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O segredo da bioeconomia amazônica está nos detalhes

OESP - https://www.estadao.com.br/
12 de Dez de 2024

O segredo da bioeconomia amazônica está nos detalhes
Experiência com castanha-do-Brasil revela que sucesso da bioeconomia depende mais de ajustes finos do que de grandes transformações

Salo Coslovsky

12/12/2024

Por que os negócios da bioeconomia na Amazônia ainda não decolaram, e o que podemos fazer para acelerar seu crescimento? Para responder essa pergunta, ajudei a conceber e tenho acompanhado a atuação da Mesa Executiva de Exportação da Castanha, uma iniciativa liderada pela ApexBrasil.

A castanha-do-Brasil é um dos produtos icônicos do extrativismo florestal não-madeireiro na Amazônia. Praticamente todas as castanhas consumidas no Brasil e no mundo vêm da floresta nativa, coletadas de árvores centenárias ou até milenares - muitas delas possivelmente plantadas por povos indígenas que habitavam a região antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral. Seu mercado é antigo e bem estabelecido: o comércio exterior de castanhas movimenta mais de US$350 milhões (R$ 2,1 bilhão) anuais.

Além de saborosa e nutritiva, cada castanha é evidência incontestável da existência de um território preservado, habitado e protegido por pessoas comprometidas com a floresta em pé. Elas são, na prática, um crédito de carbono em forma de amêndoa, com a vantagem de dispensar auditoria e certificação.

Apesar de contarmos com extensas áreas florestais e excelentes empresas e cooperativas que trabalham com a castanha, o cenário atual é preocupante. Nas últimas décadas, as beneficiadoras brasileiras perderam espaço para concorrentes bolivianos e peruanos tanto no mercado nacional de castanhas in natura quanto no de beneficiadas. Nossa participação no mercado internacional é surpreendentemente pequena, muito aquém de nossos vizinhos Bolívia e Peru. Como se não bastasse, os beneficiadores dos três países não conseguem diferenciar efetivamente a castanha-do-Brasil das demais castanhas e nozes cultivadas e por isso acabam reféns de um mercado caracterizado por margens estreitas e preços voláteis.

É neste contexto que a ApexBrasil criou as Mesas Executivas, uma ferramenta inovadora de fomento econômico. A sua mecânica é simples de descrever: cada Mesa reúne entre 10 e 20 líderes empresariais pré-selecionados com base em sua experiência no setor e na sua disposição em contribuir. Todo mês, essas pessoas se reúnem sob a supervisão de um secretário-executivo do quadro da ApexBrasil e com o acompanhamento de uma pequena equipe técnica. Durante essas reuniões, os participantes identificam os principais gargalos do setor, validam as análises técnicas, elaboram recomendações e apoiam suas implementações. Entre as reuniões, os membros da equipe técnica coletam dados, elaboram análises e prospectam soluções para imprimir um ritmo acelerado aos trabalhos.

Ao longo de 2024, a Mesa Executiva de Exportação da Castanha identificou uma série de problemas surpreendentes, às vezes um pouco arcanos, mas nem por isso menos importantes. Quem faz esse julgamento não sou eu ou outros observadores externos, mas os líderes das empresas participantes que acumulam décadas de experiência no seu setor.

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