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ONG Índias em Ação denuncia descaso

O Progresso - www.progresso.com.br
Autor: Marcos Santos
27 de Nov de 2008

Organização Não-Governamental cobra atuação maior do poder público nas aldeias de Mato Grosso do Sul

DOURADOS - A Organização Não-Governamental (ONG) Índias em Ação, fundada por um grupo de mulheres de cinco etnias diferentes com presença em Mato Grosso do Sul, está denunciando o descaso de organismos oficiais como a Fundação Nacional do Índio (Funai) e Fundação Nacional de Saúde (Funasa) na atenção básica às famílias que vivem nas aldeias do Estado. "Além de falhar na execução dos projetos, esses organismos decidem lá em Brasília o que é melhor para os índios aqui em Dourados e nas demais aldeias de Mato Grosso do Sul", reclama a pedagoga Dirce Veron, presidente da Índias em Ação, durante entrevista na redação de O PROGRESSO. "Esses organismos deveriam elaborar políticas públicas de acordo com as reais necessidades dos povos indígenas, mas isto será possível apenas no dia em que nossa gente for ouvida pelas autoridades federais", conclui Dirce.

Ela conta que a Índias em Ação já está atuando nas aldeias do Estado há mais de cinco anos, mas que a ONG ganhou personalidade jurídica há menos de um ano. "Quando batemos na porta dos organismos federais em busca de melhorias para os povos indígenas e ouvimos deles que nossa ONG não poderia justificar nada porque não existia juridicamente, decidimos estruturar nossa entidade e agora estamos exigindo que as autoridades escutem as mulheres índias na elaboração de políticas públicas", explica a bacharel em Direito, Elisabete Moraes, vice-presidente da Índias em Ação.

Toda diretoria da ONG é composta por mulheres que têm formação superior e é representada pelas etnias terena, caiuás, guarani, kaigang e xavantes. "Deixamos as aldeias para estudar, ampliar nossos horizontes, conhecer novas realidades e, principalmente, para conhecer nossos direitos e deveres", explica a psicóloga Elizete Moraes, diretora social da Índias em Ação. "Agora estamos levando para as aldeias, as experiências adquiridas tanto nos bancos acadêmicos, quanto nos congressos, seminários e cursos que realizamos", enfatiza Elizete. Ela conta que a principal linha de atuação da ONG é voltada para a elaboração de políticas públicas de saúde para a mulher, mas que isto não impede que a Índias em Ação também trabalhe em outras áreas que envolvam as mulheres indígenas.

A falta de atenção básica de saúde nas aldeias é o principal problema apontado pela ONG. "Precisamos de programas preventivos específicos para as mulheres indígenas, bem como a contratação de mais mulheres para atuar como agentes comunitários de saúde", explica a também bacharel em Direito, Daniele C. Vieira, 1ª secretária da Índias em Ação.

"O planejamento familiar, com a distribuição de preservativos, realização de vasectomia entre os homens e de laqueadura entre as mulheres com muitos filhos é uma necessidade nas aldeias de Mato Grosso do Sul", defende Daniele. "Aqueles que apontam o planejamento familiar como fator de risco de extinção das etnias não sabem o que estão falando e deveriam pensar nas mulheres que têm 10, 12 filhos e não conseguem criar", defende a bacharel.

A pedagoga Dirce Veron entende que o controle de natalidade é necessário para melhorar a qualidade de vida dos próprios índios. "A Funasa, sem qualquer explicação, parou de distribuir anticoncepcional nas aldeias e com isto, o índice de natalidade deu um salto imenso, já que as meninas estão engravidando cada vez mais precocemente e muitas chegam aos 20 anos já com cinco ou seis filhos para cuidar", observa.

"Além da gravidez na adolescência, motivada na maioria das vezes pela falta de programas de educação sexual, ainda existem problemas mais graves como as DST/Aids, a exploração sexual e prostituição das nossas meninas, sem que as autoridades adotem medidas eficientes para solucioná-los", reclama.

CAPITANIA

Além de políticas públicas de saúde, a ONG Índias em Ação também promete lutar para mudar culturas que predominam nas aldeias indígenas de Mato Grosso do Sul. "Vamos denunciar a combater a violência contra a mulher, exigindo que a Lei Maria da Penha seja aplicada contra os homens que agridem suas esposas ou filhas", avisa Elisabete Moraes. "Não vamos permitir mais que as mulheres vítimas de violência procurem a Funai para denunciar seus agressores e não sejam atendidas. Além disto, vamos iniciar um movimento para cobrar das autoridades a instalação de uma Delegacia da Mulher na Reserva Indígena de Dourados e nas demais reservas do Estado", enfatiza.

Outro desafio da ONG é conquistar o direito de capitania e até de cacique para as mulheres indígenas. "Hoje, o sistema que predomina nas aldeias é altamente machista, onde o homem manda e a mulher só obedece, mas se o mundo sofreu transformações nas cidades, também mudou nas aldeias indígenas e nada mais justo que as mulheres possam ter igualdade de direitos, chegando, inclusive, aos postos de cacique e capitã, afinal, mulher índia trabalha de sol a sol, planta, colhe, coloca toda produção na carroça, sai para vender na cidade e ainda cuida das crianças", finaliza.

A Índias em Ação também tem na diretoria as seguintes mulheres: Katiusce Moraes, Maria de Fátima Cavalheiro, Gecilda Kaigang, Júlia Cavalheiro e Samanta Juruna. A ONG recebe denúncias e agenda atendimento às mulheres indígenas pelo telefone 9624-0644, da presidente Dirce Veron.

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