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O rastro do consumo no meio ambiente

O Globo, Economia, p. 25
02 de Jul de 2008

O rastro do consumo no meio ambiente
Pesquisas mostram brasileiros mais conscientes, mas ainda distantes de hábitos sustentáveis

Luciana Casemiro

O brasileiro está mais consciente do impacto de seu consumo sobre o meio ambiente. É o que mostram diferentes pesquisas, como a do Instituto Akatu - Pelo Consumo Consciente, na qual 41% dos entrevistados declararam já ter usado o impacto ambiental como critério na escolha de produtos ou serviços. Apesar do discurso, os hábitos de consumo ainda estão longe de ser sustentáveis. Segundo levantamento da ONG WWF Brasil, se todos os habitantes da Terra consumissem como as classes A e B brasileiras, seriam necessários três planetas para suprir tamanha demanda. Ou seja, ainda há uma distância astronômica entre o discurso e a prática do brasileiro.
- É lógico que esses dados revelam a intenção, que pode ser diferente da prática.
Mas mesmo que o discurso fique só na intenção isso já vale muito, pois quer dizer que o consumidor está refletindo, o que é o primeiro passo para a mudança de hábito - diz Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu.
Encontrar uma forma de frear esse consumismo - que, para a socióloga da USP Valquíria Padilha, já alcançou níveis patológicos - e levar a população a adotar comportamentos sustentáveis é assunto de discussão em todo o mundo. No Brasil, várias entidades trabalham para esse fim. Mostrar para o cidadão a extensão do dano de seus hábitos na natureza é uma das estratégias da WWF, que trabalha com o conceito de "pegada ecológica", que mostra se a forma de viver está de acordo com a capacidade do planeta de oferecer e renovar seus recursos naturais e absorver resíduos.
- O cidadão comum não tem a dimensão de como seus hábitos diários têm impacto sobre a natureza. A pegada ecológica pretende fazer com que ele se mobilize para um comportamento mais sustentável - diz Irineu Tamaio, destacando que, pelo levantamento divulgado mês passado, o futuro está nas cidades médias e no interior. -- É que nessas regiões ainda se consome mais os produtos locais, mantendo um estilo de vida mais saudável.
Os Procons, que em princípio eram vistos como intermediários de conflitos entre empresas e consumidores, também já estão ampliando a sua atuação nessa direção.
- Tão importante quanto o consumidor conhecer seus direitos básicos é ter consciência da sua responsabilidade. Consumir não é ruim. O ruim é consumir sem porquê, sem saber quais são as conseqüências, não só individuais, mas sociais e ambientais desse ato - explica Valéria Rodrigues Garcia, diretora de Estudos e Pesquisas do Procon-SP
Regulação rígida para a publicidade é uma das estratégias para frear o consumismo
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que desenvolveu com os ministérios do Meio Ambiente e da Educação um projeto de educação para consumo a ser trabalhado nas escolas, agora está engajado numa campanha mundial. Capitaneada pela Consumers International, esta defende como forma de frear o consumo exacerbado uma maior regulação da publicidade, principalmente a voltada ao público infantil:
- Se o consumidor já é a parte mais frágil, a criança, nem se fala. Pois não tem como avaliar as mensagens publicitárias de forma crítica - diz Lisa Gunn, socióloga do Idec.
Na visão da socióloga Valquíria, autora do livro "Shopping center: A catedral das mercadorias", a publicidade também está no centro dessa "sociedade doente". Processo, explica, iniciado após a Segunda Guerra Mundial:
- As promessas da publicidade de satisfação, felicidade e virilidade contidas nos produtos não são cumpridas, há um descompromisso social. O resultado é uma sociedade mais depressiva, ansiosa e fatigada.
Lisa destaca ainda que hoje os consumidores têm informação sobre os problemas, mas, muitas vezes, não têm alternativas:
- Quando há, são mais caras que a média do mercado, caso dos produtos orgânicos. Os consumidores têm como mudar hábitos de consumo individualmente e pressionar as empresas a assumirem seu discurso sócio-ambiental e a oferecer produtos sustentáveis para todos, não como um nicho de mercado.
Pouco otimista, Valquíria diz que a grande dificuldade é envolver o Estado no processo:
- Não se pode deixar de pensar que o Estado e as grandes corporações são uma coisa só na sociedade capitalista. Por isso fica complicado.

Você é responsável com o planeta?
Descubra fazendo o teste

1 Ao fazer compras no supermercado:
a( ) Compro tudo o que tenho vontade, sem dar atenção a preço, marca ou embalagem
b( ) O preço é o critério de escolha
c( ) Presto atenção se os produtos são fabricado por empresa que não que respeita o
meio ambiente ou questões sociais
d( ) Procuro considerar preço e qualidade, além de escolher produtos que venham em
embalagens recicláveis, que respeitam critérios ambientais

2 Entre os alimentos quer normalmente consome, que quantidade é pré-preparada,
embalada ou importada?
a( ) Quase todos
b( ) Metade
c( ) Um quarto
d( ) Muito poucos. A maior parte tem origem orgânica e é produzida na região onde vivo

3 O que acontece com o lixo produzido na sua casa?
a( ) Não me preocupo muito com o lixo
b( ) Tudo é colocado em sacos recolhidos pelo lixeiro, mas não faço idéia para onde vai
c( ) O que é reciclável é separado
d( ) O lixo seco vai para reciclagem, e o orgânico é encaminhado à compostagem
(transformação em adubo)

4 Que eletrodoméstico você utiliza (escolha a opção que mais pareça com a situação
de sua casa)?
a( ) Geladeira, freezer, máquina de lavar roupa/tanquinho e microondas
b( ) Geladeira e máquina de lavar roupa/tanquinho
c( ) Geladeira e microondas
d( ) Geladeira

