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Ocupações, como a de Belo Monte, podem se espalhar

Valor Econômico, Política, p. A8
08 de Mai de 2013

Ocupações, como a de Belo Monte, podem se espalhar

A urgência de pôr um fim aos impasses indígenas não é exclusividade de ruralistas. O governo tem sentido na pele os reflexos da falta de uma política indigenista. A usina de Belo Monte, a maior obra de infraestrutura em construção no país, está com 4 mil trabalhadores paralisados desde quinta-feira, quando um grupo de aproximadamente 150 índios tomou um de seus canteiros de obra. Os índios exigem que todas as grandes hidrelétricas em construção ou planejadas sejam suspensas até que as comunidades indígenas sejam ouvidas. Depois de alguns encontros, as negociações não avançaram. A troca de acusações, no entanto, disparou.
A Secretaria-Geral da Presidência da República foi a público e declarou que as lideranças da etnia Munduruku que ocupam o canteiro estão envolvidas com sequestro e ameaças de morte a funcionários públicos em manifestação ocorrida no ano passado, no Mato Grosso. Para o governo, as "pretensas lideranças Munduruku têm feito propostas contraditórias e se conduzido sem a honestidade necessária a qualquer negociação". "Em outubro de 2012, junto com indígenas Kayabi e Apiacá, sequestraram e ameaçaram de morte nove funcionários do governo que realizavam um processo de diálogo na aldeia Teles Pires", afirma a nota.
Os índios reagiram às acusações e afirmaram que "o governo perdeu o juízo" e o que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, está mentindo. "O governo está completamente desesperado. Não sabe o que fazer com a gente", afirmaram as lideranças. "Os bandidos, os violadores, os manipuladores, os insinceros e desonestos são vocês. E ainda assim, nós permanecemos calmos e pacíficos. Vocês não. Vocês proibiram jornalistas e advogados de entrar no canteiro, e até deputados do seu próprio partido", afirmaram, em referência ao deputado Padre Ton (PT-RO), que foi barrado por agentes da Força Nacional. "Vocês militarizaram a área da ocupação, revistam as pessoas que passam e vem, a nossa comida, tiram fotos, intimidam e dão ordens. Entendemos que é mais fácil nos chamar de bandidos, nos tratar como bandidos. Assim o discurso do Gilberto Carvalho pode fazer algum sentido", afirmam os índios.
"Nós sabemos bem como vocês agem quando querem alguma coisa. A má-fé é do Gilberto Carvalho. E apesar de tudo, nós queremos que ele venha no canteiro dialogar conosco. Estamos esperando por você, Gilberto. Pare de mandar policiais com armas na mão para entregar propostas vazias. Pare de tentar nos humilhar na imprensa", diz a nota.
A ocupação de Belo Monte, não tem dia definido para acabar. A manifestação poderá ser o estopim de novas mobilizações planejadas pelos índios em várias regiões do país. O Valor apurou que um grupo de índios planeja fazer a paralisação de rodovias federais na região Norte do país. O fechamento de estradas será um protesto por conta da situação da saúde encontrada em aldeias da região. "A tendência agora é explodir mobilização pra todos os lados", disse ao Valor Sônia Guajajara, uma das principais lideranças do povo indígena Guajajara, que vive no Maranhão. Sonia é mais uma das lideranças que está a caminho de Belo Monte para fortalecer a ocupação. (AB)

Valor Econômico, 08/05/2013, Política, p. A8

http://www.valor.com.br/politica/3114904/ocupacoes-como-de-belo-monte-p…

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