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O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara foi ontem a reserva Yanomami para colher relatos dos indígenas

Folha de Boa Vista
Autor: MARILENA FREITAS
10 de Fev de 2001

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Marcos Rolim (PT), colheu depoimentos que confirmam denúncias de supostos abusos sexuais praticados pelos militares contra as índias Yanomami. Ele passou a tarde na reserva indígena, ao norte do Estado.

Das três indígenas que moram na maloca que fica próximo do Posto Militar de Surucucu, duas foram entrevistadas pelo parlamentar. Segundo Rolim, elas narraram "com riqueza de detalhes" o envolvimento que tiveram com os militares.
"Depois dessa entrevista, ficou claro que houve envolvimento. Não existe mais nenhuma dúvida. A relação aconteceu e uma das provas são as características físicas dos filhos delas", enfatizou o parlamentar ao acrescentar que as índias não teriam motivo para inventar a história.

As duas índias entrevistadas são Judite Yanomami e Helena Yanomami. No depoimento, elas contaram que se envolveram com mais de um soldado. "Houve um aliciamento lento. Elas disseram que os militares começaram dando presentes, como linha para fazer artesanato e oferecendo comida. Até que um dia veio o convite para ir ao mato", relatou Rolim.

As indígenas contaram que nada foi à força. Elas admitiram que se envolveram por paixão e que só mais tarde perceberam qual era a verdadeira intenção dos militares.

"Elas acreditaram que eram os homens da vida delas. Somente depois viram que não era nada disso", complementou o deputado. Os depoimentos das índias foram traduzidos pelo líder Yanomami, Davi Kopenawa. A entrevista foi filmada e fotografada. Além disso, gravada em fita cassete.

Segundo Rolim, no início as índias não quiseram conceder entrevista alegando "que não gostavam de falar". "Uma se recusou, mas as demais concederam depois que Davi explicou qual era o nosso interesse e que precisávamos de provas testemunhais", disse.
O deputado disse que além dos nomes de militares citados pelas índias, a Funai entregou um relatório em que constam outros nomes. No documento também consta o número de casos de gonorréia.

Relatório da visita ficará pronto na próxima semana

Davi Yanomami entregou relatório da Funai que denuncia suposta casos de assédio

O deputado Marcos Rolim disse que o relatório ficará pronto na próxima quarta-feira. "Ele será apresentado à Comissão para que seja aprovado. Depois disso, vou marcar uma audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso", informou.

Segundo ele, será proposto ao presidente o fortalecimento da Funai (Fundação Nacional do Índio) para que desenvolva um melhor trabalho dentro da área. "Com mais estrutura, como pessoal e equipamentos, a Funai poderá fiscalizar e fazer um trabalho melhor para evitar que ocorram esses fatos", disse.

Além disso, será pedido ao presidente da República que seja repensado a instalação de unidades militares nas áreas indígenas. "É necessário se conversar com os indígenas antes de se construir quartéis. Considero um atentado a construção dessas unidades próximo das comunidades", criticou.

No entendimento dele, a proximidade dos não índios tem sido prejudicial à cultura dos índios. "A presença está sendo destruidora. Na maloca em que fiquei, todas as redes dos índios são industrializadas e isso tem contribuído com doenças e para uma relação de dependência", reforçou.

"O fato de não terem os mesmos hábitos higiênicos que os nossos, nas redes industrializadas se acumula sujeira e as crianças, as mais frágeis, acabam doentes. O resultado é dezenas de crianças com diarréia", complementou.

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