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O preço de um planeta verde

O Globo, Economia, p.7
21 de Fev de 2011

O preço de um planeta verde

Setores da economia precisam investir US$ 1,3 tri ao ano para reduzir emissões de carbono, diz estudo da ONU

Liana Melo

Investimentos de apenas 2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelos países) mundial já seriam suficientes para dar o primeiro passo em direção a uma economia mais verde, com baixas emissões de carbono. Hoje, este percentual corresponde a cerca de US$ 1,3 trilhão anuais. O cálculo é do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que elegeu dez setores estratégicos para a mudança. O organismo aponta quanto cada um deveria gastar para tornar o mundo mais sustentável. A área de transportes, por exemplo, investiria US$ 190 bilhões ao ano. Já o setor de energia, US$ 360 bilhões anuais. O diagnóstico faz parte do documento "Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza", que será apresentado hoje, no Fórum Global de Ministros do Meio Ambiente, em Nairobi, no Quênia (África). O encontro, que termina na quinta-feira, contará com a presença da ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira. Com 2,5 bilhões de pessoas vivendo com menos de US$ 2 por dia, o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, não ousa ser contra qualquer tipo de crescimento econômico. Mas ele chama atenção para a necessidade de se manter as emissões de gases do
efeito estufa num limite menos agressivo ao planeta: - Devemos avançar para além das polarizações do passado entre desenvolvimento e meio ambiente, Estado e mercado, e norte e sul.

Relatório elogia reciclagem no Brasil
Além de contestar mitos de que os investimentos ambientais vão contra o crescimento econômico, o relatório do Pnuma traz à tona a má alocação de recursos financeiros liberados mundo afora. Hoje, são gastos cerca de US$ 600 bilhões para subsidiar a indústria do petróleo em países como Estados Unidos, Venezuela e Rússia. O estudo ainda destaca que US$
20 bilhões são liberados, também em forma de subsídios, para "atividades de pesca insustentáveis", como diz Pavan Sukhdev, economista sênior do Deutsche Bank e diretor do Pnuma: - Uma economia verde não sufoca o crescimento e a prosperidade, mas, sim, restabelece a ligação com a verdadeira riqueza. É preciso reinvestir em vez de simplesmente explorar o capital natural e beneficiar muitos em lugar de poucos. O físico José Goldemberg, da Universidade de São Paulo (USP), que é um dos autores do capítulo sobre construção, acredita que, derrubar lobbies poderosos, como o da indústria de petróleo, já seria suficiente para reduzir à metade a necessidade de usar dinheiro novo na elaboração de uma economia verde:- Trata-se de um estudo pioneiro que aborda escolhas nas áreas de políticas públicas e revela quais são as ações urgentes e os investimentos necessários que tornariam possível a transição para uma economia de baixo carbono. O setor imobiliário contribui com as emissões globais de gases de efeito estufa utilizando um terço da energia gerada por escritórios e moradias. O segmento também é responsável por mais de um terço do consumo global de recursos, incluindo 12% do uso de água doce. Caso nada seja feito, estima-se que as emissões do setor poderão duplicar para 15,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono até 2030. Ou, como indica o relatório, 30% do gás carbônico (CO2) total relacionado à energia. Os outros setores incluídos no estudo são os de agricultura, abastecimento de energia, pesca, silvicultura, indústria, turismo, transportes, manejo de resíduos e águas. O relatório do Pnuma cita experiências espalhadas pelo mundo que são consideradas de relevância para o meio ambiente. É o caso do programa de reciclagem do Brasil. Das 160 mil toneladas de resíduos domiciliares produzidas anualmente no país, 12% são reaproveitadas. Uma iniciativa importante, mas com resultado ainda longe do ideal, afirma Silvano Silvério, secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente: - O país gasta anualmente R$ 8 bilhões por não reciclar papelão, vidro, metais, plástico e alumínio.

Rio terá conjunto de ações na área

Antes de assumir efetivamente a Secretaria estadual de Economia Verde, o que deve ocorrer ainda este mês, Suzana Kahn já colocou o ponto final no esboço do Plano
Clima, um conjunto de ações que será apresentado em breve ao governador Sérgio Cabral. O objetivo é reduzir os índices de carbono do Rio de Janeiro, um estado com alta incidência de emissões devido à produção de petróleo e à indústria siderúrgica.
A futura secretária antecipou que metas de redução serão impostas. Ela admitiu que é "impossível zerá-las, mas, factível reduzi-las", como estão fazendo alguns países, inclusive a China. O relatório de emissões mais recente do estado é de 2005, quando apurou-se um índice de emissões de 2,17 toneladas de CO2 por habitante a cada ano: - Não acredito que este perfil tenha se modificado, já que os grandes projetos industriais previstos para o Rio, como Comperj e CSA, ainda não saíram do papel. Suzana, que montou com o climatologista Carlos Nobre o Painel Brasileiro de Mudança Climática, quer transformar o Rio num polo de tecnologias limpas. Ela se declara indignada ao comentar que o Brasil importa praticamente todas as placas solares usadas em território nacional. O mesmo acontece com pás de torres eólicas, que vêm de fora e adotam um design que não é o mais adequado para o perfil de ventos do país.
A futura secretária de Economia Verde quer também criar um mercado de carbono local e, para isso, já iniciou negociações com técnicos da Fazenda, da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e com o BNDES. (Liana Melo)

O Globo, 21/02/2011, Economia, p. 7

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