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O instrumento amazônico que muda vidas

OECO Amazônia - http://www.oecoamazonia.com
Autor: Patricia Terra
18 de Mai de 2011

'Madeeeeeeeeeeeeeiraaaaaaaaaaaaaaaaaa....Pow!...' Sai de baixo! O som - um estrondo na consciência - incomoda ouvidos atentos à Amazônia. Perguntas reverberam no ar: que madeira é esta? Quem derruba esta árvore? Vai servir para que? E quem vive na floresta vai ganhar o quê com isto?

Incomodado com a má-utilização de recursos naturais e com a falta de alternativas para crianças e adolescentes vivendo em situação de risco, um educador pensou nesta madeira para criar a Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (OELA), na periferia de Manaus, há 13 anos. Em janeiro de 1998, o luthier Rubens Gomes, o Rubão, professor do Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas, decidiu morar na Zona Leste da cidade. "Queria 'sentir o barulho' de perto". Dois meses depois, plantava a semente, ensinando seu ofício milenar a 40 alunos de baixa renda em um curso básico de lutheria. Hoje, a iniciativa já contabiliza mais de 40 mil jovens atendidos, em uma orquestração de muita eficiência e bom gosto.

A derrubada de madeiras certificadas vem servindo para a fabricação de instrumentos musicais em uma escola feita para gerar emprego e renda para adolescentes da floresta. Eles saem da zona de risco social, onde impera a violência, e criam meios de levar arte ao mundo, em uma iniciativa inspirada na harmonia da natureza. A OELA só produz instrumentos com madeiras de espécies amazônicas, vindas de áreas de manejo florestal de baixo impacto e conta com a certificação socioambiental Forest Stewardship Council (FSC). Além disso, a escola ensina teoria musical, línguas e informática, formando mão-de-obra facilmente aproveitada.

Cada vez mais, o braço comercial da instituição, o atelier OELA, ganha força. O local, que completa um ano em julho, é destinado à produção de instrumentos musicais em pequena escala, onde egressos dos cursos trabalham de forma remunerada e a venda dos instrumentos aumenta a sustentabilidade do projeto. Há vendas também através do site www.oela.org.br.

E quem compra estes instrumentos? Muita gente. O primeiro violão de 13 cordas do mundo foi fabricado na OELA e pertence ao grande músico Aluisio Laurindo Jr. Lenine, Gilberto Gil e Nando Reis têm exemplares do violão clássico. E o diretor-artístico do boi-bumbá Garantido, Fred Góes, tem um instrumento cuatro venezuelano confeccionado pelos meninos da escola.

Nestes anos de história, a OELA formou 90 luthiers, sendo que alguns optaram pela música, como o ex-aluno e ex-professor Marcelo Valente, atualmente na Orquestra de Violões da Amazônia. Este ano, já se formaram 98 alunos em informática básica e avançada, 17 adolescentes e jovens estão estudando lutheria e 30 estão nas aulas de teoria musical.

Mais de 10 mil pessoas são afetadas direta ou indiretamente pela OELA, que desenvolve uma série de atividades para garantir a floresta viva para as futuras gerações. São três programas: educação, geração de renda e políticas públicas. Todos os alunos, independentemente do curso, participam de atividades de educação ambiental, oficinas, visitas e passeios. A comunidade é envolvida neste processo através de oficinas de sabão ecológico, reciclagem de papel e de garrafa pet, gerando renda extra para as famílias. Há ainda o Barco Escola Educador, que percorre comunidades ribeirinhas, levando cursos de capacitação em manejo florestal, para que as famílias usem os recursos da floresta sem degradá-la.

Como são fabricados os instrumentos

Nenhuma madeira que ainda possa crescer é colhida, de acordo com as regras do FSC. A matéria-prima para a fabricação de instrumentos é doada pela Mil Madeireira Itacoatiara - Precious Wood que só trabalha com madeiras certificadas.

A escolha das madeiras utilizadas na escola se deu através de parceria do luthier Rubens Gomes com o INPA, e as universidades federais do Amazonas e de Brasília, que organizaram grande pesquisa com inúmeras espécies amazônicas, fizeram testes físico-mecânicos e biológicos em relação à resistência, condutibilidade de som, elasticidade, dureza, resistência a pragas e aplicação em instrumentos musicais. Atualmente são usadas nos instrumentos as madeiras Marupá, Pau-Rainha, Muiracatiara, Preciosa, Coração de Negro e Breu-Branco, espécies nativas e sem grande valor comercial. Podem não ser as espécies ideais para um som perfeito, mas a OELA não utiliza madeiras em processo de extinção. Para fundos e laterais do violão clássico, o ideal seria o Jacarandá da Bahia; já para os tampos, o Pinho Europeu; para os braços, o Mogno e o Cedro Rosa, e para construir a escala e o cavalete, o Ébano é a espécie que mais dá resultados. Mas estas espécies, infelizmente, foram mal utilizadas no decorrer dos anos, e agora a torcida é para que continuem presentes, ainda que em pequena escala, na floresta amazônica.

Além da madeireira, a OELA é financiada pela instituição holandesa ICCO, a Fundação RSA, o FMDCA/Carrefour e Ashoka, entre outros. A instituição é reconhecida como utilidade pública municipal e estadual, já ganhou vários prêmios. Este mês, a escola amplia suas atividades educativas iniciando os trabalhos no Centro Esportivo de Referência do Amazonas, uma parceria com a Petrobras e o Ministério dos Esportes.

http://www.oecoamazonia.com/br/reportagens/brasil/214-o-instrumento-ama…

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