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ONU alerta para falta de alimentos

OESP, Economia, p. B11
25 de Mar de 2008

ONU alerta para falta de alimentos
Aumento nos preços já compromete programas de combate à fome

Jamil Chade

O aumento nos preços de alimentos em todo o mundo está abrindo um buraco nas contas das Nações Unidas ( ONU). A entidade decretou ontem "emergência global" e teme um aumento da fome no mundo. A inflação atingiu em cheio a organização que, por ano, precisa distribuir alimentos para os quatro cantos do mundo.

Com um déficit em suas contas, em razão da alta nos preços do milho, do trigo, da soja e do leite, a ONU enviou uma carta a todos os governos pedindo ajuda. Na região, Cuba e Haiti podem ser os países mais afetados pelo aumento da fome.

Assinada pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA), a carta deixa claro: a inflação nos preços de comida está a causar o aumento no número de famintos no planeta, que já chegam a 854 milhões. "Para o Programa Mundial de Alimentos, uma organização que depende de contribuições voluntárias, o impacto dos preços de alimentos, além dos combustíveis, representa nada menos que uma emergência global', diz a entidade.

A agência cita quatro motivos para o aumento nos preços. O primeiro é o aumento nos custos de energia e no valor do barril do petróleo. Outro problema seria a maior demanda por alimentos em países emergentes, como a China, além do maior número de casos de seca por causa de eventos climáticos, destruindo plantações em várias partes do mundo.

A avaliação da entidade é de que a disputa entre biocombustíveis e alimentos por terras, principalmente nos Estados Unidos, tem contribuído para a inflação.

Em média, os preços de alimentos básicos aumentaram em 40% desde junho de 2007, segundo a agência. Só no Afeganistão, onde a ONU distribui alimentos para 2,5 milhões, a alta de 70% no preço do trigo promete causar problemas sociais.

Na América Central, a alta de 100% nos preços do milho afetou toda a economia de alguns países. Em El Salvador, a agência aponta que o valor nutricional dos alimentos ingeridos pela população caiu em 60% desde 2006.

Para tentar lidar com a crise, a agência da ONU pede para que doadores incrementem as suas ajudas. Segundo a entidade, esse aumento de dinheiro não servirá para atender a novas pessoas ou eventuais crises específicas que surjam durante o ano. O objetivo é apenas conseguir distribuir alimentos para o mesmo número de pessoas que receberam em 2007.

A previsão original era de que a agência necessitaria para 2008 US$ 2,9 bilhões para comprar alimentos e distribuí-los. Desde que o cálculo foi feito, porém, vários dos itens fundamentais nas compras da ONU aumentaram. O resultado foi um buraco de US$ 500 milhões que a entidade agora precisa tapar.

A nova projeção é de que custará US$ 3,4 bilhões para alimentar 73 milhões de pessoas em 78 países mais pobres. Isso se os preços dos alimentos não aumentarem ainda mais nos próximos meses.

"Os atuais preços de alimentos significam que as populações mais pobres do mundo terão de gastar uma proporção maior de sua renda em alimentos. Isso pode querer dizer que vão comprar menos alimentos ou alimentos com menor valor nutricional. Ou que vão depender de ajuda para conseguir se alimentar", alertou a ONU.

Pelas projeções da agência internacional, 15 países estão em uma situação particularmente difícil se os preços das commodities não retroceder. Na América Latina, os problemas podem surgir no Haiti e em Cuba. Não por acaso, o ex-líder Fidel Castro tem intensificado seus ataques contra os subsídios americanos para a produção de etanol a partir de milho.

Na África, os mais afetados serão o Zimbábue, a Eritréia, Djibuti, Gâmbia, Togo, Chade, Benin, Níger, Camarões e Senegal. Tajiquistão e Iêmen também sofrerão.

Etanol de milho pode causar fome mundial, diz Nestlé

Jamil Chade

O presidente da Nestlé, Peter Brabeck, ataca os subsídios dos países ricos ao etanol e alerta que a produção de biocombustíveis a partir de milho pode causar fome no mundo. 'Se quisermos cobrir o crescimento de 20% na demanda por produtos petrolíferos por biocombustível, nos próximos anos não haverá mais o que comer', alertou Brabeck em uma entrevista publicada no jornal suíço 'NZZ'.

O executivo já vinha alertando para os riscos do consumo de água usada na produção dos biocombustíveis. Agora, Brabeck ataca os subsídios americanos. 'Dar enormes subsídios para a produção (de etanol) é inaceitável moralmente e irresponsável', afirmou.

Segundo ele, a produção acelerada de etanol a partir de milho vai provocar uma concorrência cada vez maior pela terra e, nessa disputa, a produção de alimentos deve perder. Para ele, o volume de milho que for utilizado para o combustível acabará faltando na mesa dos consumidores em todo o mundo.

Na semana passada, a Nestlé culpou o etanol e as commodities por sua decisão de aumentar os preços de seus produtos.

OESP, 25/03/2008, Economia, p. B11

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