VOLTAR

O mundo de olho no álcool brasileiro

OESP, Economia, p. B8
18 de Jun de 2006

O mundo de olho no álcool brasileiro
O Brasil dispara na dianteira na produção de biocombustíveis

Yale Global, Worldwatch Institute

À medida que o governo vai gradualmente compreendendo que o petróleo é um produto que vai acabar, os biocombustíveis atraem mais atenção no mundo inteiro. O Brasil está na dianteira na produção de biocombustível e os Estados Unidos estão progredindo.

O Ministério de Alimentação, Agricultura e Proteção ao Consumidor da Alemanha divulgou uma análise em profundidade sobre os riscos e benefícios em potencial dos biocombustíveis. Entre os riscos que se apresentam estão a concorrência em potencial entre a cultura de alimentos e a cultura de matéria combustível e a disseminação descontrolada de plantações de produtos combustíveis em terras que deviam ser usadas para outras finalidades.

Por outro lado, os biocombustíveis podem oferecer valor agregado para a garantia da energia, ajudar a criar oportunidades econômicas e contribuir para a redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa. Os analistas esperam que os biocombustíveis, mantendo seu atual ritmo de desenvolvimento, venham eventualmente a competir com a gasolina e com o diesel, mesmo sem subsídios específicos. Embora talvez não sejam a resposta perfeita a uma possível crise energética, os biocombustíveis poderão oferecer uma oportunidade para uma transição da dependência do petróleo.

No ano passado, a produção mundial de biocombustível foi superior a 670 mil barris por dia, o equivalente a cerca de 1% do mercado global de combustível para transporte. Embora o petróleo ainda responda por mais de 96% do uso do combustível para transporte, a produção de biocombustível a partir de 2001 e está propensa a ter um crescimento ainda mais forte à medida que a indústria responde à alta nos preços do combustível e às políticas de apoio do governo. "Uma ação coordenada para expandir os mercados de biocombustível e promover novas tecnologias poderá aliviar a pressão sobre os preços do petróleo ao mesmo tempo que fortalece as economias agrícolas e reduz as emissões que alteram o clima", disse o presidente do Instituto WorldWatch, Christopher Flavin.

O relatório Bicombustíveis para Transporte: Potencial e Implicações Globais para a Agricultura Sustentável e a Energia no Século 21, patrocinado pela ministério da Alimentação, Agricultura e Proteção ao Consumidor da Alemanha, é uma avaliação abrangente das oportunidades e riscos associados com o desenvolvimento internacional em larga escala de biocombustíveis. Inclui informações sobre os estudos existentes no país sobre o uso de biocombustível no Brasil, China, Alemanha, Índia e Tanzânia.

O Brasil é o líder mundial na produção de biocombustível. Metade da sua cultura de cana de açúcar fornece mais de 40% do seu combustível não diesel para transporte.

Nos Estados Unidos, onde 15% da cultura de milho produz cerca de 2% do combustível de transporte não diesel, a produção de etanol está aumentando mais rapidamente ainda. Este crescimento acentuado poderá permitir que os Estados Unidos ultrapassem o Brasil como o líder mundial em biocombustíveis este ano. Estima-se que ambos os países estejam produzindo etanol a um custo inferior ao atual custo da gasolina.

Os números citados no relatório revelam que os biocombustíveis poderão prover 37% do combustível para transporte nos EUA nos próximos 25 anos e até 75%, se a economia de combustível para veículos dobrar. Os biocombustíveis poderão substituir de 20% a 30% do petróleo usado nos países da União Européia durante o mesmo período de tempo.

Como a primeira avaliação global dos possíveis impactos sociais e sobre o meio ambiente dos biocombustíveis, o relatório Biocombustíveis para Transporte adverte que o uso em larga escala de biocombustíveis traz consigo significativos riscos para a agricultura e para a ecologia. "É essencial que sejam utilizados incentivos governamentais para diminuir a competição entre cultivo de alimentos e cultivo de matéria para combustíveis e para desencorajar a expansão em terras ecologicamente valiosas", disse a gerente de Projetos de Biocombustíveis da Worldwatch, Suzanne Hunt. O relatório conclui, também, que os biocombustíveis têm potencial para aumentar a garantia de energia, criar novas oportunidades econômicas nas regiões rurais e reduzir a poluição e as emissões locais de gases de efeito estufa.

O potencial de longo prazo dos biocombustíveis está no uso de biomassa não alimentícia que inclui resíduos agrícolas, urbanos e florestais assim como culturas ricas em celulose de crescimento rápido como a "switchgrass" (uma gramínea alta e perene originária da América do Norte cujo nome científico é Panicum virgatum).

A expectativa é que a combinação de recursos de biomassa celulósica com tecnologias de conversão em biocombustível da próxima geração (incluindo a produção de etanol usando enzimas e a produção de diesel sintético via gaseificação/síntese Fischer-Tropsch ) venha a competir com a gasolina convencional e o combustível diesel sem subsídios a médio prazo.

O relatório recomenda políticas para acelerar o desenvolvimento de biocombustíveis, aos mesmo tempo maximizando os benefícios e minimizando os riscos. Entre as recomendações estão:

- Fortalecer o mercado. As políticas voltadas para o biocombustível devem concentrar-se no desenvolvimento do mercado, sustentado por fortes incentivos fiscais e apoio ao investimento privado, desenvolvimento de infra-estrutura e formação de frotas de transporte capazes de usar os novos combustíveis.

- Acelerar a transição para as tecnologias de nova geração. É essencial apressar a transição para a próxima geração de biomassa e tecnologias para biocombustível, que permitirão um aumento notável na produção a um custo mais baixo, ao mesmo tempo em que se minimiza os impactos ambientais.

- Proteger a base do recurso. É fundamental manter a produtividade do solo, a qualidade da água e uma miríade de outros serviços de ecossistema. Os princípios de sustentabilidade ambiental nacionais e internacionais e os sistemas de certificação são importantes para proteger os recursos assim como manter a confiança da população nos méritos dos biocombustíveis.

- Facilitar o comércio internacional sustentável de biocombustíveis. O crescimento rápido e continuado dos biocombustíveis irá requerer o desenvolvimento de um verdadeiro mercado internacional para esses combustíveis, liberto das restrições comerciais hoje em vigor. A movimentação mais livre de combustíveis pelo mundo deve vir acoplada a padrões sociais e ambientais e a um sistema de certificação de cumprimento desses padrões digno de crédito.

As conclusões do relatório foram discutidas em 13 de junho numa conferência na Colina do Capitólio promovida pelo presidente da Worldwatch, Christopher Flavin e o diretor-geral da GTZ, Peter Conze. Entre os participantes estiveram mentores da política e representantes do setor privado e do governo, agências internacionais e organizações não governamentais.

Entre os oradores da sessão de abertura estiveram o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz; Thomas Dorr, subsecretário do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos; o embaixador da Alemanha nos EUA, Klaus Scharioth. Outros palestrantes da conferência foram R. James Woolsey, vice-presidente da Booz Allen Hamilton e ex-diretor da CIA; John Podesta, diretor-presidente do Center for American Progress (Centro para o Progresso Americano); e representantes da DaimlerChrysler AG, Iogen Corporation e CHOREN Industries, assim como Suzanne Hunt e outros que colaboraram na elaboração do relatório sobre biocombustíveis.

OESP, 18/06/2006, Economia, p. B8

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.