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Operação água limpa

Isto É, Ciência, Tecnologia & Meio Ambiente, p. 96
06 de Out de 2004

Operação água limpa
Projeto de despoluição aplicado em Veneza será testado nas águas da Baía de Guanabara

Celina Côrtes

Depois de consumir milhares de dólares sem retorno aparente, surge uma nova alternativa para despoluir a Baía de Guanabara. A partir deste mês, o governo italiano dá início a uma cooperação científica bilateral para oxigenar - sem remover - os sedimentos do fundo da baía, contaminado por compostos tóxicos e metais pesados. A experiência, inédita no País, foi aplicada com êxito em Veneza e pode devolver a vida às águas onde hoje só existem bactérias.
Um barco monitorado por satélite ficará ancorado em um dos trechos mais poluídos da baía, próximo à Ilha do Governador. O projeto será implantado numa área piloto de quatro quilômetros quadrados. Ali, o equipamento vai captar a água do fundo e depois lançá-la de volta já misturada à água de superfície, onde há oxigênio.
Parece simples. E é mesmo. O projeto Tagubar, sigla para Aeração Tangencial e Recuperação da Baía de Guanabara, começou em 1996, quando pesquisadores da Universidade Ca'Foscari, de Veneza, recolheram amostras de sedimentos da baía. Constataram que se o fundo fosse revolvido haveria liberação de gases tóxicos. "Queremos devolver oxigênio à água do fundo e recuperar a vida no local", diz a oceanógrafa Lucia Verçosa Carvalheira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). No início, os italianos investirão dois milhões de euros.
O Tagubar começou com a coleta de dados para identificar os pontos que concentram lama e areia ricos em matéria orgânica. Foram indicadas sete áreas críticas, contaminadas por esgoto doméstico e lixo tóxico proveniente das indústrias. "Nossa tecnologia poderá ser ampliada, dependendo da vontade política do governo brasileiro", diz o ecotoxicologista italiano Guido Perin, um dos coordenadores científicos do projeto.
Segundo Perin, a poluição dos canais de Veneza foi provocada por uma rápida proliferação de algas, atraídas pela liberação de nutrientes domésticos. Já o caso da Baía de Guanabara é mais complexo. Mesmo que os resultados sejam excelentes, o Tagubar representa apenas uma gota no oceano de sujeira em que se transformou a área de 377 quilômetros quadrados.
Criado em 1994, o programa de despoluição da baía não prevê o tratamento d'água, só o saneamento da região. Nos últimos dez anos, os programas de recuperação da baía consumiram US$ 800 milhões, mas suas águas permanecem em agonia. A despoluição prevê a recuperação de manguezais, a redução do lixo químico e do óleo constantemente derramado, além do tratamento de outros rios que deságuam ali. As obras de limpeza foram pautadas por desvios, superfaturamento e má gestão dos recursos. No ano passado, as irregularidades foram discutidas numa CPI implantada na Assembléia Legislativa. Enquanto isso, a baía continua linda - e fétida.

Isto É, 06/10/2004, Ciência, Tecnologia & Meio Ambiente, p. 96

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