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ONU identifica 13 bolsoes de extrema pobreza no Brasil

FSP, Brasil, p.A8
19 de Jan de 2005

Documento cita Nordeste entre regiões atrasadas notáveis
ONU identifica 13 bolsões de extrema pobreza no Brasil
Luciana Constantino
Da sucursal de Brasília
O Brasil aparece mais uma vez em um relatório patrocinado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como um país de contrastes. Ao mesmo tempo em que é citado entre países de renda média, capazes de serem doadores de verba e tecnologia para regiões pobres, tem destaque também pelos bolsões de pobreza, carentes de investimentos e estrutura.
Documento apresentado ontem em evento no Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em Brasília, cita entre "regiões atrasadas notáveis" o Nordeste brasileiro, classificado como "onerado pela vulnerabilidade à seca e uma longa história de grande concentração da posse da terra". Está ao lado da China Ocidental, do Sul do México e dos Estados do Ganges, na Índia.
Preparado por uma equipe internacional de 265 especialistas, o relatório "Investindo no Desenvolvimento: Um Plano Prático para Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio" traz recomendações para que os países alcancem as Metas do Milênio (veja quadro). O estudo foi divulgado oficialmente anteontem em Nova York pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Para dar um panorama de onde o Brasil precisa investir e aplicar as recomendações do documento, o coordenador de Avaliação de Políticas e Desenvolvimento Local do Pnud, José Carlos Libânio, usando dados do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) apresentou um mapa com 13 bolsões de extrema pobreza. Envolvem, ao todo, 600 municípios e uma população de 26 milhões de brasileiros vivendo em locais com índice de desenvolvimento humano equivalente ao de Uganda.
"O Brasil tem condições de tirar todos os 600 municípios da pobreza porque tem dinheiro e tecnologia. O que não quer dizer que não precisa também receber recursos internacionais para políticas específicas", afirmou Libânio, que elaborou o mapa.
O coordenador não incluiu no mapa as regiões metropolitanas, que, segundo ele, também têm bolsões de pobreza próprios. Citou como exemplo o Rio de Janeiro: "Dentro do município há índices de desenvolvimento comparados à Espanha, mas também à Suazilândia".
"Metas do Milênio"
Para o coordenador-residente das Nações Unidas, Carlos Lopes, existe uma "média virtual" no Brasil apontando que o país poderá atingir as Metas do Milênio até 2015, mas precisa investir nos bolsões de pobreza. Lembra que, para cumprir as metas, não depende somente do governo federal, mas também de Estados e municípios.
Questionado sobre a política social do governo Lula, Lopes disse que a considera positiva, com esforços para implementação e inovação das ações. Por outro lado, critica a fragmentação de projetos federais, estaduais e municipais.
Também deu destaque ao acompanhamento das condições de famílias beneficiadas por programas de transferência de renda, que, para Lopes, deve ser reforçado.
Superávit
O governo federal criou há mais de um ano um grupo técnico formado por vários ministérios responsável por acompanhar o cumprimento das Metas do Milênio com coordenação da Casa Civil.
Um trecho do relatório, apesar de não tratar diretamente do Brasil, diz que "em alguns casos, as exigências de superávit primário para orçamentos governamentais podem precisar de ajuste para permitir que os países aumentem os investimentos públicos para os Objetivos" do Milênio.
De janeiro a novembro de 2004, o governo brasileiro economizou R$ 829 bilhões para pagar juros da dívida.

FSP, 19/01/2005, p. A8

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