VOLTAR

O Sivam torna-se uma realidade

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: ANTONIO AMARAL DE SAMPAIO
15 de Ago de 2002

Se nada mais houvesse realizado no domínio da defesa nacional - e, se mais não logrou fazer, isso se deve às restrições orçamentárias -, o atual governo mereceria a gratidão da cidadania por haver possibilitado a execução do Projeto Sivam, de controle do espaço aéreo da Amazônia brasileira.

A imensa região, que cobre 5,5 milhões de quilômetros quadrados e abrange fronteiras com sete países, encontra-se ameaçada de transformar-se em "res nullius", violada por guerrilheiros das Farc, narcotraficantes andinos, madeireiras estrangeiras, garimpos clandestinos, missionários falaciosos e ONGs de aluguel, interessados, estes e aquelas, a soldo de multinacionais farmacêuticas e extrativistas, em se apropriar da biodiversidade e dos recursos minerais locais. O narcotráfico colombiano também tem procurado, através da rede fluvial da região, além de alcançar os mercados nacionais, encontrar outra via alternativa para abastecer o florescente consumo norte-americano.

Toda essa parafernália de interesses adversos à segurança nacional e à ordem pública juntou suas forças e chegou mesmo a, invocando a preservação das culturas indígenas e a conservação ambiental, sustentar a tese da outorga de soberania à chamada "nação ianomâmi".

Coube ao general Rodrigo Otávio Jordão Ramos, como comandante militar da área, o brado inicial - na época pouco ouvido - que deveria ter alertado - porém não alertou - o governo federal a respeito dos perigos que rondavam a Amazônia brasileira. O interesse estrangeiro na região, porém, remonta à época colonial, ainda antes de que o capitão Pedro Teixeira, na época da fusão das coroas ibéricas, houvesse desencadeado o processo de incorporação da vasta área ao território sob domínio lusitano. Assim, no século passado houve a pretensão estrangeira referente à abertura do Amazonas à navegação internacional.

Foi árdua a campanha do Itamaraty, e também de militares, na qual se destacaram Rio Branco, Nabuco, Nascentes de Azambuja, Joaquim Caetano da Silva, assim como Plácido de Castro, para afastar da região a presença do imperialismo. Este ainda ressurgiria em nossos tempos, com as iniciativas da Fordlândia e, posteriormente, do "Projeto Jari ", de autoria do milionário Ludwig, em boa hora frustrado.

Aquela cobiça se renovou também na década de 1950, com os planos do futurologista Herman Kahn, da Universidade de Harvard, referente à chamada "Hiléia Amazônica", o qual, a pretexto de desenvolver a região, propunha a construção de um imenso lago artificial. Este seria financiado com recursos vindos de fora, o que implicaria o primeiro passo para a subtração da Amazônia da soberania brasileira, com vista à sua gradual internacionalização, camuflada pelo artifício de constituir a floresta "patrimônio comum da humanidade".

A Amazônia brasileira detém 88% das reservas mundiais de nióbio, 32% de estanho, 15% de ferro, 8% de bauxita, 9% de manganês e cerca de 6,5% de gás natural. Como tais recursos, em escala mundial, se encontram, devido à exploração intensiva, na rota da breve exaustão, compreende-se o interesse do capitalismo apátrida em apossar-se dos recursos de nossa floresta, a maior e mais rica que a congolesa, e a última fronteira equatorial, na escala mundial, a ser explorada.

Em se tratando de um país pobre como o Brasil, não constituiu comezinho empreendimento alocar quase US$ 2 bilhões para contratar o sistema de controle amazônico. A iniciativa envolveu peripécias dignas de novela policial, chegando a ponto de levantar suspeitas referentes à inatacável integridade de diplomata, em funções junto ao presidente da República.

Desfeita a fofoca, o projeto prosseguiu e atingiu agora, na semana passada, o início de sua operacionalidade.

Muito do programa de defesa da Amazônia já foi realizado, resta ainda agora deslocar para a região unidades militares, as quais, em função de doutrina estratégica ultrapassada, se encontram estacionadas em regiões do território nacional em décadas pretéritas hipoteticamente ameaçadas. O perigo em potencial deslocou-se agora do extremo sul para o extremo norte.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.