demolido.

A decisão foi anunciada no início desta semana pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, que pretendia derrubar o imóvel para facilitar o acesso ao novo estádio do Maracanã, que está sendo reformado para a Copa de 2014.

A decisão do governador, no entanto, exclui a permanência dos índios no local. Técnicos da Secretaria de Assistência Social tentam chegar a um acordo com os ocupantes oferecendo, em troca da desocupação, o pagamento de aluguel social.

À Folha o cacique Carlos Tukano disse que só aceita negociar diretamente com o governador do Rio.

Cabral não informou o que pretende fazer com o imóvel. De acordo com o governo, o destino do prédio, após o tombamento, será discutido entre o governo do Estado e a prefeitura carioca.

A restauração será realizada pela concessionária que vencer a licitação do Complexo do Maracanã, cujo edital sairá em fevereiro.

O governo afirmou que o Ministério da Agricultura está desocupando os demais prédios existentes no local, que serão demolidos para garantir o fluxo de pessoas no entorno do estádio.

Há cerca de 15 dias, o governador afirmou que o prédio não tinha valor histórico e que a área de mobilidade era necessária.

"Ali era um prédio em ruínas que não tinha valor histórico porque não foi tombado. Aquilo é uma ação política em que se tenta impedir algo que vai servir a milhões de brasileiros, que é ter um novo Maracanã, com uma nova área de mobilidade", afirmou Cabral, na ocasião.

No último sábado, a Justiça expediu liminar impedindo a demolição do imóvel. A decisão chegou às vésperas do fim do prazo dado pela Procuradoria do Estado para a desocupação do prédio, prevista para ontem.

A liminar estabelece ainda uma multa de R$ 60 milhões para o caso de descumprimento da medida.

REALEZA

A área disputada por governo e índios pertenceu ao duque Luís Augusto de Saxe, marido da princesa Leopoldina, filha mais nova de dom Pedro 2o. Em 1915, o marechal Rondon criou, no prédio, o Serviço de Proteção ao Índio, atual Funai.

Em abril de 1953, foi então criado o Museu do Índio - com apoio de Darcy Ribeiro. Em 1977, o museu foi transferido para Botafogo, zona sul da cidade.

OUTRO LADO

Em nota, o consórcio Maracanã informou que os operários tiveram seus crachás apreendidos "pois infringiram de forma grave as normas de segurança no ambiente de trabalho".

O consórcio, formado pelas empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez para reformar o estádio, afirma ainda não ter havido "nenhuma ação excessiva por parte do consórcio, que reafirma seu respeito pelos trabalhadores e o estrito cumprimento da legislação".

A Concrejato, empresa terceirizada que presta serviços ao Consórcio Maracanã, afirmou que eles foram demitidos porque deixaram a obra, onde cumpriam expediente, desrespeitando as regras de trabalho.

"A medida tomada não foi influenciada pelo apoio dos funcionários à manifestação que ocorreu na mesma data, no prédio do antigo Museu do Índio. Tal fato ocorreu por eles terem pulado o muro do Complexo do Maracanã, uniformizados, expostos a acidentes e abandonando o local de trabalho durante o expediente sem qualquer solicitação de dispensa aos seus superiores", informa a empresa em nota.

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