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Onde estão os prédios verdes?

Revista da Folha, Urbe, p. 7
16 de Ago de 2009

Onde estão os prédios verdes?

por Ricardo Julião

A arquitetura sustentável praticamente não existe na cidade de São Paulo. Minha preocupação é que não há mudanças, a não ser demagógicas, nem do setor privado nem do setor público. O que aparece no marketing imobiliário como "edifício verde", só porque recolhe a água da chuva para molhar os jardins ou lavar as calçadas, é insignificante. Um prédio verde é muito mais do que isso. Ainda fazemos nossas construções como no século 18. Usamos formas de madeira para moldar as colunas, madeira que depois será queimada; poucas empresas utilizam as metálicas, mais caras, mas reutilizáveis. Quando isso acontece, a natureza agradece.

A cidade é de cada um de nós. Estamos iniciando o processo de conscientização, mas não acredito que as pessoas estejam fazendo os pequenos sacrifícios. Sabemos, no entanto, que só teremos mudanças se a sociedade pressionar o poder público e o setor privado. Um projeto arquitetônico minimamente sustentável custa mais caro, e, nesta hora, soam mais alto os interesses econômicos do morador ou do empreendedor.

Há uma definição excelente do que é sustentável. Não lembro o autor, mas vale citar: "É suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas".

Para construir um prédio, retiramos da natureza o minério de ferro, o calcário para fazer o cimento, o barro para fazer o tijolo. E o que acontece? O prédio é construído e depois são quebradas as paredes para colocar fios elétricos ou instalação hidráulica. Há um desperdício que poderia ser evitado. Precisamos reduzir o consumo de energia, recorrer a fontes alternativas.

Um exemplo de prédio sustentável foi construído em Londres, pelo premiado arquiteto Norman Foster. A Torre Millenium, de 385 metros, tem gerador movido pelo vento que atende 70% das necessidades de energia. A água da chuva é reaproveitada nos banheiros. Seis aberturas percorrem sua estrutura como uma chaminé para ventilação natural de todos os cantos e um computador checa a temperatura externa antes de abrir ou fechar as janelas, o que reduz à metade o consumo de energia.

São recursos ainda inalcançáveis, mas é importante estarmos atentos. A forma de construir e habitar os espaços da cidade é fundamental, e essa informação vem se perdendo com o tempo.

Se arquitetos e urbanistas se comprometessem a difundir maneiras de construir com maiores ganhos sociais e menores impactos ambientais, sem que isso se tornasse inviável economicamente, estaríamos reeducando toda a cadeia produtiva e tornando real a ideia da responsabilidade com a sustentabilidade. A sustentabilidade só será realmente viável se o desejo de mudança estiver em cada um de nós.

Ricardo Julião, 62, arquiteto, conselheiro e presidente do Comitê de Responsabilidade Social da Associação Alumni, é o colunista convidado desta edição.

revista@grupofolha.com.br

Revista da Folha, 16/08/2009, Urbe, p. 7

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