5 Você leva em conta a eficiência energética na hora de comprar eletrodomésticos e
lâmpadas?
a( ) Não. Compro sempre os mais baratos
b( ) Uso lâmpadas frias, mas não considero a eficiência energética dos eletrodomésticos
c( ) Compro eletrodomésticos que consomem menos energia e uso lâmpadas incandescentes
d( ) Sim. Só uso lâmpadas frias e eletrodomésticos com menor consumo de energia

6 Você deixa luz, aparelhos de som, computadores e televisor ligados quando não
estão sendo usados?
a( ) Sim. Deixo-os ligados mesmo quando não estou no ambiente
b( ) Deixo a luz acesa quando sei que vou voltar em alguns minutos ao local
c( ) Deixo o computador ligado, mas desligo o monitor quando não o estou usando
d( ) Não. Sempre desligo aparelhos e lâmpadas quando não estou usando e deixo o computador hibernando

7 Quantas vezes por semana, em média, você liga o ar-condicionado em casa ou no trabalho?
a( ) Praticamente todos os dias
b( ) Entre três e quatro vezes por semana
c( ) Entre uma e duas vezes por semana
d( ) Não tenho ar-condicionado

8 Quanto tempo você leva, em média, tomando banho?
a( ) Mais de 20 minutos
b( ) Entre 10 e 20 minutos
c( ) Entre 5 e 10 minutos
d( ) Menos de 5 minutos

9 Quando você escova os dentes:
a( ) A torneira permanece aberta o tempo todo
b( ) A torneira é aberta apenas para molhar a escova e enxaguar a boca

10 Quantos habitantes moram em sua cidade?
a( ) Acima de 500 mil
b( ) De 100 mil a 500 mil
c( ) De 20 mil a 100 mil
d( ) Menos de 20 mil

11 Quantas pessoas vivem na sua casa ou apartamento?
a( ) Uma
b( ) Duas
c( ) Três
d( ) Quatro pessoas ou mais

12 Qual é a área de sua casa/apartamento?
a( ) 170 metros quadrados ou mais
b( ) De 100 a 170 metros quadrados (3 quartos)
c( ) De 50 a 100 metros quadrados ou mais (2 quartos)
d( ) 50 metros quadrados ou menos (1 quarto)

13 Com que freqüência você consome produtos de origem animal (carne, peixe, ovos e laticínios)?
a( ) Como carne todos os dias
b( ) Como carne uma ou duas vezes por semana
c( ) Como carne raramente, mas ovos/laticínios quase todos os dias
d( ) Nunca (vegetariano)

14 Qual o tipo de transporte que você mais utiliza?
a( ) Carro e, na maioria das vezes, sozinho
b( ) Tenho carro, mas procura fazer a pé os percursos mais curtos e uso transporte coletivo
sempre que possível
c( ) Não tenho carro e uso transporte coletivo
d( ) Não tenho carro, uso transporte coletivo, mas ando muito a pé ou de bicicleta

15 Por ano, quantas horas você gasta andando de avião?
a( ) Acima de 50 horas
b( ) 25 horas
c( ) 10 horas
d( ) Nunca ando de avião

Calcule a sua pegada ecológica
Da primeira a nona questão, os valores da resposta são os seguintes: a = 4, b = 3, c = 2 e d = 1
Da décima questão a décima-quarta: a = 8, b = 6, c = 4 e d = 2
Na última questão: a = 12, b = 9, c = 6 e d = 3

Até 23 pontos
Parabéns! Seu estilo de vida leva em conta a saúde do planeta. Você sabe equilibra o uso dos recursos com sabedoria.
De 24 a 44 pontos
Sua pegada está um pouco acima da capacidade do planeta. Vale a pena reavaliar algumas opções de seu cotidiano.
De 45 a 66 pontos
Se todos no planeta tivessem um estilo de vida como seu, seriam necessárias três Terras. Nesse ritmo, o planeta não vai agüentar!
De 67 a 88 pontos
Alerta total! Sua pegada está entre os padrões mais insustentáveis do mundo! Seu padrão de consumo e hábitos de vida estão causando dano à vida na Terra e ameaçando o futuro. Não desanime, nunca é tarde para começar a mudar.

Boas e más notícias
No caminho certo

Economia: As pesquisas mostram que os hábitos sustentáveis que têm impacto mais imediato sobre o bolso são os primeiros a serem adotados pelos brasileiros. No levantamento da WWF, por exemplo, 87% dos entrevistados dizem fechar a torneira enquanto escovam os dentes; 80% apagam as luzes e desligam aparelhos quando não os estão usando; 48% consideram eficiência energética na hora de comprar eletrodomésticos e usam lâmpada fria.
Consciência: Em pesquisa feita pelo Akatu, 80% dos entrevistados disseram ver relação entre atividade produtiva e aquecimento global, e 41% afirmaram ter adotado impacto ambiental como critério de compra ou contratação de serviço.

À Deriva
Sem intenção: Na avaliação dos especialistas, alguns bons resultados das pesquisas - como o fato de 54% dos entrevistados pela WWF adotarem uma alimentação mais natural - não estão ligados à consciência, mas à falta de recursos. O mesmo em relação à redução de consumo de energia, que também pode ser reflexo do apagão em 2002. O que mostra, na avaliação das entidades, que campanhas educativas como as feitas sobre energia podem surtir um bom resultado.
Descarte: O lixo ainda é uma questão crítica. Segundo a WWF, 67% dos pesquisados não tratam o lixo e sequer sabem da sua destinação.

O Globo, 02/07/2008, Economia, p. 25

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