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Onze contra onze mi

CIMI-Brasília-DF
Autor: Egon Dionísio Heck
03 de Jul de 2003

"Lula precisa do nosso voto, por isso acena com compensações para nossos Estados"

Onze parlamentares afirmam-se bem unidos e afinados contra os mais de onze mil índios da Raposa Serra do Sol, mais de quarenta mil índios do Estado de Roraima, e mais duzentos mil empobrecidos e excluídos do Estado. Tem ainda um reforço nada desprezível do governador Flamarion, nesta cruzada santa contra o direito sagrado dos índios às suas terras e respeito à sua dignidade. Completa-se assim a mesa dos doze. Locupletam-se. Jamais se viu tamanha unanimidade. E ainda afirmam que a unanimidade é burra. Mesmo que fosse, no caso compensa. Mas e o preço? Bem, que falem os privilégios (ou sacrilégios) muito bem guardados e garantidos pelos detentores do poder econômico e político local.

A "chantagem explícita", segundo expressão do presidente do Incra, prevê regalias compensadoras. Se não vejamos a modesta lista dos cinco pontos colocados como condição para desova dos 11 votos da bancada roraimense. A quem virá favorecer a Lei Marluce Pinto, que colocará todas as terras públicas da União, sob a batuta direta das oligarquias locais, para perpetuarem seu poder de barganha e voto coronelista? E o projeto de lei Jucá, que regulamenta a mineração em terra indígena, será para tirar os miseráveis da indigência, ou encher ainda mais o bolso de alguns abastados donos de mineradoras ou controladores dos garimpos, da comercialização dos minérios ou abastecimento desse negócio milionário? Ou alguém ainda tem a ilusão de que os beneficiados serão os índios? E a PEC 38 do Mozarildo, que é uma maneira disfarçada de impedir a demarcação das terras indígenas e criação de unidades de conservação em Roraima? Além disso, pedem recursos para a construção de armazéns e silos, para seus queridos apadrinhados arrozeiros, invasores da terra indígena Raposa Serra do Sol. Esses, que não passam de meia dúzia, certamente querem garantir e ampliar seus magníficos lucros, escondidos atrás do desavergonhado discurso de desenvolvimento. E de quebra estão pedindo boas estradas para que seus privilégios possam rodar sossegadamente nos carrões do ano, sem sobressaltos.

Caso esses seus modestos e desinteressados pleitos não sejam aceitos não votarão a favor das reformas. E arrematam: "isso não é bravata, é política".

Neste mês de julho está novamente anunciada a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. A guerra está declarada aberta.

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