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ONGs, índios, Inpe, governadores, Di Caprio: veja quem já foi acusado por Bolsonaro de ligação com queimadas e desmatamento

G1 - https://g1.globo.com/natureza/noticia
30 de Set de 2020

ONGs, índios, Inpe, governadores, Di Caprio: veja quem já foi acusado por Bolsonaro de ligação com queimadas e desmatamento
Nesta quarta-feira (30), o presidente afirmou em discurso na ONU, sem mostrar provas, que organizações, em parceria com 'algumas ONGs', comandam 'crimes ambientais' no Brasil e também no exterior.

Por G1

Sem provas, o presidente Jair Bolsonaro voltou a acusar organizações não governamentais (ONGs) e organismos internacionais de relação com crimes contra o meio ambiente. O discurso gravado e apresentado nesta quarta-feira (30) na cúpula sobre biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU) não foi a primeira ocasião em que o presidente apontou culpados para os problemas ambientais do país.

Além das ONGs, que foram alvo do presidente pela primeira vez em 2019, Bolsonaro também já colocou em dúvida a ação de governadores, dos indígenas e dos caboclos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e até mesmo do ator Leonardo di Caprio (veja histórico abaixo).

Ao contrário do que afirma o presidente, especialistas apontam dados oficiais do próprio governo e estudos para mostrar que há relação direta entre atividades econômicas ilegais e o desmatamento e as queimadas:

Estudo divulgado na revista "Science" aponta que até 22% da soja e pelo menos 17% da carne bovina produzidas na Amazônia e no Cerrado e exportadas para a União Europeia podem ter rastros de desmatamento ilegal.
71% das queimadas em imóveis rurais neste ano na Amazônia ocorreram para manejo agropecuário, aponta o IPAM.
Dados de satélite monitorados pela Nasa mostram que, neste ano, 54% dos focos na Amazônia tiveram como origem o desmatamento.

Além disso, os especialistas apontam o desmonte da fiscalização do Ibama e a queda nas multas como um dos principais fatores do aumento dos crimes. Um dos exemplos da mudança de postura do governo, segundo os ambientalistas, é o veto à destruição de maquinário usado no desmatamento ou no garimpo ilegal.

Abaixo, veja as acusações anteriores do presidente contra ONGs, governadores, povos tradicionais e o Inpe:

Acusações contra ONGs
Em 21 de agosto do ano passado, quando a Amazônia vivia o auge das queimadas que foram recorde no bioma, Bolsonaro disse que organizações não governamentais (ONGs) podem estar por trás de queimadas na região amazônica para "chamar atenção" contra o governo do Brasil.

À época, investigações mostraram que fazendeiros, empresários e produtores rurais estavam envolvidos em um dos crimes ambientais de maior destaque do ano passado, ação que ficou conhecida como "Dia do Fogo": incêndios florestais nos municípios de Altamira e Novo Progresso, sudoeste do Pará. Os incêndios foram provocados intencionalmente em 10 e 11 de agosto, poucos dias antes da fala de Bolsonaro.

Questionado por jornalistas, o presidente chegou a admitir a possibilidade de participação de fazendeiros, mas novamente disse que a maior possibilidade era de que o fogo tivesse relação com ONGs.

"Pode, pode ser fazendeiro, pode. Todo mundo é suspeito, mas a maior suspeita vem de ONGs", declarou o presidente.

Em setembro, o presidente chegou a chamar as ONGs de um "câncer" que não conseguiu matar. Nurit Bensusan, bióloga e membro do programa de política e direitos do Instituto Socioambiental, disse que a narrativa de Bolsonaro acaba "ampliando a tensão" com o tempo e traz risco para a ação dos protetores do meio ambiente que atuam em campo, em biomas como a Amazônia e o Pantanal.

"É uma coisa que vem crescendo com um conjunto de recados. O governo dirige essa raiva para as ONGs. Primeiro, elas são culpadas porque querem conservar e nós não. Agora, querem inverter a lógica: são as ONGs que destroem e somos nós estamos tentando proteger. É claro que isso vai ter um impacto no sentido de criar muito mais conflitos. Conflitos que já vem crescendo com o tempo", disse Bensusan.

Caetano Scannavino, diretor da Saúde e Alegria, no Pará, diz que o discurso "não surpreende". Segundo ele, mostra um desconhecimento do trabalho das ONGs e não separa o 'joio do trigo'.

"Existem ONGs e ONGs, mas em geral boa parte delas faz um trabalho seríssimo, inclusive em cooperação com governos, órgãos federais também, autoridades policiais, militares, bombeiros. Ainda mais em uma região como a Amazônia, que é muito grande, onde as operações são caras, é fundamental somar esforços. Não cabe as ONGs substituir o estado, mas apoiá-lo. O que não faz sentido é declarar guerra com quem está ajudando".

Acusação contra governadores
Na mesma ocasião em que acusou ONGs no ano passado, o presidente também atacou governadores da região. Sem dar nomes ou provas, disse que eles eram coniventes com a destruição do meio ambiente.

"Tem governador - não quero citar nome - que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal. Tem estados aí, que não quero citar, na região Norte, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndio. Está gostando disso daí", disse Bolsonaro.

Acusação contra índios e caboclos
Na terça-feira (22), em seu segundo discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), o presidente disse que o Brasil é "vítima" de uma campanha "brutal" de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal, apoiada por "instituições internacionais" unidas a associações brasileiras.

Ele afirmou ainda que, na Amazônia, os incêndios ocorrem apenas nas bordas da floresta e são realizados pelo "índio" e pelo "caboclo".

Entidades classificaram o discurso como "delirante", "negacionista" e "infundado".

O cacique Raoni Metukture, um dos mais reconhecidos e importantes líderes indígenas brasileiros, diz que Bolsonaro mentiu no discurso na ONU e que quem ateia fogo são fazendeiros, madeireiros e garimpeiros.

A associação entre povos tradicionais e queimadas não é nova para o presidente. Em seu primeiro discurso na ONU, em 24 de setembro de 2019, ele já tinha citado: "Existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência".

Acusação contra Leonardo Di Caprio
Em novembro do ano passado, uma nova declaração do presidente sobre as queimadas na Amazônia voltou a provocar críticas e reações na imprensa internacional. Bolsonaro acusou o ator americano e ambientalista Leonardo DiCaprio e a ONG WWF de financiarem queimadas criminosas no Brasil. Ele acusou DiCaprio de dar dinheiro para "tacar fogo na Amazônia".

Bolsonaro se referia aos quatro brigadistas, da região de Alter do Chão, no Pará, que foram presos, depois de apontados pela Polícia Civil como suspeitos de atear fogo na floresta para obter doações.

Leonardo Di Caprio rebateu Bolsonaro: "Embora mereçam apoio, nós não financiamos as organizações citadas".

Acusação contra o Inpe
Em julho de 2019, quando a imprensa começou a apontar o aumento nos alertas de desmatamento em alta, Bolsonaro acusou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de mentir sobre os dados e de estar "agindo a serviço de uma ONG".

"A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão", disse à época.

Sem oferecer prova, o governo contestou os dados de desmatamento e sugeriu a licitação de um novo modelo de monitoramento, mas disse que não iria alardear os dados se os julgasse corretos.

O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, rebateu Bolsonaro e foi exonerado.

"Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas", afirmou Galvão. "Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer", disse Galvão.

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