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O fim dos aterros

O Globo, Opinião, p. 7
Autor: FERNANDES, Valéria
10 de Mai de 2010

O fim dos aterros

Valéria Fernandes

É impressionante como as autoridades ignoram completamente as tecnologias alternativas para tratamento de resíduos sólidos urbanos e continuam a apontar como solução os condenáveis aterros sanitários.

Com alguma frequência, a mídia vai buscar, no exterior, exemplos bem-sucedidos de opções implantadas que descartam completamente os aterros sanitários e tratam termicamente o lixo - depois de separados os recicláveis -, gerando energia elétrica com os gases. Os cientistas se manifestam constantemente contra os aterros, argumentando que, assim como os lixões a céu aberto, os aterros escondem perigos no subsolo. Eles emitem fluidos tóxicos ou venenosos.

Mesmo assim, quando o problema do destino do lixo vem à tona, nossas autoridades se justificam, dizendo que estão prestes a solucionar a questão "enterrando a sujeira". Isto é, ocupando um espaço absurdo, onde, por exemplo, os moradores do Morro do Bumba (o lixão que despencou na última tempestade em Niterói) poderiam construir casas "seguras". O GLOBO, em abril, mostrou novamente a opção pelos lixões e, novamente, como as autoridades apostam nos aterros.

Na mesma época, o "The New York Times" mostrou os avanços das usinas de tratamento térmico dos resíduos urbanos com geração de energia na Europa. A reportagem mostrou as vantagens financeira e ambiental da tecnologia. Na semana da tragédia em Niterói, o "Bom Dia Brasil", da TV Globo, mostrou uma usina no Japão que gera eletricidade com o lixo recolhido.

O Brasil possui tecnologias alternativas aos aterros - tratamento térmico, refinaria de biomassa, usinas de compostagem...Atualmente, todas essas opções disputam a aprovação de consórcios intermunicipais no país inteiro, mas nenhuma emplaca. As autoridades ainda acham mais fácil e mais barato implantar um aterro sanitário que, na maioria das vezes, demora cinco anos para ser preparado e dura no máximo 20 anos. É um problema anunciado.

Em São Paulo, no entanto, um grande passo foi dado, no final do ano passado, pela Secretaria de Meio Ambiente do estado. Ela estabeleceu diretrizes e condições para a operação e o licenciamento da atividade de tratamento térmico de resíduos sólidos urbanos em Usinas de Recuperação de Energia (URE). São usinas como as citadas nas reportagens, e como a que funciona, como modelo, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. Na justificativa, o secretário Francisco Graziano Neto lembrou que "a recuperação de energia a partir do tratamento térmico de resíduos sólidos foi listada como uma tecnologia mitigadora no enfrentamento do aquecimento global, e um mecanismo de desenvolvimento limpo pelo Comitê Executivo da Convenção Quadro da ONU - Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas".

Quem sabe, agora, o Brasil começa a desistir dos aterros.

Valéria Fernandes é jornalista.

O Globo, 10/05/2010, Opinião, p. 7

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