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O milionário comércio de madeira

A Gazeta-Rio Branco-AC
Autor: Nonato de Sousa
23 de Out de 2002

O negócio com madeira movimenta milhões de dólares por ano. Gera centenas de empregos, mais poucos benefícios traz para quem mora na Amazônia, cercado de madeiras nobres.

Poucos conseguem compreender porque em um Estado exportador, como o Acre, o metro da construção em madeira sai mais caro, ou o mesmo preço, que o metro construído em alvenaria. Menos ainda entender que critérios são usados pelas serrarias locais, para cobrar por uma porta com caixilho, duas vezes o preço de uma porta de ferro com a mesma metragem, construída e importada de São Paulo.
No Acre, existe pouca gente ganhando muito dinheiro com o negócio de madeira e uma multidão de explorados, na hora de comprar uma simples dúzia de tábuas por R$ 40,00 ou R$ 30,00, dependendo da classificação comercial.
O próprio governo federal "aboconha" seu quinhão no lucrativo negócio e a exemplo de outros envolvidos no assunto, não acena com nenhuma contrapartida. Isso fica evidente, quando cobra R$ 6,00 de imposto por metro cubico da madeira transportada através da (TPF) Transportes de Produto Florestal, como desculpa para fazer o reflorestamento. Mesmo o mais rude dos ignorantes, sabe que não existe nenhum projeto de reflorestamento no Acre (pelo menos por enquanto) para substituir a árvore subtraída das nossas florestas.
Empresários do ramo reclamam prejuízo
Apesar das altas somas de dinheiro que circulam no meio, reclamações entre os donos de serrarias não faltam. O dono da Madeireira Índia Porã (Zona B setor 7 - no 4, Distrito Industrial) afirma que ninguém que mexe com madeira tem dinheiro. Garante que atualmente se o madeireiro chegar no pátio de alguma serraria do Distrito Indus-trial, com 200 metros cúbicos de madeira, não achará comprador. "Ninguém tem o dinheiro para pagar".
Neste caso, há duas hipóteses a ser considerada: ou o empresário está escondendo o jogo para driblar a concorrência ou está redondamente mal informado. No pátio de sua serraria, estão estocado a maior quantidade de madeira no Estado, cerca de 2.500 metros cúbicos de Cumaru Ferro e outras madeiras nobres. Ele garante que foram adquiridas a preços médio de R$ 60,00 mas reconhece que comprou barato. "O preço justo seria R$ 70,00".
Círculo da madeira é fechado para curiosos
A reportagem de A GAZETA deu os primeiros passos na rota da madeira desde que é derrubada até onde vai. Sem dificuldades vai para Rondônia onde permanece por algum tempo em estufas de secagem, segue para Mato Grosso, ou Santa Catarina e daí ganha o mundo, Europa e Ásia, através das grandes exportadoras como a gigante Madazapi Importação e Exportação de Madeira, com sede em Bagé (RS) e com filiais em Santa Cruz do Livramento (RS), Palmitos (SC) e Mato Grosso do Sul. Essa empresa tem depósito e cilos de secagem de madeira em Porto Velho (RO), onde são beneficiados grande parte da madeira que sai das florestas acreanas. De lá cruzam o continente com destino a China, consumidora da maior parte da madeira retirada na floresta Amazônica.
Mas em relação a preços, quem ganha e quem perde? Descobrimos que o setor de exportação é um círculo muito fechado. Ninguém se propõe a falar com a imprensa. Tudo que conseguimos foi informações de terceiros e ainda assim com a garantia de sigilo em relação a fonte.
Essa fonte, vamos tratá-lo como "Zé do Mogno". É natural do Estado de Goiás e veio para o Acre para trabalhar no ramo de compra e venda de madeira. Para ele o Estado ainda é um paraíso financeiro comparado ao centro oeste onde as matas já foram devastadas.
Até onde conhece, o comércio de madeira funciona da seguinte forma.
Ele (Zé do Mogno) compra do colono a madeira bruta, em pé, por R$ 6,00 o metro e R$ 12,00 para o trator embarcar a madeira no caminhão. Neste caso é de sua propriedade. Economiza despesas com frete. Em compensação onera despesas com óleo diesel, peças, pneus... Mais o pagamento do trabalhador para derrubar a árvore e por fim, paga mais R$ 6,00 de impostos sobre Transportes de Produtos Florestal (TPF). Considerando os gastos médio por metro quadrado em torno de R$ 30,00, chega finalmente ao pátio da serraria onde revende o mesmo metro quadrado por R$ 60,00. Lucro de cem por cento.
Atravessador tem os melhores lucros
Como em qualquer outra atividade, existem os que lucram pouco trabalhando e os que ganham muito especulando, negociando, mentindo ou... roubando.
Nas serrarias as toras são transformadas em pranchas e revendidas para "o atravessador" por algo em torno de R$ 350,00 o metro quadrado. O desproporcional aumento de preços seria para compensar as perdas. Alegam ser necessário serrar quatro metros de madeira bruta para fazer um metro de madeira "prancheada".
Enfim, essa madeira sai do Acre, através de uma única firma de exportação, ou através da intermediação da Madeireira Floresta e entra no Estado de Rondônia, onde é vendida para o exportador por algo em torno de US$ 600 dólares. A partir desse ponto ninguém mais fala nada. Evitam fazer declarações que o levam direto a visão da Receita Federal.
Mogno praticamente extinto
Os preços aqui abordados se referem ao Cumaru Ferro. Espécie de madeira intermediária entre o Cedro e o Mogno. Em relação ao último, "Zé do Mogno" garante que está praticamente extinta. "Em oito meses que reviro as matas a procura de Cumaru e Cerejeira, só encontrei duas árvores de Mogno e ainda assim, não pude retirá-las por não dispor de licença do Ibama.
"A retirada do Mogno depende de uma autorização do Ibama informando sobre a viabilidade econômica e a quantidade de árvores da espécie existente naquela área. Sem isso, a exploração do Mogno é ilegal e se incorre em transgressão na Lei Ambiental. Ainda assim, existe o tráfico. A exploração ilegal e o contrabando.

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