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O flagelo da Terra

FSP, Opinião, p. A2
Autor: SCHWARTSMAN, Hélio
11 de Fev de 2018

O flagelo da Terra
Embora atividade humana prejudique espécies, também faz com que surjam novas

Hélio Schwartsman
SÃO PAULO

O homem, flagelo da Terra, está destruindo a natureza em escala industrial e, com isso, provoca a sexta extinção em massa da história do planeta. É verdade? Provavelmente sim, mas essa não é toda a história, a crer no controverso "Inheritors of the Earth" (herdeiros da terra), de Chris D. Thomas.
Thomas, que leciona ecologia na Universidade de York, sustenta que, embora a atividade humana esteja levando ao desaparecimento de muitas espécies, também faz com que surjam novas, num número possivelmente maior do que as que se vão.
Se, com a destruição de florestas, a mudança climática, a acidificação dos oceanos, reduzimos o espaço ecológico para muitas espécies, ao transportar bichos e plantas para os mais diversos cantos do planeta lhes damos a oportunidade de se espalhar e se diferenciar da população original, empurrando a evolução. Até o aquecimento global, que é uma tremenda ameaça, pode fazer com que o número de espécies aumente, já que ecossistemas mais quentes tendem a ter mais diversidade.
Vejo um problema nos cálculos de Thomas. Ele só leva em conta a parte catalogada da biologia. Não dá para descartar a possibilidade de que, nas florestas tropicais ou no fundo dos oceanos, espécies das quais nunca tomamos conhecimento estejam sendo dizimadas sem compensação.
É verdade que estamos trocando grandes felinos e paquidermes, que dizem muito à nossa imaginação romântica, por novas espécies de pardais e ratos e das pulgas e piolhos a eles associados, mas a história do planeta é essa mesmo. Nas cinco extinções anteriores, foram os bichos grandes os que mais pereceram.
Não sei se constatar que a sexta grande extinção se faz acompanhar da sexta grande gênese é um consolo, mas o livro de Thomas serve para nos lembrar que o mundo, em especial o mundo biológico, é um lugar complexo, pouco compatível com nossas narrativas mais simplistas.

Hélio Schwartsman
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.

FSP, 11/02/2018, Opinião, p. A2

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2018/02/o-flagel…

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