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ONGs e governo tentam impedir novos suicídios

CB, Brasil, p. 15
18 de Out de 2006

ONGs e governo tentam impedir novos suicídios

Organizações governamentais e não governamentais se mobilizam para tentar reverter a ocorrência de novos suicídios entre os índios guaranis caiouás da reserva indígena de Dourados, no sul de Mato Grosso do Sul. As iniciativas vão desde o reforço na atenção à saúde mental dos índios à proposta pedagógica que ensine as novas gerações a lidar com o choque entre a tradição dos povos indígenas e a influência de outras culturas. Apesar dos esforços, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) considera a situação precária e delicada. Além da falta de terra e de recursos naturais enfrentada pelos índios caiouás, a perda da identidade é agravada pelas dificuldades econômicas e sociais.

"O confinamento em espaços físicos menores desarticula os laços sociais", afirma o coordenador do Cimi no estado, Egon Heck. Ele observa que o povo guarani caiouá não tem estrutura para o convívio de muita gente em pouco espaço de terra. Nos 3,5 mil hectares da reserva de Dourados, vivem 12 mil índios. "Três índios por hectares é um problema para os caiouás", critica.

Para amenizar o impacto cultural, o Cimi desenvolve um trabalho de apoio à formação de professores que atuam nas reservas. "O projeto busca preparar os docentes para ajudar as crianças indígenas no entendimento das diferenças culturais", destaca. De acordo com Heck, o modo de vida do povo guarani caiouá é contrário ao acúmulo de riquezas econômicas. "Eles vivem a lógica da reciprocidade", explica.

O suicídio é considerado pelos guaranis caiouás como um tipo de feitiço. Os próprios líderes indígenas evitam falar sobre o assunto. "O silêncio é uma tática cultural", explica a assessora do Cimi, Priscila Carvalho. Só nas duas primeiras semanas de outubro, dois adolescentes cometeram suicídio em aldeias da reserva. De 1990 a 2000, foram registrados 278 suicídios. Nos últimos cinco anos, há registro de 300 casos.

Os primeiros registros de suicídios entre os índios guaranis caiouás remonta ao ano de 1978. Naquele ano, o historiador Antônio Brand, da Universidade Católica Dom Bosco, de Campo Grande, decidiu investigar o assunto. A conclusão a que chegou é que não se pode reduzir a questão a uma causa única. Mas há uma razão principal, segundo Brand, que trabalhou no Cimi entre 1983 e 1991: o confinamento de muitos índios em pequenos territórios. De acordo com estudos antropólógicos, o espaço é insuficiente para a sua sobrevivência física e cultural.

Drogas e álcool
Segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), no Mato Grosso do Sul a média de morte por suicídio tem sido de um índio por semana. Responsável pelo serviço de saúde indígena, a Funasa atua na região com um programa de saúde mental. No momento, dois especialistas estão no local coordenando as ações da Funasa, mas a situação foi agravada pelo consumo de drogas e bebidas alcóolicas nas aldeias.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) fez um levantamento sobre o problema do alcoolismo e do consumo de entorpecentes entre os índios no Brasil. Foram mapeadas as etnias em situação considerada mais crítica. Além dos guaranis caiouás, a pesquisa destaca como grave a situação das etnias Tikuna, no Amazonas; Pataxó, na Bahia; Xakriabá, em Minas Gerais; e Kaingang, na Região Sul do país.

De acordo com a assessoria de imprensa da Funai, no início do ano foi feita uma oficina com os índios pataxós e, há duas semanas, na reserva dos ticunas. A intenção é amenizar a desestruturação familiar causada pelo alcoolismo. O vício é apontado como agravante para o aumento da violência. Entre os índios sul-matogrossenses foram registrados quatro assassinatos em outubro. Segundo o Cimi, das 43 mortes entre indígenas no Brasil, registradas no ano passado, 29 ocorreram no estado. (Hércules Barros)

O NÚMERO
Morte nas aldeias
300 suicídios ocorreram nas aldeias indígenas de Mato Grosso Sul nos últimos cinco anos

CB, 18/10/2006, Brasil, p. 15

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