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Olhar para o futuro

O Globo, Opinião, p. 7
Autor: BATISTA, Eliezer
04 de Abr de 2010

Olhar para o futuro

Eliezer Batista

A primeira experiência entre os empreendimentos de grande escala que englobam os elementos econômico, ambiental e social, simultaneamente tratados, foi realizada com o Projeto Carajás, da Cia. Vale do Rio Doce. Lá, além do empreendimento em mineração e consequente geração de empregos, houve o cuidado com a preservação permanente de uma área florestal de um milhão de hectares e a construção do embrião da cidade de Parauapebas. Localizada fora da delimitação geográfica do projeto, com todos os serviços à população, o planejamento do projeto indicava, já naquela época, a preocupação da empresa com o desenvolvimento integral da área. A partir da observação desse projeto foi que Schmidheiny teorizou sobre o desenvolvimento sustentável, durante a Rio 92.

Apesar de ter sido o inspirador da teoria, hoje avalio que o Projeto Carajás não alcançou o desenvolvimento sustentável, pois no entorno se criou um cinturão de casas e pessoas que não cabia ao projeto absorver. Não ocorreu, por parte do poder público e da população, o acompanhamento e o preparo para o desenvolvimento da cidade que ali se implantou. Esta situação se repete em outros empreendimentos.

Para prevenir ou solucionar situações desta natureza, é imprescindível que se reconheça que o espaço territorial onde se estabelece a empresa é indissociável do seu entorno.

Há que se pensar o território como um todo e partir de uma visão sistêmica para analisar os inúmeros elementos que o compõem. Reconhecer que os componentes econômico, ambiental e social não só devem acontecer simultaneamente, mas que há um entrelaçamento independente de nossa vontade sobre a interferência de um elemento no outro.

Há também que se reconhecer que não cabe só à empresa ocupar-se do entorno dos empreendimentos, mas que há uma responsabilidade conjunta da empresa com a sociedade civil e com os administradores locais e regionais. E, que para que isto seja possível, há que se compreender a necessidade de que a gestão de um território se faça de maneira integrada, numa lógica de rede. E que são requeridas qualificação e capacitação, em todos os níveis, para todos.

Assim, a única maneira que vejo para alcançar o desenvolvimento sustentável é preencher a lacuna existente, ou seja, contar com pessoas que sejam capacitadas para a gestão integrada do território.

Buscando acompanhar esta evolução, o Instituto BioAtlântica, a Fundação Gorceix e o Instituto Politécnico de Tomar (Portugal) desenvolvem um projeto para o desenvolvimento sustentável na bacia do Rio Doce, com o objetivo de preparar profissionais capacitados para elaborar, implantar e acompanhar programas para o desenvolvimento sustentável de territórios.

Eliezer Batista é engenheiro e integra o Conselho Deliberativo do Instituto BioAtlântica (IBio).

O Globo, 04/04/2010, Opinião, p. 7

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