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Operário de barragem é morto no Sul

FSP, Brasil, p. A8
11 de Nov de 2004

Operário de barragem é morto no Sul

Léo Gerchmann
Da agência Folha, em Porto Alegre

Um operário que trabalha no corte de 1,4 mil ha de mata entre os municípios de Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS) foi morto ontem com um tiro na cabeça. Lourival Tadeu da Silva, 36, trabalhava no desmatamento para a formação do lago onde se pretende construir a Usina Hidrelétrica de Barra Grande.
Agricultores que terão terras alagadas pela usina, organizados pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), montaram há duas semanas um acampamento na região para impedir o desmatamento. Alegam questões ecológicas e pedem a ampliação das famílias indenizadas -há 1.500 famílias a serem despejadas.
A polícia apura se os acampados teriam relação com o crime. Uma possibilidade investigada é que Silva tenha sido atingido quando seguia, de ônibus, para o trabalho. A outra, defendida pelo MAB, diz que a morte foi conseqüência de briga entre operários.
A briga pela desocupação se iniciou há seis anos, quando o governo fez estudo ambiental para a obra que indicou vegetação nativa na área. A licença para a construção foi concedida. O Ministério Público exigiu que a Baesa (Consórcio Energética Barra Grande S.A.) compense o desmatamento com projetos de preservação.
Há cerca de 300 acampados. Uma liminar chegou a impedir que a Baesa desmatasse a área, mas foi suspensa pela Justiça.
Em reunião ontem com representantes do Ministério de Minas e Energia e a Secretaria Geral de Governo, em Brasília, o MAB pediu uma solução negociada.
Em nota, a Baesa chama o assassinato de ""atentado". ""Não temos provas de que tenha sido o MAB, apesar dos indícios fortíssimos", disse o diretor-superintendente da Baesa, Carlos Miranda. O MAB afirma que foi uma briga comum e que não teria interesse em agredir um trabalhador.

Prejudicados por obras se uniram em movimento

O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) surgiu no início dos anos 80, a partir dos protestos de desalojados pela construção de barragens, especialmente nas regiões Sul, Norte e Nordeste do país.
No final dos anos 90, iniciou-se a nacionalização do movimento, que hoje mantém parcerias com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e com o MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores).
Em 1989, aconteceu o 1o Encontro Nacional de Trabalhadores Atingidos por Barragens.
Segundo seus líderes, o MAB se opõe às grandes barragens estatais, privadas, financiadas ou não por agências internacionais.

FSP, 11/11/2004, Brasil, p. A8

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