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Ondas cada vez maiores

O Globo, Ciência, p. 31
12 de Fev de 2010

Ondas cada vez maiores
No Pacífico, aumento desde 1996 foi de 40%; aquecimento seria responsável

Carlos Albuquerque

As ondas estão ficando cada vez maiores no Oceano Pacífico. Um estudo mostrou que a altura delas e o poder das tempestades de vento estão em crescimento nos últimos 30 anos.

Segundo pesquisadores da Universidade de Oregon, o tamanho máximo das ondas pode chegar a 14 metros junto à costa norte dos Estados Unidos - um aumento de 40% desde a última estimativa, feita em 1996 - e até incríveis 40 metros em alto mar, durante tempestades mais intensas. Mas nada de "uhu", surfistas. O fenômeno, que pode estar associado às mudanças climáticas e ao El Niño, é capaz de amplificar os casos de inundação e erosão em áreas costeiras.

- Embora não possamos afirmar que esse aumento das ondas vá continuar no futuro, nesse momento ele é real e deve ser levado em conta em qualquer planejamento de proteção costeira - afirmou ao GLOBO Peter Ruggiero, pesquisador da Universidade de Oregon e um dos autores do estudo, publicado na revista "Coastal Engineering".
Elevação do nível do mar é agravante
Segundo o pesquisador, o poder dessas ondas gigantes pode amplificar os danos esperados pelo aumento do nível do mar, um dos efeitos mais temidos do aquecimento global.

- Numa escala mais imediata, esse aumento do tamanho das ondas no Pacífico Norte representa uma grande ameaça, hoje, às populações das regiões costeiras banhadas por ele - diz o pesquisador. - E, sem dúvida, ele pode amplificar os efeitos da elevação do nível do mar, previstos para as próximas décadas, como um avanço mais intenso sobre a costa.

O estudo lista entre as possíveis causas para o aumento das ondas no Pacífico Norte a mudança nas rotas das tempestades, que têm se tornado mais intensas, e também a maior potência dos ventos na região.

- Sem dúvida, tudo isso está associado ao aquecimento global - afirma Ruggiero. - Embora essa ligação não tenha sido o foco do nosso trabalho, é certo que o aumento da temperatura na superfície do oceano, por exemplo, seja um dos principais mecanismos por trás desse fenômeno observado nos últimos trinta anos. São acontecimentos interligados.

De acordo com Ruggiero, até os anos 90, as alturas médias dessas ondas de tempestade não ultrapassavam os sete metros. Mas duas sequências do fenômeno El Niño, em 1997 e 1998, fizeram com que o tamanho das ondas subisse para dez metros.

Isso fez com que os pesquisadores mudassem o modelo dos seus cálculos, reavaliando os padrões dessas tempestades. Com "novas e sofisticadas medidas", relatadas no estudo, essa média da altura das ondas passou para 14 metros.

- O El Niño normalmente eleva o tamanho das ondas no norte do Pacífico. Se, no futuro, por causa das mudanças climáticas, o El Niño se tornar ainda mais intenso, isso provavelmente vai ter um impacto nessas ondas e também na intensidade da erosão e das inundações costeiras.

Além disso, a região norte do Pacífico sofre com as zonas de subducção, áreas de convergência de placas tectônicas, capazes de causar não apenas tremores e tsunamis, mas também o afundamento de pedaços de terra próximos à costa.

- Isso não tem a ver com o tamanho das ondas, mas pode tornar o problema da erosão e das inundações ainda mais grave - diz Ruggiero.

Segundo o pesquisador, embora sejam oceanos distintos, ainda não há dados suficientes para garantir que o aumento das ondas, em associação com as mudanças climáticas, possa acontecer também no Oceano Atlântico, com impactos no Brasil. Mas essa hipótese, diz Ruggiero, não pode ser descartada.
O mesmo pode ocorrer no Atlântico
O cientista afirma que já há registros de aumento das ondas de tempestade no Oceano Atlântico. É cedo para afirmar, no entanto, que se trata de algo momentâneo ou uma tendência de longo prazo.

- Mas ainda não sabemos se isso se deve a ciclos oceânicos naturais ou à ação das mudanças climáticas - afirma o cientista.

O Globo, 12/02/2010, Ciência, p. 31

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