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ONGs se retiram da COP-19 em protesto contra falta de avanços

O Globo, Ciência, p. 39
22 de Nov de 2013

ONGs se retiram da COP-19 em protesto contra falta de avanços
Organizações culpam lobby do carvão por fracasso nas negociações

Maria Clara Serra

As discussões sobre as mudanças climáticas se arrastam há 19 anos, e um acúmulo de frustrações parece ter feito os maiores incentivadores de um acordo climático atingirem seu limite. Na tarde de ontem, algumas das ONGs mais importantes do mundo se retiraram do debate alegando que os exaustivos dez dias da Conferência do Clima na Polônia não levariam a lugar nenhum enquanto o forte lobby das indústrias de combustíveis fósseis continuasse a barrar os esforços em vistas de um acordo.
- Quando chegamos na última semana, a tendência é que os ânimos estejam bastante acirrados - explica a observadora das negociações climáticas do Instituto Vitae Civilis, Silva Dias, que está na Polônia. - No entanto, o que diferencia essa conferência das outras é que não temos confiança na presidência, e o estágio das negociações está bem distante do que a gente precisa.
A demissão do Ministro do Meio Ambiente polonês, Martin Korolec, que preside a conferência, a realização concomitante da conferência internacional das indústrias do carvão e a posição contraproducente da Polônia na semana decisiva de negociações foram os pontos mais criticados pelas organizações.
- Saímos da conferência em sinal de protesto. A intenção foi deixar uma mensagem clara para quem ficou de que se as pessoas que mais lutam por esse processo resolveram sair é que foi um basta - afirma Renata Camargo, coordenadora de políticas públicas do Greenpeace, também em Varsóvia. - Queremos que eles tomem atitudes imediatas. A nossa sensação é que nada vai sair, mas sempre ficamos com a esperança de que aos 45 do segundo tempo eles consigam fechar um texto que seja compatível.
Além do Vitae Civilis e do Greenpeace, WWF, ActionAid, International Climate, Oxfam, Amigos da Terra e organizações de países africanos, das Filipinas e da Bolívia deixaram a COP. Em entrevista coletiva no Palácio da Cultura e Ciência, sede do encontro, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou que as ONGs "devem ter tido razões para se retirar", e que "espera que elas continuem presente nesse processo que temos pela frente até 2015", quando os países devem ratificar o segundo período de compromissos do Protocolo de Kioto.
Na madrugada da última quarta, uma discussão acirrada sobre a implementação do mecanismo de Perdas e Danos e a falta de avanço na questão fez com que o G-77 e a China se retirassem da sala de reunião. O mecanismo é um dos pontos mais críticos de embate entre os países desenvolvidos e as nações em desenvolvimento, pois envolve ajuda financeira para aqueles que sofrem com as alterações do clima.
- A questão das Perdas e Danos é muito importante e certamente deve ser parte do texto de 2015. Nós esperamos fazer progresso rápido nessa área e não vemos isso como ponto contrário à adaptação - afirmou Figueiredo. - Alguns dizem que se formos por esse caminho é porque já não podemos falar em mudanças. Prefiro pensar que temos que ter ambição e trabalhar duro em termos de adaptação, mas precisamos apoiar os países que sofrem com essas perdas e danos.
A conferência está marcada para acabar amanhã, mas já há sinais de que ela pode se estender, já que funcionários do Palácio da Cultura e Ciência foram avisados de que, talvez, tenham que trabalhar até domingo.

O Globo, 22/11/2013, Ciência, p. 39

http://oglobo.globo.com/ciencia/ongs-se-retiram-da-cop-19-em-protesto-c…

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